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Erotico-->26. PASSO IMPORTANTE -- 24/12/2002 - 07:40 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

— Querido amigo, sonhei que estava na hora de você partir. Não sei se me alegro ou me entristeço. Por mim, não me separaria jamais. Que há de verdade nessa premonição?

— Não depende de mim, mas de seu adiantamento.

— Então, vai demorar muito, já que, ainda ontem, estava desequilibrado, absolutamente desorientado quanto a que fazer.

— Mas também temos conversado a respeito da relatividade do tempo.

— Como assim? Será que podemos pular etapas, alcançando progredir mais rapidamente?

— Condensando o tempo, os mentores puderam fazer os alunos se compenetrarem dos temas. Não saltaram nada, porque, segundo a cartilha...

— ... a natureza não dá saltos.

— “Natura non facit saltus.” Isso não vale apenas para o mundo físico. Aliás, por falar em matéria, vamos levantar hipótese de trabalho. Responda-me, depois de refletir a respeito de seus alunos no orbe: aprendiam todos no mesmo ritmo?

A força do hábito ia levando-me a responder que não, simplesmente. Mas percebi que a pergunta poderia conter aspecto capcioso. O ritmo poderia cotejar-se consigo mesmo, ou seja, cada aluno aprenderia sempre de acordo com a própria desenvoltura intelectual. Fui, portanto, um pouco mais longe:

— Se comparados entre si, apresentavam desempenhos muito diferentes. Havia os mais lentos e os mais rápidos. Entretanto, cotejados com o rendimento habitual, seguiam o padrão a que se determinavam desde o início.

Honorato, contrariando os hábitos, sorriu, indicando a fragilidade da resposta. E espicaçou:

— Conhece você, por certo, a lenda a respeito do “estalo” do Padre Vieira?

— Dizem que era estúpido. Um dia, ajoelhou-se e rogou por inteligência. Fê-lo com tanta devoção que, a partir daí, passou a compreender todos os problemas que lhe fossem apresentados. Se está sugerindo que havia alunos que me surpreendiam, de um momento para outro respondendo a estímulos para os quais não havia interesse anterior, está perfeitamente certo. Lembro-me de alguns que, perante a reprovação iminente, punham-se a estudar e logravam evidenciar condições de prosseguirem na série seguinte. Em compensação, outros decaíam por razões pessoais, como morte na família, economia devastada, apego às drogas alucinógenas, separação dos pais, desarranjos menstruais ao início da ovulação etc.

— O quadro está bem formulado. Mas vamos esquecer os aspectos exteriores, os fatores extrínsecos. Vamos pensar no que se passa no cérebro das pessoas. Não é verdade que o crescimento intelectual se dá “pari passu” com o crescimento físico, com quase total correspondência? Sabe por que isso ocorre? É que as partes do cérebro, ao crescerem, passam a se comunicar através de contacto mais estreito. Há infiltrações físico-químicas, há descargas elétricas do magnetismo humano que favorecem o intercâmbio de informações internas. Os neurônios ganham maior mobilidade...

Quis interromper meu avô, pois os conhecimentos dos mecanismos do cérebro não me permitiam “visualizar” as transformações morfológicas:

— Querido mentor, mais devagar, por favor. O meu cérebro ainda não efetuou todas as conexões, para entender esse palavreado novo.

— Digamos que, para bom entendedor, o que disse basta. De resto, quem está verdadeiramente capacitado a compreender todas as circunvoluções do cérebro humano? A ciência na Terra está bem pouco avançada nesse campo. E nós, neste início de aprendizagem, só podemos obter uns poucos rudimentos. Contudo, suficientes para a exemplificação que pretendia.

— Posso resumir, para ver se entendi?

— Vamos lá.

— Assim que a criança tem a cabeça aumentada, os miolos também se desenvolvem e conseguem entrelaçar os campos energéticos, transmitindo informações de um lado para outro. Desse modo, de repente, o que não sabia executar num dia, no seguinte o faz com pleno domínio. Num dia, não sabia caminhar. No outro, se solta. Num dia, não falava. No outro, articula os sons. O que parecia impossível antes, depois se torna natural. E se não apresenta o resultado desejado pelos pais, vai parecer retardada. Mostra-se competente de súbito? Merece louvores de gênio. O tempo não avançou.; parece mais ter sido comprimido. Quando demora o aprendizado, o tempo dá mostras de ter sido esticado.

— Se você for escrever este diálogo nos anais da turma, por favor, não se esqueça de dizer que as expressões são francamente populares, sem nenhum rigor científico. Não servem sequer para divulgação entre os mortais menos capacitados, tão materializada está a concepção. Porém, “mutatis mutandis”, acertando o que se deve acertar, está claro que você entendeu a explicação.

Fiquei muito contente pelo elogio, no gesto amorável com que me abraçou.

— Honorato, por favor, esclareça-me o relacionamento do exemplo no mundo físico com a minha atual situação. Pelo que imagino, não tenho conexões mentais para realizar.

— Aí é que você se engana. Todo crescimento, no plano da espiritualidade, decorre de vinculações morais entre os diferentes setores que compõem ou que formam os indivíduos. Quando se aprende que o amor é a estrada que conduz a Deus, imediatamente, a consciência rastreia, como a memória de um computador, todos os fatos registrados em desarmonia com o conceito novo. E a vontade vai empenhar-se para não mais reproduzi-los. Dá-se a transformação globalizada. Mais para a frente, você irá aprender que o mesmo processo ocorre no âmbito dos grupos de seres de mesma freqüência. Daqui a importância do crescimento espiritual conjunto, porque solidário.

Olhei firmemente Honorato dentro dos olhos. Queria ler a mensagem implícita. Desconfiei de que as lições estariam chegando ao fim. Dali por diante, os acréscimos se disporiam no campo dos conhecimentos. A aplicação não poderia mais depender dos estímulos extrínsecos. Adquirira a noção essencial de que o progresso dependeria dos esforços que aplicasse na descoberta da verdade, qualquer fosse o campo em que me enfronhasse. Bastava restringir as comoções, para não afetar o desenvolvimento da aprendizagem. Rigorosamente, estava dispensando a câmara de reflexões e disse-o, sem rebuços:

— Caro avô, deu-me o estalo de Vieira. Cedo-lhe o tempo para usar na causa de outros necessitados. Não vou dispensá-lo de vez, que não cabe a mim fazê-lo. Mas, se quiser ir, sinto-me conformado. Penso que o gabinete das meditações só poderá servir-me para irradiação mnemônica, com a finalidade de filtrar os acontecimentos a serem examinados friamente. Terei crescido de repente? Acho que não. Sozinho, estaria sofrendo as agruras do báratro. Tudo lhe devo no campo evolutivo. Muito obrigado. Que Deus lhe pague!

Honorato não se deixou embalar por emoções. Sabia em que terreno estava pisando e respondeu-me, como se esperasse a exposição entusiástica:

— Tantas vezes lhe recomendei que não tivesse pressa, observando que, quanto mais devagar, mais rapidamente chegaria. Tudo o que disse você sobre as transformações por que tem passado é absolutamente verdadeiro. Por que, então, não irá ocorrer o que está esperando, ou seja, a minha partida, para cuidar de pessoas mais necessitadas? Porque, meu filho, você não deveria ter dito nada. Deveria ter transmitido mente a mente, com sentimento real de contrição perante a misericórdia divina. No seu sonho, faltava o símbolo religioso. Se tivesse agradecido primeiro ao Pai e depois a este humílimo protetor, despojado dessa incontida verborragia, teria tido tempo (disse “tempo” como se estivesse dizendo o termo mais sagrado do mundo) para perceber a sutileza da vibração mística.

Não estava suscetível a sermões. Tomei a reprimenda como outra das lições supremas de quem se despede. Mas calei-me. Mentalmente, pedi-lhe ajuda para alcançar o benefício do entendimento sublime da noção superior. Não queria desperdiçar a valiosíssima oportunidade. Sabia que Honorato desejava condensar as informações, para que me visse, de um momento para outro, “despojado da incontida verborragia”. Se fosse esperto, íntegro, verdadeiro, honesto, puro, sentimentalmente equilibrado, intelectualmente avançado, moralmente capacitado, espiritualmente sereno, religiosamente confiante, iria preparar-me, naquele justo momento, para receber a notícia alvissareira.

— Roberto, meu filho, você está em condições de prosseguir sozinho. Fique com Deus!

Ajoelhamos compungidos e oramos com muita devoção, agradecendo ao Pai. Honorato nada disse em voz alta. Nem precisava. Nossos pensamentos se entrelaçavam, vibrando no mesmo diapasão, na mesma freqüência de ondas. Pela primeira vez, captava plenamente, inteligivelmente, a mensagem codificada através do fluxo cósmico, sem necessidade de palavras, de linguagem. Não chorei, nem sorri. Admitia a verdade do universo como imanente nas ações de quem se coaduna com as leis e mandamentos evangélicos. Pedi perdão por me julgar tão evoluído e reconheci que não sabia coisa alguma. E fiz a solene promessa de amparar todas as pessoas que havia ofendido.

Quando terminamos a prece, abraçamo-nos de novo. Honorato arrematou:

— Não se esqueça de que Mário lhe passou um dever. Cumpra-o.

E se afastou, lentamente, como se perlustrasse o caminho róseo, em busca do reino de Deus.

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