SILENTE COMUNHÃO
J.B.Xavier e Fernanda Guimarães
...E assim, deixei-me deslizar
Para os vórtices de tuas vontades...
Teci, com os fios da tua emoção,
Caminhos para que minhas mãos
Descobrissem os matizes do amor...
Deixei-me abandonar ao acaso de tuas aventuras,
Sendo mais uma de tuas loucuras,
Enquanto esculpias no abismo dos teus olhos
O silêncio do amor há tanto aguardado,
Soletrando-me a doçura dos teus mistérios
Ainda trêmulos na emoção da entrega,
Como se possível fosse calar
A voz do teu peito que arfava com o silêncio
Da eternidade em que me pertencias...
E flutuei em teu universo de sonhos,
Sendo mais um dos teus anseios,
Mais um dos teus devaneios,
Curvando-me ao imponderável que sempre nos uniu
Nesta sede de amor em que nos mitigávamos...
Fui a chama e as fagulhas
Dessa abençoada fogueira que te consumia...
Fui a madrugada insone
Onde a noite sussurrava mistérios para a lua,
Onde alma e corpo se entregavam em silente comunhão...
Sucumbi ao convite de tuas carícias
E em tuas mãos, deixei meus desejos despidos...
Fui malícias, sacrários e blasfêmias,
Onde tu depositavas lágrimas e alegrias...
Fui alguns dos teus longos dias
De espera agonizante,
Doces malvasias
Desse vinho espumante
Com que já brindavas à minha rendição...
Hoje, respiro-te em cada hausto de meu peito,
Em cada onda que quebra à beira mar,
Em cada fim de tarde, em cada luar
Que se espraia na baía...
Sinto-te em cada brisa que me afaga a pele,
Descobrindo-me para além de mim e do que revelo
Em cada momento dos tantos que foram nossos...
E é na paz de um sublime amanhecer,
Quando escuto o encontrar de nossas mãos
Que mais mergulho na calma
De - de alma e corpo - inteiramente te pertencer...
* * *
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