A ALIENAÇÃO E SUA CURA
Como muitas das coisas certas que seu Carlos, o português, disse-me: “aqui no Brasil o errado está certo e o certo está errado”. Refiro-me aqui a inacreditável alienação de noventa por cento do povo brasileiro, que não tem a mínima preocupação com a política (traduza-se aqui leis e regulamentos que regem a vida dos cidadões em um determinado território) do seu país, nem consciência de sua própria localização como classe (trabalhador, burguês, esplorador, etec..) e às vezes, nem geográfica. Não sabe que é latino.
Homens e mulheres estão nesse rodo. Aos tupiniquins interessa apenas o sexo, a corrupção e o futebol. Nossa, como eles entendem de futebol! Discutem horas no trabalho, nas ruas, nos estádios, em casa com a mulher, organizam-se em torcidas e muito machos vão ver seu time jogar, vinte e dois homens correndo atrás da bola; vinte e quatro, se contarmos juiz e bandeirinha; afinal, se o seu time de coração ganhar, seu salário (se ele tiver emprego aumenta), os indicativos de saúde publica melhoram, o sistema social progride; enquanto isso, os jogadores (a maioria) que mal sabem articular algumas sílabas, se enfiam em mansões na Barra da Tijuca com o dinheiro que os manés pagam a Romários, Edmundos, etec... E somos todos espertos, que beleza!
Eu também já fui “experto”, mais do que vocês! Torcia pelo América, ia aos jogos e gritava junto com mais meia-duzia: Sangue! Sangue! Hoje, graças a Deus, curei-me! Meu time agora é meu trabalho, mulher (quando tenho), as condições da previdência social para minha velhice, a América-Latina e os países subdesenvolvidos como um todo! Também presto atenção na história do meu país, desde a Carta de Pero Vaz até hoje e estudo os vários sistemas políticos possíveis, além da minha literatura (do meu país).
As mulheres acham o máximo serem alienadas. Tenho pavor de mulher burra! Acho-as feia, porque a burrice é feia! O desinteresse pela cultura superior ou então o esnobismo acadêmico que passa longe do entendimento popular; o interesse somente mercantil sobre a vida é de uma vileza sem par; nosso país, oitenta por cento de tecnicamente analfabetos, inclusive os oligarcas que ocupam cargos no distrito federal.
Pobre Brasil, se perder a copa! Porque nos sentiremos pequenos!
Pobre Brasil, se ganhar a copa! Porque nos sentiremos grandes!
Mesmo que sobrem os desempregados, sem tetos, sem terra, maltrapilhos, vendedores de bujigandas, aposentados esmolentos, professoras que tem que ensinar que Cabral descobriu o Brasil (ele colonizou, já tinha gente aqui, né?).
Essa gente desconhece que o Brasil tem poderes executivo, legislativo e judiciário; que o presidente não pode tudo sem o congresso e o senado e vice-versa! Essa gente vota em ricaços que os exploram, deixando os partidos populares lá embaixo; vêem novelas insípidas e programas de auditório ridículos e não se importam com política, mesmo que não tenham nenhum futuro com o atual estado de coisas.
Mas ... o carnaval?.... Gente, do jeito que anda a coisa, nem o povo tem mais direito de sambar em paz, posto que as dondocas emergentes ocupam o espaço das legítimas sambistas das comunidades (favelas).
Alienação política, espiritual, humana, seja ela qual for é defeito e grave!
Até um cavalo sabe aonde fica seu pasto e seu capim, e o que realmente é importante pra ele.
Como dizia Lobato: um país se faz com homens e livros! Bola é coisa de boyola!
Sugiro como terapia da loucura coletiva do Brasil, a leitura dos versos de Drumond, a observação da ginástica olímpica e o estudo da Constituição, antes que acabem com ela no próximo gol do Romário!
07/02/2002
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