Usina de Letras
Usina de Letras
100 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62191 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22534)

Discursos (3238)

Ensaios - (10352)

Erótico (13567)

Frases (50598)

Humor (20028)

Infantil (5426)

Infanto Juvenil (4759)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140793)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6185)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cronicas-->o vendedor de bombons -- 19/08/2002 - 14:09 (Clóvis Luz da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O menino sujo, quase maltrapilho, pediu licença e subiu no ónibus pra vender balas. Coisa comum nos grandes centros. Apesar da lei municipal que proíbe a presença de vendedores dentro dos coletivos, os motoristas de Belém não dão bola pros ditames legais, infringindo de uma só vez três deles: a lei citada, o tal Estatuto da Criança e do Adolescente e o maior deles, a Constituição Federal, todos contrários ao trabalho infantil.

É claro que nem todos os adultos daquele ónibus julgaram banal um fato que é trágico. Nem todos os presentes à cena, aliás. Eu que vos escrevo essa crónica e uma criança acompanhada dos pais fomos os únicos que sentimos um aperto no coração por vermos um menino de seus sete anos fora da escola vendendo bombom pra ajudar a família. Digo isso sem medo de estar sendo um hipócrita ou um autopresumidohípersensível aos problemas sociais.

Foi a indiferença de todos os adultos que me fez ficar bem atento a todos os passos daquele menino.

Assim que ele chegou perto de mim, percebi que um outro menino, brincando com os pais, parou, como que espantado com a cena. Por uns instantes ele não mais falava com os pais, nem sorria pra eles em resposta às suas brincadeiras. Seus olhos, grandes e curiosos, fixaram-se naquele frágil menino pedindo licença também aos passageiros, entregando-lhes as balas para em seguida solicitar que o ajudassem naquele "trabalho".

Nessas horas sempre me pega de súbito uma crise de consciência. Sei que aquele menino estava no local errado, na hora errada, fazendo o que não devia. Tudo bem que em outros locais e horas impróprias há outras crianças que estão cheirando cola, roubando e até matando. Aquela ali estava "trabalhando"; por que então eu não a ajudo, comprando seus bombons? Não comprei...

Talvez com as mesmas angústias que me afligiam, ainda que sem saber materializá-las em pensamentos, a criança que iria, sei lá, à feira de ciência de sua escola, ou ao museu de artes de Belém, parecia não entender como aquela outra podia estar dentro de um ónibus, sem os pais, vendendo bombons? Como uma criança poderia estar tão mal vestida, com aparência de fome, e mesmo assim não ser percebida pelos adultos daquele ónibus?

Duas crianças vivendo em mundos diferentes. Pareciam seres de espécies distintas, que naquela hora se espantavam com a presença do outro. A diferença é que entre elas não havia clima de disputa. Um não queria ser melhor que o outro. Ou melhor, um não se sentia melhor que o outro, tanto que, pelo espanto do rosto, a crinça de casa queria até que seus pais dessem àquele menino de rua um pouco da atenção e carinho. É claro que é difícil sensibilizar os adultos para o drama das crianças que estão fora da escola, aprendendo nas ruas lições que vão afastá-las de momentos tão sublimes quanto os vividos por outras que, perto do carinho dos pais, têm consciência de que nunca precisarão vender balas, ou melhor, pedir esmolas dentro dos ónibus.

O que me chamou a atenção no episódio foi que, talvez pela inocência que a impeliu a ser solidária com um semelhante, a criança acompanhada dos pais pediu que estes comprassem bombons...Ou quem sabe, sem inocência, foi uma estratégia para se aproximar daquele menino, já que em outras circunstàncias os pais provavelmente lhe aconselhariam a não ter nenhum relacionamento com meninos de rua.

Aliás, qual a distància entre os meninos de casa e os meninos de rua?
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui