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Artigos-->WALDEMAR COUFAL, CRONISTA E MESTRE -- 02/09/2011 - 15:29 (LUIZ CARLOS LESSA VINHOLES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


WALDEMAR COUFAL, CRONISTA E MESTRE



 L. C. Vinholes



Agosto de 2008



Todos nós temos em nossas vidas um sol que nos ilumina e nos protege, que dá a luz da qual dependemos e que nos orienta no nosso dia a dia. Nos primeiros anos da década de 1950, conheci um outro sol que não era astro-rei mas que brilhava de maneira singular. Sol era pseudônimo, o nome de guerra do cronista polivalente Waldemar Coufal a quem tive o prazer de entregar o timão de meu barco nos primeiros anos de contato com as lides da imprensa.



O Sol de Coufal não tem nada a ver com grandeza, exibicionismo ou complexo algum mas sim com seu importante papel na educação e orientação de gerações unidas pelos interesses culturais em geral e pela música em particular. Sol, a nota da função dominante na tonalidade dó maior, quinta nota na escala musical, é o ápice da linguagem harmônica em uma cadência simples onde se concentra a maior tensão e que, depois de ter explorado as possibilidades expressivas, faculta a volta à nota tônica, dando lugar ao repouso e à conclusão da coisa dita. Coufal, com seus comentários e informações, primeiramente criava as condições de aprendizado para seu público para depois, no silêncio e no recolhimento, acreditar nos resultados gratificantes.



Conheci Coufal em encontros ocasionais nos recitais do Conservatório de Música que também freqüentei como aluno, nos concertos da Orquestra Sinfônica de Pelotas da qual fui copista e, geralmente no período da tarde, quando ele entrava no jornal rumo à sua sala de trabalho e eu, debruçado no balcão de atendimento do público, lia as últimas notícias e informações publicadas na Opinião Pública e no Diário Popular.



Inúmeras vezes, na saída dos eventos acima mencionados, tive ocasião de ouvir e trocar idéias com o experiente jornalista que há anos dominava a crônica social e a crítica musical da Princesa do Sul. Às vezes aqueles momentos foram enriquecidos com a participação dos amigos Francisco Dias da Costa Vidal, o Franco Villa então agrônomo e pianista; de Carlos Camoralli, dono de uma bela voz de tenor; de Carlos Alberto Mota, ao lado de Luiz Carlos Correia da Silva e João Carlos Tavares, mentor do Teatro Escola da época; e de tantos outros que freqüentavam o que havia de melhor no nosso mundo cultural.



Coufal, cuidadosamente, sabia fazer notícia registrando aniversários, batizados, casamentos e eventos de interesse da comunidade e era arguto quando comentava o que acontecia no campo da música e das artes. As crônicas sociais de Coufal eram de um estilo apreciado na época mas que, cada vez mais, não se vê nas páginas da nossa imprensa, fato este que ocorre à medida em que as cidades crescem e seu tecido social se modifica. É a metamorfose dos tempos. Por outro lado, quando escrevia sobre música abordava aspectos pertinentes à vida e à obra dos compositores, procurando transmitir informações úteis para elevar o patamar de conhecimento dos leitores em geral e dos aficionados em particular. Procurava sempre ver o lado positivo das interpretações e das habilidades técnicas dos intérpretes, relevando sempre eventuais deslizes ou resultados discutíveis.



Quantas vezes nas horas de folga, no final das tardes, e, esporadicamente, até alta noite freqüentei a sala do jornal ocupada por Coufal e com ele colaborava na redação de alguma matéria e revisão de provas de textos linotipados. Na realidade estava aprendendo. Não esqueço o dia em que, por sugestão do jornalista Michelarena e apoio de Coufal, me foi dado, no camburão da polícia, acompanhar o cabo Birôlho na busca e captura, nas Três Vendas, de um procurado por roubo na zona do mercado. Inexperiente e a contragosto cumpri a missão.



Mas logo as coisas mudaram para melhor e foi em 4 de março de 1952 que, tendo passado pelo crivo de Coufal meu texto poético Sombras e Saudades ocupou espaço nas páginas do A Opinião Pública, façanha que abriu o caminho para crônicas, críticas de música e poesias/poemas de minha autoria. Posso afirmar que foi pela mão de Coufal que fui acolhido nos dois mais tradicionais órgãos da imprensa pelotense. Em outras palavras, fui membro do corpo discente da escola de jornalismo que, discreta e informalmente, Coufal mantinha nas dependências da Rua 15 de Novembro.



Embora nossa marcante afinidade, talvez o respeito que sempre nutri por este amigo me impedia de indagar sua origem e conhecer melhor seu passado. Cumpre registrar que em 1953, na minha passagem por Porto Alegre rumo aos meus estudos em São Paulo, li notícia relativa ao Educandário São João Batista fundado pela família da senhora Déa César Coufal, visando dar melhores condições de vida e minimizar os sofrimentos das crianças vítimas da poliomielite. Hoje pergunto: qual seria a relação dela com aquele que com seus cabelos grisalhos, sua modéstia no vestir, sua cordialidade inata e sua fisionomia serena e cativante justificava o porquê de ter sido tão apreciado e querido pelos seus leitores e por todos os que tiveram a sorte de serem seus contemporâneos? Resposta que ainda falta.



Nos tempos de nossa convivência ele foi sempre para mim o doutor Coufal e só este mais-de-meio-século que nos separa e o desejo de lembrá-lo apenas como amigo, com inexorável admiração mas sem cerimônia e formalidade, leva-me aqui a chamá-lo apenas por Coufal.



 



 



  


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