DESCULPE, ANDRÉ GIDE.
“O artista deve, não contar a sua vida como a viveu, mas vivê-la da forma como a há-de contar.” (André Gide, 1869-1951)
Desculpe, André Gide, escritor que admiro. Mas, como artista das letras, discordo de você...
Ao viver minha vida, em nenhum momento pensava em um dia contá-la. Não conhecia esta sua palavra. Se a conhecesse e tentasse segui-la, certamente não teria vivido como a vivi, espontânea e livremente. E, hoje, envergonhada, não a contaria. Pois que a vida não nos é dada com bula ou receita. Por isso, ela não deve ser preparada de antemão, como se prepara um espetáculo a ser apresentado. Meus caminhos, eu os tracei e os segui, sempre muito livre, muito solta, resolvendo sozinha cada rumo, a cada encruzilhada. Nunca me preocupei com o efeito que teria minha vida para quem quer que seja. E o que vivi, tanto erros como acertos, carrega a marca da minha escolha. Por isso eu conto hoje, sem medo de ser verdadeira, os fatos que marcaram minha vida e cujo resultado sou eu, eu-inteira, não um ser perfeito como tudo que é cuidadosamente preparado.
Disso tiro uma lição: uma frase, um pensamento, uma afirmação seja de quem for, é sempre uma opinião, nunca uma verdade acabada. Este Ensaio também o é.
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