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Cronicas-->Pequenas histórias da orla dos bichinhos corruptos -- 17/08/2002 - 11:36 (Rodrigo Contrera) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Por Rodrigo Contrera

JOÃO PESSOA - A Cris e eu desembarcamos em Recife mas preferimos rumar a João Pessoa, onde reservamos alguns dias de descanso. Pousada em Tambaú, próxima de tudo mas discreta.

Comparada com Recife, João Pessoa mal existe. Estende-se para os lados, seguindo o litoral, e para o centro, onde descansam os tempos idos. Dizem haver apenas 500 mil almas na cidade.

As caminhonetes dominam a velocidade. Quase sem semáforos, é preciso andar com cuidado. Carros de som eleitorais empesteiam a orla. Poucos outdoors de candidatos a presidente, muitos a governador, a federal e mesmo estadual.

Próximas a favelas, lombadas eletrónicas cassam o dinheiro dos desatinados. 500 paus de multa por passar a 50km/h em lombada de 30km/h. Taxista informa que a lombada é criação do mesmo sujeito que segredou a ACM os votos do Senado.

10 horas da manhã, poucas vivalmas saracoteiam a orla. Água espumante, areia límpida. À beira-mar, deparo-me com clássico em francês sobre o litoral carioca em livraria conectada à internet (Radar). 3 reais.

Sebastião Matias vende-me duas esculturas em madeira, uma antropo-pornográfica, outra uma coruja para minha mãe. A coruja mais parece um morcego, a escultura tem um pênis embalado por uma mão.

Daniel e amigos passam o dia vendendo ceràmicas em frente à Torre do Farol. Compro-lhe um Padre Cícero, em quem ele acredita. Prometo-lhe a foto impressa. Algo me irrita no Frei Damião.

Siris mortos e fedorentos adornam a tenda do sujeito que os vende como adornos. São precisos meses a fio para tirar o fedor do bicho feio.

O almoço no Bargaço passa-se em meio a gritos de políticos locais. Lugar lindo, preços adequados para gente do sul, proibitivos para gente local. O almoço transcorre enquanto mulher chega para oferecer seus serviços. Deixa o currículo.

Todo suco regional precisa ser falsificado para existir como opção nas mesas. Basta beber uma acerola natural para ver que nem cor nem sabor batem nem de longe. A mangaba e o cajá estimulam, pergunto-me como seriam de verdade.

O mesmo taxista conta que certo dia, há 8 anos, um sujeito decide sequestrar a mulher para embolsar o resgate da família. Os PMs contratados matam a mulher para pegar o dinheiro do seguro do carro. O sujeito é condenado. Passam-se alguns meses, é visto na rua. Vai em cana de novo, sai de novo de fininho$. Um dia chegam dois sujeitos numa moto, dois tecos na cara. Eram da família da esposa.

Paramos na rua para ouvir dupla repentista. As violas gastas usam cordas bem finas. Demoram doze versos para declamarem seus preços. Passar bem, eles riem.

Sujeito poderoso aterra um rio, é condenado pela Justiça a construir um muro e botar um monte de postes na avenida. O muro não presta e os postes lhe são fonte segura de grana.

Conto as histórias, no vóo de volta, a uma garota pobre que fora visitar a terra natal (Picuí-PB). Ela sorri. Sabe bem mais que eu, que todos. Quem sabe, cala.

As recepcionistas da pousada devem estar, agora mesmo, assistindo tv. À noite, a pedida de sempre é o Datena. Dizem que São Paulo deve ser muito violenta, mesmo.

Pessoal simpático, esse de Recife.

© Rodrigo Contrera, 2002.
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