O mundo é uma Rua, já entrou no ocaso e a penumbra o cerca. Olho em volta e vejo pessoas sorrindo; mas não riem por serem felizes: é a grotesca ilusão da materialidade a que se prendem suas vidas o único motivo do seu farto gargalhar. Por isso não percebem que esse mundo geme em dores.
Aprendi muito com essas pessoas; elas se julgam imunes, e de fato o são, aos sofrimentos de um homem que não consegue compreender como alguns têm tanto e poucos nada têm. Como alguns circulam em suas confortáveis carruagens sem perceber o homem cego-aleijado-inerte ao lado que lhes pede esmola, a mulher mal vestida, mal cheirosa, com uma criança no colo a pedir-lhes ajuda.
Isso tudo é muito acachapante. Destrói a sensação de ser a realidade toda minha e de poder eu mudá-la, moldá-la à imagem e semelhança dos meus sonhos.
Os que estão à deriva nessa existência não percebem sua desprezível maneira de ser e estar aqui, como que apenas incorporados à paisagem que afronta os olhos, não sendo distinguíveis de uma árvore ou de um cachorro ao qual enxotam do meio da Rua os que se julgam seus donos.