Não admito ser chamado de ingênuo, ou de um incurável ingênuo, por quem, certo de estar no extremo oposto, a inexpugnável lucidez, não consegue perceber o quão pueril e fantasiosa é a sua descoberta de uma continental revolução comunista engendrada às escuras pela sociedade diabólica entre Hugo Chaves, Fidel Castro, as FARC e a esquerda brasileira, estando no papel de financiadores desse malígno conluio os narcotraficantes.
Quem conseguiu “perceber” esse complô infernal, um típico festim diabólico à Hitchcock, foi o filósofo Olavo de Carvalho. O Único ponto obscuro em suas autodenominadas definitivas e incontestáveis afirmações sobre esse complô comunista em curso na América Latina é a não declaração de como os revolucionários conseguirão, a fim de lograr êxito em sua gloriosa campanha, o apoio ideológico e material, seja da população, seja das Forças Armadas. Não é simplória tal dúvida, pois sem o concurso, ou melhor, sem o apoio da massa popular, sem a anuência de uma coletividade decidida a explodir os miolos dos ricos desse país, à semelhança dos que na Rússia de 1917, os camponeses, juntaram-se aos bolcheviques, sem as armas e o seu fogo consumidor sob o domínio dos militares brasileiros, os quais abominam a idéia de uma revolução comunista, sem a interferência dos EUA, cuja mínima desconfiança de uma possível marcha rumo ao comunismo os faz erguer as sobrancelhas e abrir os cofres em ajuda aos povos em perigo, vide Vietnã, Coréia, etc., sem que esse cenário acima se configure, e pelo que indica a razão nem em quinhentos anos poderá ele suceder, como se dará essa revolução continental comunista?
O Sr. Olavo de Carvalho não consegue disfarçar sua própria insensatez ao evidenciar a obsessão em manter coerente uma luta mental contra um inimigo sob todos os aspectos indefeso, pois inexistente. Quem sabe, no fim de seus dias, ele descubra o quanto foi ingênuo, não diria louco, ao perceber que se entregou sem reservas a combater uma ilusão, dando socos no vento, à semelhança de Don Quixote, cuja existência encontrou sentido na luta contra os moinhos de vento. O comunismo se transformou nos moinhos de vento de Olavo!
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