Certa vez, nos anos oitenta, estava eu no Brasil passando férias com minha família, quando decidimos conhecer a cidade de Salvador. Era uma época em que o pelourinho ainda não estava recuperado, em que a Baixa do Sapateiro ainda era um lugar não muito recomendável para andar após as 18:00 e os programas para turistas eram ver a tarde morrendo em Itapoã, ou no Jardim de Alá.
Hospedamo-nos em Amaralina e, depois do descanso da viagem, resolvemos ir até o famoso Mercado Modelo, onde sentamos num mesanino em semi-círculo que havia nos fundos, de onde podíamos divisar toda a baía.
Tomando uma cervejinha com minha esposa e um amigo residente na cidade, percebemos que uma roda de samba começara a se formar à esquerda do restaurante. Mas não era uma rodinha qualquer de sambistas amadores, como pudemos perceber, pela qualidade da música que tocavam. Aos poucos, o restaurante foi se enchendo e em questão de quinze minutos um grande semicírculo havia se formado ao redor dos sambistas, com todos participando animadamente do batuque.
Depois de algum tempo chegou uma equipe de televisão e armou em cenário de carnaval, embora estivéssemos no início de Janeiro. Soubemos mais tarde que iriam gravar um comercial de propaganda do carnaval Soteropolitano.
Quando eu já me preparava para deixar meu lugar, para assistir à gravação, um burburinho teve início lá embaixo, ao redor de uma Van . Deveria ser algum artista famoso, falei para minha esposa, mas nem de longe pude imaginar quem era.
O escritor desceu da Van ladeado por seguranças que afastavam os turistas mais afeitos. Tive ímpetos de ir até lá, e apertar sua mão, mas arriscar-me-ia a perder meu privilegiado lugar de expectador.
Nem vou me alongar mais, pois tive a mais maravilhosa noite que um turista pode ter, ao ver um de seus ídolos da infância assim, em carne e osso, e tão próximo.
Hoje ele partiu, aos 88 anos, de parada cardiorespiratória. Um pedaço de mim foi com ele, pois ninguém me fez sonhar mais do que seu poderoso Capitães de Areia ou Mar Morto!
Jorge Amado vem de um tempo onde era muito nítida a linha divisória entre os bons e os maus autores, onde não havia mágicas de marketing das editoras, para catapultar as vendas.
Hoje, se um autor é medíocre, procura-se um nicho de mercado onde hajam medíocres o bastante para justificar uma tiragem, e o livro vai para as ruas.
Ave, Jorge, o Amado! Você escapou disso, graças a Deus!
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O ACERVO DE JORGE AMADO: 45 LIVROS PUBLICADOS
Principais obras:
· O País do Carnaval - 1931
· Cacau - 1933
· Suor - 1934
· Jubiabá - 1935
· Mar Morto - 1936
· Capitães de Areia - 1937
· ABC de Castro Alves - 1941
· O Cavaleiro da Esperança - 1942 (Argentina)
· Terras do Sem Fim - 1943
· São Jorge dos Ilhéus - 1944
· Bahia de Todos os Santos - 1945
· Seara Vermelha - 1946
· O Amor do Soldado - 1947
· O Mundo da Paz - 1951
· Os Subterrâneos da Liberdade (Trilogia: Os Ásperos Tempos, A Agonia da Noite e A Luz no Túnel) - 1954
· Gabriela, Cravo e Canela - 1958
· A Morte e a Morte de Quincas Berro Dágua; Os Velhos Marinheiros ou O Capitão de Longo Curso - 1961
· Os Pastores da Noite - 1964
· Dona Flor e Seus Dois Maridos - 1966
· Tenda dos Milagres - 1969
· Tereza Batista Cansada de Guerra - 1972
· O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá - 1976
· Tieta do Agreste - 1977
· Farda, Fardão, Camisola de Dormir - 1979
· O Menino Grapiúna - 1981
· A Bola e o Goleiro; Tocaia Grande: a Face Obscura - 1984
· O Sumiço da Santa - 1988
· Navegação de Cabotagem - 1992
· A Descoberta da América pelos Turcos - 1994
· O Compadre de Ogun (edição própria) - 1995
· CD-ROM Jorge Amado: Vida e Obra - 1995
· O Milagre dos Pássaros - 1997
Outras obras do autor:
Contos
· História do Carnaval - 1945
· De como o Mulato Porciúncula Descarregou o seu Defunto - 1963
· As Mortes e o Triunfo de Rosalinda - 1965
Poesia
· A Estrada do Mar (livro de poemas em prosa; edição limitada) - 1937
Álbum-roteiro
· Bahia Boa Terra Bahia (edição limitada)
Co-autorias:
· Lenita (com Dias da Costa e Edson Carneiro) - 1930
· Brandão entre o Mar e o Amor (com Aníbal Machado, Graciliano Ramos, José Lins do Rêgo e Rachel de Queiroz) - 1942
· O Mistério dos MMM (com Viriato Correia, Dinah Silveira de Queiroz, Lúcio Cardoso, Herberto Sales, José Condé, João Guimarães Rosa, Antonio Callado, Orígenes Lessa e Rachel de Queiroz) - 1962
· · A Nação Grapiúna (com Adonias Filho) - 1965
o · O Capeta Carybé (com gravuras de Carybé) - 1986
