Usina de Letras
Usina de Letras
178 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62265 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10450)

Cronicas (22539)

Discursos (3239)

Ensaios - (10379)

Erótico (13571)

Frases (50654)

Humor (20039)

Infantil (5450)

Infanto Juvenil (4776)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140816)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6203)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->Mulherdaseis -- 03/06/2001 - 20:36 (Bruno Freitas) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Seq 01:O bar acabou de abrir int/dia
O relógio marca 17:55, o barman abre as portas de seu bar. Pronto para receber seus clientes. Ele começa a limpar o balcão com sua flanela ligeiramente umedecida, dá uma olhada na caixa registradora. O barman sai de trás do balcão e começa a organizar as mesas e cadeiras. Com tudo pronto, ele volta ao balcão e espera o relógio marcar 18:00 horas (durante os créditos de abertura). Estamos na década de trinta, o pequeno bar se parece com a confeitaria Colombo, e o figurino do personagem não difere de sua época.


Seq 02:18:00 em ponto int/dia
O relógio marca 18:00, o barman espera ansioso por sua cliente. Uma mulher entra no bar, é uma mulher deslumbrante. Ela olha para o barman, seu rosto mantêm-se estável, como se estivesse preocupada com alguma coisa. O barman retribui seu olhar, sorri-lhe com carinho. Ela continua séria, o sorriso do barman se transforma em espanto e preocupação. Eles já se conheciam há um bom tempo, chegavam até mesmo terem um certo grau de intimidade.


Seq 03:Começo da conversa int/dia
A mulher comprime entre os lábios, um cigarro apagado. Quando o barman lhe diz.
BARMAN
Olá princesa(Vai caminhando para o lado oposto do balcão)
O que vai querer?
MULHER
Antes de tudo, quero que seja educado.(Comprime o cigarro apagado com os lábios)
BARMAN
Não tinha percebido...Aliás, eu sou assim mesmo, desligado...(ascende o cigarro da mulher)...Vai querer uma dose? (já depositando um copo sobre o balcão e quase virando a garrafa para servir)
MULHER
Você sabe que eu tô dura à três meses.(soltando a fumaça e olhando para rua)
BARMAN
Pois nem por isso eu deixo de te servir.(servindo a bebida assim mesmo)
MULHER
Hoje tá diferente. (soltando a primeira baforada de fumaça de seus pulmões aflitos)
BARMAN
Diferente, como assim ? (o barman parece surpreso)
MULHER
O dia tá diferente... (desviando seu olhar e dissimulando sua fala ao tragar seu cigarro)
BARMAN
Todo dia você chega às seis em ponto, entra pelo bar dizendo que precisa de uma dose. Hoje você não disse que precisava de uma dose, e sim, que o dia tá diferente.
MULHER
É verdade...Mas está diferente porque eu não cheguei às seis.


Seq 04:Conversando no bar int/dia
O barman olha para o relógio na parede.
BARMAN
Você é meu primeiro freguês, e eu vendo minha mãe se esse relógio atrasar.
MULHER
Quem disse que ele atrasou, é que eu que cheguei há quinze minutos atrás.
BARMAN
Mas eu abri meu bar às seis... (ainda sem entender, ou se fazendo desentendido)
MULHER
Não!... Fazem quinze minutos que eu estou aqui. (irritando-se com o questionamento do barman)
BARMAN
Como se eu abri o bar às seis... Você bebeu?
MULHER
Deixa disso Sé... Você sabe que eu não bebo antes das seis.
JOSÉ
Não entendi, como você chegou quinze pras seis, se eu abri o bar às seis? – Parece que bebe...
MULHER
Não estou bêbada, e cheguei quinze pras seis, e abri essa merda de bar com você... (diz ela soluçando um pranto engasgado na garganta)
JOSÉ
Tudo bem, não quero confusão. Se você está dizendo que chegou à quinze minutos atrás, você chegou à quinze minutos atrás. Aliás, quem se importa com quinze minutos. (Consternado e aflito com a angústia da dama)
MULHER
Pra mim, importam. Foram quinze minutos atrás, aliás(depois de olhar o relógio) vinte minutos. (dissimulando sua angústia)
JOSÉ
Minha princesa, eu te daria um dia e uma noite...Quero te ver feliz...Você sabe que eu te adoro !
MULHER
É verdade?(solta uma gargalhada, mais nervosa que prazerosa) Nem por 1 milhão eu transaria com você.
JOSÉ
Eu não quis dizer isso. (abaixando sua cabeça) Você deve mesmo estar de porre.
MULHER
Não é por isso, é por você que já não tem idade para isso. (insistindo no embaraço do português)

José vira de costas, irritado, e fala.
JOSÉ
Você está mesmo insuportável. Acho melhor você ir pra casa dormir.
MULHER
Não tenho sono... (deixando claro que não se importa com a bronca de José)

Longo silêncio entre os dois.
José continua de costas para a dama que indaga em tom de ironia.
MULHER
É verdade que você me adora?


Seq 05:Conversa no bar int/dia-noi
José sem virar o rosto e ainda olhando para as prateleiras, responde.
JOSÉ
É....
MULHER
Apesar de tudo que eu falei? (se compadecendo com a figura do velho imigrante português)
JOSÉ
O que foi que você falou? (ainda sem olhar)
MULHER
Sobre a sua idade... (quase implorando seu perdão)
JOSÉ
Nem me lembrava mais. (antecipando sua intenção de desculpar-la)
MULHER
Então, você gosta mesmo de mim? (sorrindo)
JOSÉ
GOSTO!
MULHER
Mesmo que eu nunca transe com você ?


Seq 06:Continuação da conversa int/noi
José vira-se e olha para mulher.
JOSÉ
Eu te quero tanto, que não te levaria pra cama...Eu até mataria o homem que te acompanha à tarde.

A mulher ficou perplexa, depois olhou José atentamente, e começou a rir com ironia.
MULHER
Ficou com ciúmes...(risos) Que bonitinho, ficou com ciúmes.

José ficou embaraçado e enfurecido.
JOSÉ
Que ciúmes o quê! Ainda acho que você tá num porre, daqueles... A vida que você leva tá te embrutecendo.
MULHER
Você tá certo...Você não tá com ciúmes.
JOSÉ
Na verdade, eu tô sim. É que eu te quero tão bem, que não me agrada ver você fazendo isso.
MULHER
Isso, o Que?
JOSÉ
O seu vai e vem com um homem diferente a cada dia.
MULHER
Você mataria mesmo, o homem, pra ele não ir comigo?
JOSÉ
Mataria por ter ido contigo...
MULHER
Mas, não é a mesma coisa?
JOSÉ
Não....
MULHER
Então, você seria capaz de matar um homem, por mim?
JOSÉ
Já disse que sim!

A mulher começa a rir de José, e lhe diz em tom de ironia.
MULHER
Que horror Sé...Imagine só, você matando alguém...Quem diria, que você, um pacato dono de bar, senhor de idade português, um assassino...Que horror !
JOSÉ
Você tá bêbada, isso sim. Vai pra casa dormir. (se irritando cada vez mais com a dama)


Seq 07:A mulher fica séria int/noi
A mulher para de rir e olha para José, que anda ao longo do balcão.
MULHER
Sé?...Você gosta mesmo de mim?...JOSÉ?... (se debruçando no balcão como se quisesse agarrar José)
JOSÉ
Vai pra casa, princesa. Tome um banho frio e durma, pra curar este pileque.
MULHER
Sério, Sé, não estou bêbada. (muda o tom para uma conversa séria, como quase em segredo)
JOSÉ
Então, ficou séria de repente? (usando um pouco de ironia e se afastando da mulher)

Neste momento entra um freguês apressado, e se dirige à José.
FREGUÊS 1
Onde fica o banheiro?
MULHER
Venha aqui, deixa eu te falar...
JOSÉ
Á direita, aos fundos... (apontando a direção)


Seq 08:José desconfiado int/noi
José caminha devagar desconfiado da mulher.
MULHER
Venha logo !...(segura o braço de José e lhe diz)Repete o que me disse antes?
JOSÉ
Antes, quando?
MULHER
“Quando você me disse que mataria um homem.” (quase sussurrando)
JOSÉ
“Eu mataria um homem por se deitar contigo.” (também em tom de confidência)
MULHER
Então, você me defenderia, “se eu tivesse matado esse homem?”
JOSÉ
Depende, (demora um pouco a responder) isso não é tão fácil de fazer, quanto é de dizer.

Neste momento o cavalheiro sai do banheiro.
FREGUÊS 1
O senhor pode me dar um maço de cigarros?
JOSÉ
São ........................

A mulher se debruça sobre o balcão, a fim de alcançar a gola da camisa de José.
MULHER
“A polícia confia em você” (debruçada no balcão, sussurrando em seu ouvido) ! Posso apostar, que nunca disse uma mentira... (recuando de sua investida)
JOSÉ
Não.

O freguês, envergonhado, paga pelo cigarro e recebe a mercadoria embrulhada em um maço, recebe o troco, agradece e vai embora.
MULHER
Por mim você diria uma mentira, Sé? É sério...
JOSÉ
Você está metida em alguma encrenca?
MULHER
Não, só falei pra me distrair...Você sabe, que talvez, você não precise matar ninguém.
JOSÉ
Fale logo e deixe de rodeios...
MULHER
Estou dizendo que talvez não me deite com mais ninguém.
JOSÉ
A quem devo essa mudança tão repentina? (em tom de ironia)
MULHER
Ninguém, amanhã, vou me embora, e prometo que não vou mais te incomodar.
JOSÉ
De onde vem essa perturbação?


Seq 09:Nojo dos homens int/noi
A mulher olha séria para o portuga, parece pronta a dizer-lhe o que sente.
MULHER
Resolvi há pouco, descobri que isso é uma imundície.
JOSÉ
Claro que é uma imundície. Já deveria ter se tocado.
MULHER
Eu já vinha percebendo isso, mas só me convenci há pouco... Tenho nojo dos homens.

José olhou para mulher, ela estava com um ar de tristeza e um pouco assustada.
MULHER
Deveria estar certo, a mulher que mata um homem, por sentir nojo dele, após ter transado com ele.
JOSÉ
Não precisa ir tão longe.


Seq 10:lembranças de um quarto de motel int/dia
Um homem, qualquer, se vestindo em pé, ao lado da cama em um quarto de motel, com uma outra qualquer, mulher deitada nua sobre a cama.
MULHER(voz over)
E se essa mulher diz ao homem, que tem nojo dele, quando ele está se vestindo. Porque se lembra que esteve a tarde toda se esfregando com ele, e sente que nem o sabão, nem a água, vão lhe tirar o nojo?


Seq 11:De volta ao bar int/noi
José assustado.
JOSÉ
Isso passa, princesa. Não precisa matar por causa disso.


Seq 12:Lembranças de um quarto de motel 2 int/dia
O homem olha para a mulher, larga o resto da roupa no chão. Se joga em cima da cama e começa a beija-la.
MULHER(voz over)
E se quando a mulher diz que tem nojo...Esse homem pula na cama e começa à beijá-la...?


Seq 13:De volta ao bar com José int/noi
JOSÉ
Nenhum homem decente faria isso...
MULHER
Mas, e se ele faz? Se o homem não é decente, e faz isso. Então a mulher sente tanto nojo, a ponto de morrer, que a única maneira de acabar com tudo, é matando esse homem?



Seq 14:Quarto de hotel ensangüentado int/dia
Uma mulher de joelhos sobre uma cama de motel, toda suja de sangue e chorando em desespero.
JOSÉ(voz over)
Isto é uma barbaridade, por sorte não existe homem assim.


Seq 15:A mulher aos prantos int/noi
A mulher exasperada prossegue.
MULHER
E se esse homem existisse?(quase chorando)
JOSÉ
De qualquer maneira, não dá pra reagir assim.
MULHER (responde, batendo no balcão e agarrando José pelo braço) Você é um ignorante, você deveria dizer que a mulher estava certa.
JOSÉ
Esta bem, a mulher estava certa.
MULHER
Agora não adianta mais, perdeu sua chance....
JOSÉ
Que chance princesa? (surpreso com a reação da dama)

Um antigo freguês - 2 entra no bar fazendo barulho, comentando sobre uma situação política que indique sua época exata.
José lhe responde, dando sua opinião dos fatos...
A mulher agoniada, suplica uma resposta de José.
MULHER
Sustentaria uma mentira para defender esta mulher?
JOSÉ
Depende da mulher.
FREGUÊS 2
Mulher tem que ficar em casa, longe dos olhos de qualquer.
MULHER
Se fosse eu?

José não respondeu, e até mesmo, ignorou, respondendo ao comentário de seu freguês, olhando para baixo.
JOSÉ
Cuidando dos filhos e da casa...

Chegam mais dois fregueses, companheiros do freguês 2. Os três iniciam uma conversa excluindo José e a mulher.


Seq 16:A mulher acalmou-se int/noi
A mulher olhe seriamente a José, pedindo sua atenção.
MULHER
Sé?...

Ele não respondeu, mas levantou a cabeça e passou a olhar para ela. Os três fregueses pedem aos gritos e berros três conhaques. José serve as bebidas, sem tirar seus olhos dela. Ela percebe que sua atenção e interesse estão voltados à ela.
MULHER
Eu disse que vou embora amanhã...Não vai dizer nada?
JOSÉ
Pra onde você vai?
MULHER
Por aí...Pra onde eu fique longe dos homens.
JOSÉ
Sério, mesmo? (consternado)
MULHER
Depende de você...Se você souber dizer a que horas eu cheguei, amanhã vou embora pra nunca mais voltar. (apanha mais um cigarro na bolsa) E se voltar, algum dia, vou ficar com ciúmes se encontrar outra mulher sentada aqui com você.
JOSÉ
O que é que você quer, princesa?
MULHER
Qualquer um que pergunte a que horas eu cheguei, você dirá que foi às quinze para as seis.
JOSÉ
Por que?
MULHER
Isso não importa...O que importa é o que você disser.


Seq 17:Entrada do último freguês int/noi
José olhou para a porta, mais um freguês entrou e sentou-se em uma mesa no canto. José olhou para o relógio, eram "18:15"
JOSÉ
Está bem, quinze para as seis.
MULHER
Que bom, agora pode me trazer uma dose.

José estende o braço para alcançar a garrafa.
JOSÉ
Te darei uma dose no capricho.
MULHER
Obrigada, Sé.(Ela observa José servindo sua dose e lhe chama a atenção)...Sé?
JOSÉ
Hein?
MULHER
Está pensando em que?
JOSÉ
Tentando imaginar, pra onde você vai.
MULHER
Não sei ainda.(Ela bebe um trago de sua dose) Mas o que me interessa, é saber se vou ganhar o que queria.
JOSÉ
Já quer uma outra dose?
MULHER
Não.....Quero outro quarto de hora.


Seq 18:Epílogo int/noi
José espantado olhou para o relógio, depois para o freguês, que abriu o jornal, a fim de inteirar-se por completo sobre as notícias do dia. Indiferente à baderna estabelecida no recinto, e às propostas da mulher. José vigia seu cliente atentamente, aguardando qualquer sinal de sua sede, ou fome, para antecipar seus movimentos.
JOSÉ
Sinceramente, rainha, não entendo...
MULHER
Não seja bobo, Sé, não se lembra que eu cheguei às 17:30...


Seq 19:O relógio int/dia
O relógio se atrasa vagarosamente de 18:15 à 17:30, durante os créditos do filme (enquanto a música Meu vício é você de Adelino Moreira toca).


[roteiro baseado no conto A mulher que chegava as seis, de Gabriel García Marquéz, publicado no livro: Olhos do cão azul]



Fale com o Autor



Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui