Uma palavra me basta:
Asa... E logo penso voar
Pra longe deste lugar
Onde me prendo sem querer
Ao hábito de ter casa
Entre a návoa que me arrasa
O esplendor de viver.
Janela, porta e chave,
Um quarto, quatro paredes,
A taça das minhas sedes,
Tudo é submissão,
Palavra, afirmo, estou farto
De ver o mesmo restrato
Sorrir-me na solidão.
Asa... Elá vou eu pelo ar
Deixando ficar meu corpo
Neste inóspito conforto
Que me algema e agrilheta,
Preso a fingir liberdade,
Carcereiro da saudade
A vigiar um poeta.
'Um poeta ou petisa
Agora o que serão
Em face da exaustão
Das fontes de poesia?'
Li isto em qualquer lado
Porque um poeta danado
Sem asa escreveu asia.
Asa chega, chega bem
E se por fé me juntar
À tua e for voar
Mão na mão no universo,
Talvez em duas palavras:
Tu e eu, sílabas amargas,
Nos adocemos num verso!
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