Coitado do meu gato! Dia desses quase morreu eletrocutado na cerca elétrica da vizinha.
É um gato pacato, que só quer da vida passear pela madrugada e dormir o resto do dia em uma cama macia. Gato de cidade grande que não pode andar despreocupado pelos telhados.
É uma vítima inocente dos perigos que nos rondam e geram essa neurose em cadeia; um mundo de grades, cercas, alarmes, mil trancas, lanças, onde sonha-se jardins sem muros, portas abertas, crianças preocupadas em apenas ser
crianças.Ironicamente, somos nós os encarcerados; nós, enclausurados, cercados de armadilhas que nos transmitem sensação de segurança. Minha vizinha e outros nos arredores que estiveram sob a mira de uma arma, se armaram desses artifícios. Em nossa casa, optamos pelo alarme, muros altos, serviço de vigilância, seguro residencial, do auto e de vida. Para a felicidade dos gatos da vizinhança - e do meu, que já está escaldado - procuramos viver sem grades ou cercas. Vejo a vida da sacada sem me sentir acuada, livre como os pássaros que cantam despertando a cidade e nos atentam para a importância da liberdade.
Um amigo meu, Dirceu Walter Ramos, já escreveu em 'Futuro':
'Queremos o mesmo futuro
que a imaginação previu
jardins no lugar dos muros
pipas além dos fios.'
Assino embaixo e complemento, no 'Futuro' que invento para nós:
'Queremos viver ao ar livre
caminhar nas madrugadas (mãos dadas)
e não janelas gradeadas...
Não cometemos crime algum
que a liberdade nos prive!'.
Por sorte, foi só um susto o choque do gato; chamuscou o bigode, tomou um tranco e tanto e aprendeu uma lição: que em terra de ladrão, gato desavisado sofre no couro o que é destinado ao gatuno.
Acho que o ditado é correto, gato tem mesmo sete vidas, senão, andando por aí à esmo, já teria virado torresmo.
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Valéria Tarelho
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