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Ensaios-->A Filosofia do Divino Marquês -- 09/01/2002 - 18:29 (Taitson Alberto Leal dos Santos) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


A Filosofia do Divino Marquês *


“Se nós admiramos Sade, nós adoçamos seu pensamento. Na verdade, em si mesmo,
falar de Sade é inevitavelmente paradoxal” (Georges Bataille)



A Ética vigente, segundo Platão e Aristóteles, está fundada num conhecimento de si, “sabe-se” o que é o Bem e aplicam-no a todos indiscriminadamente, dotando-o de universalidade. Entendemos que Nietzsche repudia esta Moral e conclama uma Ética fundada no cuidado de si, onde o indivíduo e somente ele, sabe o que é Bom, criando desta forma seus próprios valores; rejeita-se a idéia de Bem e Mal e instaura-se o Bom e o Ruim; entretanto, não mais como idéia universal, mas como ação, pois o homem não precisa saber, precisa agir. É somente pelo corpo que se pode fazer esta afirmação, pois ele é a grande razão da existência.

Sade (1740-1814), anteriormente a Nietzsche, entende que o que move a ação do indivíduo é o bom e o ruim. O bom, em Sade, é tudo o que causa prazer ao indivíduo, ao passo que o ruim não é entendido como o que causa desprazer, mas antes o que vai de encontro à Natureza. A essência desse bom 'é uma inversão de valores que visa, em última instância, transformar seu mundo em outro que ele acreditava melhor' (A. C. Borges).

Vivendo em um cenário de revolução, Sade vai de encontro à nobreza e aos ideais republicanos da burguesia, noutras palavras, propõe a revolução da Revolução. Ao contrário dos republicanos Sade não crê que este novo sistema de governo traga a liberdade ao povo, somente o aprisiona inda mais nas cadeias legais. É na Filosofia na Alcova que encontramos o panfleto 'Franceses, mais um esforço se quereis ser republicanos', texto no qual o Marquês ilustra de forma bastante clara seu Estado; neste Estado o que predomina são os excessos, as orgias, o crime e etc., sempre tendo como fim último o prazer. Nas palavras do Marquês: 'Não há limites aos teus prazeres senão os de tuas forças ou os de tuas vontades'. Em Sade, as ações devem sempre ser direcionadas ao prazer, esquecendo-se da moral e das virtudes religiosas tradicionais, vigentes no cenário do Século XVIII, que impedem os excessos.

Segundo Sade, as virtudes, calcadas na moral religiosa, são contra a Natureza Humana, impedindo-a de ser feliz. Sade constrói uma filosofia em que o incesto, o assassinato, o roubo e os excessos libertinos são fundamentados na Natureza. Conforme Augusto Contador Borges, 'a natureza é um princípio criador onisciente, que tem metas traçadas para as suas criações. Ocupa, portanto, o lugar de Deus. A natureza, em Sade, é deus destituído de divindade'.

Ora, sendo natural, por que assim não o somos? A resposta do Divino Marquês é que nunca deixamos de seguir nosso impulsos naturais, entretanto, somos como que forçados a todo instante a controlá-los e impedi-los. Isso se deve ao fato do homem ter optado por seguir a um Ser onipotente e onisciente e Seus mandamentos. Destas leis metafísicas universais surgem as virtudes, que tendem a impedir os excessos naturais ao homem, afastando-o da Natureza. Diz o Marquês: 'Haverá algum sacrifício feito a essas falsas divindades que valha um só minuto dos prazeres que sentimos ultrajando-as? Ora, a virtude não passa de uma quimera cujo culto consiste em imolações perpétuas, em inúmeras revoltas contra as inspirações do temperamento. Serão naturais tais movimentos? Aconselhará a natureza o que a ultraja?'.

Sade é veemente contra a moral sufocante de sua época e pretende, por isso, criar uma nova moral em que somente os excessos são permitidos, sem qualquer virtude ou religião que permeiem a ação individual: o fim de cada ação será o prazer. “Eu atesto isto por tê-lo visto” (Sade).


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Taitson Alberto Leal dos Santos é graduado em Filosofia pela UNIMEP e participante na pesquisa “O Conceito Sartreano de Liberdade: uma leitura de O Ser e o Nada”, pelo CNPq (2000-2001) e autor da Monografia “A Ética Libertina Sob as Sombras dos Espelhos Alcoviteiros Sadianos” pela FAPESP (2001).


taitson_santos@hotmail.com
taitson@zipmail.com.br



* Texto publicado em 'A Tribuna Piracicabana' - 30/03/2001.


PS: Para uma breve apreciação da literatura do Marquês de Sade sugiro uma visita ao site: http://putrefacao.vila.bol.com.br


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