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Ensaios-->DIÁLOGO -- 30/12/2000 - 22:12 (Marilene Caon pieruccini) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 3
1 Conceito e significação 3
2 A linguagem 8
2.1 Linguagem e diálogo 9
3 O diálogo 11
4 A importância do diálogo para a autenticidade 16
4.1 Para dialogar e comunicar 18
5 Como o diálogo ocorre e quais as implicações de sua efetivação? 22
CONCLUSÃO 25
BIBLIOGRAFIA 26
ENDEREÇOS ELETRÔNICOS: 27
ANEXO N º 1 28
DIÁLOGO E RETÓRICA 28
ANEXO N º 2 29
DIALÉTICA E DIÁLOGO 29












INTRODUÇÃO


Com o presente trabalho pretende-se elaborar um texto sobre o diálogo, com sua definição etimológica e uma exposição filosófica de seu sentido.
Foram os gregos antigos que, com seu pensamento sobre a dualidade, estabeleceram na mente ocidental o hábito comum de pensar o mundo e o ser humano em essência e substância, matéria e forma; em outras palavras, conferir, especialmente ao ser humano, uma natureza, em certo sentido, 'dialógica'.
Assim, é muito importante um estudo sobre o diálogo, cuja via mais conhecida e comum é a linguagem.
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1 Conceito e significação

DIÁLOGO: vem do grego = discurso ou pensamento. Toda existência humana é, em certo sentido, dialógica ou dialogal, mesmo antes do uso da palavra. A própria relação objetal que o recém-nascido estabelece com o rosto da mãe já é uma forma de diálogo. Todo o processo de crescimento espiritual é um esforço para atingir níveis cada vez mais profundos e cada vez mais perfeitos de diálogo.
Segundo Martin Buber (l878-l965), o diálogo é uma forma superior de encontro, definindo-o como “mutualidade da ação interior”. Por isso o movimento dialógico, fundamental, consiste em “voltar-se para outrem”. Quer dizer, para ocorrer o diálogo há necessidade de um 'eu' e de um 'outro'.
Buber esforça-se em propor uma saída para a crise em que se envolve o homem contemporâneo. A solução é, segundo ele, o estabelecimento sólido da comunidade, a mais autêntica forma de organização social. Só a vida em comunidade proporcionará os meios para uma existência melhor. Esta proposta será o molde para todas as outras, tanto no campo social, quanto político e educacional. Tal proposta, não pode, no entanto, ser encarada como dogma. 'A comunidade, afirma Buber, quando surgir deve satisfazer não a um conceito, mas a uma situação. A concretização da idéia de comunidade, como a concretização de qualquer idéia, não terá validade universal e permanente: ela será sempre apenas, uma resposta do momento a uma questão do momento' (Socialismo Utópico, 1971).
Assim, pode-se aprender a importância da filosofia do diálogo, esteio primordial para a idéia de comunidade, que deverá ser constituída ou construída a partir de um novo tipo de relação entre os homens. (Buber a denominou 'dialógica' ou relação EU-TU).
Ele parte de um postulado primeiro que pode-se chamar de 'situação cotidiana', significando, com isso, que cada homem pelo simples fato de existir, defronta-se com o mundo, estabelecendo assim um vínculo de correlação que irá caracterizar seu próprio modo de ser.
EU - TU é a relação ontológica, esteio para a existência dialógica, para o diálogo; EU-ISSO instaura o vínculo objetivamente, lugar e suporte da experimentação, do conhecimento, da utilização, 'o reino dos verbos transitivos', como chama Buber.
Um dos pontos de partida da meditação buberiana é uma reflexão sobre a linguagem. Buber não se interessa, no entanto, à maneira do cientista, pela estrutura lógica e abstrata da linguagem. Sua análise se restringe antes à linguagem como palavra proferida, a palavra como invocação do outro, aquela que gera resposta, aquela que se apresenta como manifestação de uma situação atual entre dois ou mais homens relacionados entre si por peculiar relação de reciprocidade. A palavra que, pela intencionalidade que a anima, é um dos componentes da estrutura da relação, do diálogo, esteio e atualização concreta do encontro inter-humano.
Buber distingue quatro aspectos essenciais e indispensáveis em qualquer relação EU-TU. São eles: a reciprocidade, a presença, a imediatez e a responsabilidade.
A reciprocidade indica, como o próprio termo exprime, a existência de uma dupla ação mútua entre os parceiros da relação. 'A árvore não é uma impressão, um jogo de minha representação ou um valor emotivo. Ela se apresenta 'em pessoa' diante de mim e tem algo a ver comigo, e eu, se bem que de modo diferente, tenho algo a ver com ela. Que ninguém tente debilitar o sentido da relação: relação é reciprocidade' (EU e TU).
A relação EU-TU não se reduz à esfera humana, ou melhor, o TU não é necessariamente um ser humano. Porém, é na esfera das relações humanas, que a reciprocidade pode atingir seu grau mais elevado. Na relação dialógica a palavra da invocação recebe a resposta. A reciprocidade rompe então com o imanentismo do EU, lançando-o no encontro face a face. É aí que o EU e o TU se tornam presentes. A presença é justamente o momento, o instante da reciprocidade. Esta presença recíproca é a garantia da alteridade preservada.
O TU não pode ser função do EU, como se fora mera coisa determinável na trama da causalidade universal; o TU é encontrado em sua alteridade, ele é confirmado como outro.
Além disso, nenhum meio se interpõe entre os parceiros do encontro. A relação é imediata, direta. Nenhum esquema conceitual ou idéias prévias, nenhuma imagem, nem fins nem antecipações. Na atitude EU-TU dialógica não me relaciono com o outro através de sua função social. 'Todo meio é obstáculo', diz Buber. O TU se dá na presença e não na representação.
Por tratar-se de uma ação recíproca entre os presentes no diálogo, esta relação é também responsabilidade. Buber situa o problema da responsabilidade imediatamente ao nível da vida vivida. Ele não a aborda ao nível de uma ética autônoma, de um 'dever' abstrato. Na realidade, a vida humana é vivida em situações concretas de relações interhumanas. A verdadeira responsabilidade se encontra onde há possibilidade de resposta
A responsabilidade se torna então o nome ético da reciprocidade, uma vez que a resposta autêntica se realiza em encontros inter-humanos no domínio da existência em comum. 'As palavras de nossa resposta são pronunciadas na linguagem da ação. O que dizemos por nosso ser é que nós nos entregamos à situação, que entramos na situação, nesta situação que vem de nos interpelar'. (Buber - EU e TU - 1978).
O diálogo é para ele a forma explicativa do fenômeno do inter-humano. O inter-humano é a realização concreta da vida dialógica, uma vez que, nesta situação, uma pessoa se confronta realmente com outra, cada uma confirmando a outra reciprocamente. No inter-humano não há lugar para as aparências, para o simples 'estar-ao-lado-do-outro', para a imposição, a falsidade. O dialógico se realiza no inter-humano como um voltar-se para o outro, bem determinado e concreto, e este, ao voltar-se, alicerça o estabelecimento de um 'nós' que resguarda a individualidade, a responsabilidade e a liberdade de cada um. O 'nós' congrega todos pela força de um centro comum; ele é o esteio da comunidade. Buber critica a forma atual de existência social tanto na vida política quanto na vida econômica. Segundo ele, o homem atual deixou-se engolfar pela prepotência do mundo do ISSO, do mundo da utilização, na economia, e da dominação na ordem política.
Ele lança um apelo contra o perigo representado pela atomização social provocada pelo capitalismo. Em substituição propõe a realização efetiva do desejo profundo do homem: o da vida em comum. Para esse pensador é a estreita relação pessoal com o outro - a presença - que define a especificidade da chamada aldeia comunitária utópica. A vida comum não concerne somente à produção e ao consumo, mas sobretudo ao trabalho, às idéias, aos sentimentos, em suma, à totalidade da pessoa confirmada como tal pela relação com outras pessoas da comunidade. Buber chegou a propor a instalação de 'comunidade de comunidades' para se chegar a um socialismo autêntico. A sua proposta social é, de certo modo, utópica na medida em que, não só visa a elaborar planos institucionais para o futuro, mas sobretudo pelo esforço em fundar o futuro das relações humanas sobre uma base diferente daquela apresentada até então. Para Buber somente este novo tipo de relações humanas - o dialógico - pode garantir qualquer mudança no estado em que o homem se encontra atualmente.
Buber opõe à atitude dialética e à atitude egológica aquilo que ele chama dialógica: o exercício da vida espiritual em diálogo com um tu pessoal e concreto, o qual pode revestir as mais diversas formas, nomeadamente o silêncio. No sentido que Heidegger atribui a esta compreensão, o diálogo supõe a superação do individualismo - egoísmo e a superação da vontade de sistema.
O diálogo como atitude existencial supõe a vontade de compreender o outro tal como, pelo outro, nos compreendermos a nós próprios. Também as diversas ciências humanas – de que a corrente psicológica da gênese recíproca é um caso exemplar – apontam aos homens esta via dialogal, a qual é um apelo à superação e à transcendência.
Diá: este prefixo da palavra diálogo, diz originariamente dualidade, de onde surge a separação, o limite. Por isso, diálogo implica diferença, cuja oposição não é fundada pelo eu e o outro, mas pelo Logos do real. Pelo Logos, cada homem é constitutivamente dialogante. Ao experienciarem o diálogo, os homens experienciam-se a partir do Logos do real. Por isso, o diá de diálogo diz a modalidade de presença do Logos no homem, como força através da qual se manifestam as diferenças e oposições. No diálogo, a fala de cada dialogante é a abertura para a escuta do Logos do real. Em tal abertura, o real se mostra em sua dualidade originária. É o diálogo originário que possibilita sermos já desde sempre dialogantes.
2 A linguagem


As palavras assumem uma importância especial na linguagem por viabilizarem um sentido específico para as coisas, construindo e retendo padronizações, que facilitam a compreensão de uma determinada situação, podendo, a partir desse momento, sofrer transposição para um contexto diferente daquele de sua origem. Ao condensar os significados, as palavras assumem o papel de veículos que as transportam de uma experiência para outra, organizando relações e inferências das coisas entre si.
Além de fornecer os padrões nomeadores das percepções, a linguagem é responsável por outro aspecto fundamental na construção dos significados: torna possível a comunicação que, por sua vez, colabora para a troca intersubjetiva e para a participação social dos sujeitos na ação de interpretar situações e objetos, produzindo e aprimorando os significados já dados, ou formulando novos. É a linguagem que possibilita o diálogo.

2.1 Linguagem e diálogo

Quando Lipman propõe o diálogo como alternativa para o desenvolvimento do pensamento, parece estar ciente das prerrogativas que Dewey atribui à linguagem e à comunicação. Seja em referência a estruturação dos significados, seja na intenção de sensibilizar o homem para um comportamento pautado pelo compromisso social responsável.
Dewey entende a linguagem como um instrumento de grande valia na tentativa de reorganização das experiências, pois ela operacionaliza os significados, que são utilizados pelo pensamento na investigação das experiências. A noção de linguagem inclui, além da fala, gestos, imagens, expressões ou outros meios que favoreçam a comunicação e a interação.
Por seu intermédio, as coisas são retiradas de sua imediatez sensitiva, transformando-se em significações, que possibilitam uma apreciação mais aprimorada e plena. Assim, as coisas e situações, ao escaparem da particularidade em que se encontram pela via da linguagem, são passíveis de serem experimentadas abstratamente e de serem analisadas através do diálogo.
A Filosofia incorpora as posições deweyanas. A dialogicidade da comunidade de investigação como proposta pedagógica para a educação para o pensar é uma prova disso.
Lipman vê na internalização dos discursos, ou diálogos na concepção lipmaniana, o ponto de partida necessário para a reflexão. A fala dos participantes permite a reavaliação das posições do ouvinte, onde os argumentos são conferidos e comparados à luz das perspectivas do falante, contribuindo para a reinterpretação dos significados já disponíveis e para a formulação de novos: 'quando internalizamos o diálogo, não apenas reproduzimos a expressão dos pensamentos dos outros participantes, como também argumentamos, em nossas próprias mentes, com respeito a essas opiniões. ...Os participantes da discussão desenvolvem atitudes críticas em relação ao que as outras pessoas dizem. Mas essas atitudes críticas voltam a fazer parte da nossa própria reflexão.'
A estruturação do pensamento conta ainda com a linguagem como elemento-chave; ela e o desenvolvimento cognitivo estão intimamente relacionados na educação para o pensar. Essa relação é a tal ponte fundante e fundamental pela qual Lipman delega ao diálogo o papel de mediador na construção do bem pensar. A linguagem e a comunicação dialógica são os canais para o intercâmbio intersubjetivo necessário à conquista dos significados, à compreensão do mundo, dos outros e de si mesmo
A dinâmica essencialmente dialética entre a linguagem e o pensamento pode promover a articulação progressiva das significações, dos juízos e das interações que todos, e cada um de nós, constrói e vivencia.
Pelo lastro das abordagens de Dewey e Vygotsky, nas quais Lipman se apoia, pode-se deduzir que a educação para o pensamento reflexivo encontra na comunicação dialógica autocorretiva e coerente os elementos que viabilizam a sua possibilidade: o desenvolvimento da cognição e a construção dos significados.
Paulo Freire idealizou e testou tanto um sistema educacional, quanto uma filosofia de educação, primariamente nos vários anos de seu ativo envolvimento na América Latina. Seu trabalho foi posteriormente desenvolvido nos Estados Unidos, na Suíça, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Nicarágua e em vários outros países do Terceiro e do Primeiro Mundo. A concepção educacional freireana centra-se no potencial humano para a criatividade e a liberdade no interior de estruturas político-econômico-culturais opressoras. Ela aponta para a descoberta e a implementação de alternativas libertadoras na interação e transformação sociais, via processo de 'conscientização'.
'Conscientização' foi definida como o processo no qual as pessoas atingem uma profunda compreensão, tanto da realidade sociocultural que conforma suas vidas, quanto de sua capacidade para transformá-la. Ela envolve entendimento praxiológico, isto é, a compreensão da relação dialética entre ação e reflexão.
Freire propõe uma abordagem praxiológica para a educação, no sentido de uma ação criticamente reflexiva e de uma reflexão crítica que seja baseada na prática do diálogo constante.
3 O diálogo

Para Bakhtine, todo o discurso implica o outro. Quando alguém fala ou escreve é com a finalidade de que alguém ouça ou leia, sendo a relação sempre entre um 'eu' e um 'tu' uma constante. No entanto, o diálogo acontece não só entre indivíduos, mas também entre qualquer enunciado verbal.
Um diálogo autêntico exige humildade intelectual que pressupõe:
(a) somos falíveis,
(b) nossas idéias são, em geral, muito limitadas, quando não erradas;
(c) somos criaturas que podem estar abertas para diferentes formas de encarar as experiências.
O comprometimento com o falibilismo (falhas) e com a investigação aberta não significa que se abra mão, imediatamente, das idéias e perspectivas que se possui.
A auto - correção pressupõe um ideal de verdade regulador, com o qual toda a comunidade se compromete de modo mais ou menos consciente. Por esta razão, os participantes conseguem perceber se houve ou não algum progresso. Entretanto, é um fato que, quando se expressa idéias e perspectivas aos membros da comunidade - com visões de mundo muito diferentes das possuídas - manifesta-se coragem de arriscar crenças e opiniões presentes e incorre-se na possibilidade de experimentar uma auto - transformação radical.
É como se, neste ponto, uma pessoa dissesse a si mesma: 'Eu não quero viver uma vida de ilusões. Quero saber das coisas e conhecer todas as suas possibilidades. Quero entender o mundo, a mim mesmo e aos outros. E, caso eu não entenda, então me disponho a mudar a forma como encaro as coisas.'
Descartes ('Penso, logo existo') o mais famoso porta voz deste modelo de raciocínio, deu um passo decisivo. Pode-se considerar este modo de raciocínio como uma realização a ser almejada para que alguns propósitos sejam atingidos - apesar de que o nosso pensamento é dialógico e, na maioria das vezes, incorpora aspectos emocionais, tradicionais e culturais.

Alguns diálogos são ditos aporéticos, por não apresentarem uma solução, enquanto outros, como A República, (Platão) oferecem algumas respostas mais exatas; no caso do exemplo citado, um tratado sobre a educação, de modo a selecionar os melhores, que conseguiriam experimentar a virtude e governar a cidade, fazendo ela justa.
A harmonia de contrários do diálogo se manifesta como reflexão, daí estar presente no ato de interpretar. Refletir é o ato através do qual nos dobramos sobre nós mesmos, nos vemos e nos auscultamos. Isto não significa nos dividirmos em exterior e interior. A reflexão une a visão e a escuta. A reflexão como método se consubstanciou em Platão como eristike tekhne, a técnica da disputa, ou seja, do diálogo.
O importante no diálogo do método socrático é que, como ele afirma em Mênon, leva quem o pratica a um questionamento constante, a um querer saber, ao auto - conhecimento e ao trabalho, enquanto que o diálogo no método sofístico leva o homem à preguiça e à indolência.
Diálogo é conversação. O bom conversador é um bom escutador. O bom escutador cuida para não impor uma preconcebida estrutura ao que ouve; abre-se à estrutura do auto-entendimento do outro.
O diálogo admite degraus; há um diálogo que é de valor, embora não se aprofunde. O diálogo em torno do jogo do valor se faz a partir do lugar no qual os dialogantes se movem. A esse lugar de abertura e possibilidade do debate e embate deram os gregos o nome de ethos. A tensão e relação do “entre” como diálogo e do pretium como ethos fazem aparecer a terceira dimensão de toda interpretação: o barganhar, o especular. Todo interpretar implica, pois, o diálogo, o ethos, o especular. Especular é um verbo comum tanto à interpretação comercial como à filosófica. E isso não é de estranhar, pois a palavra interpretatio é a tradução da palavra grega hermeneia, formada do verbo hermeneuein, interpretar: “Hermeneuein, hermeneia e hermeneus não dizem, como sempre se ouve, esclarecer no sentido de conduzir uma coisa estranha e obscura para o âmbito claro e familiar da razão e do discurso.
No diálogo, as diferenças se especulam, não como diferenças de si, mas do real. No especular do diálogo, o valor ético fundamental é a verdade e a não-verdade do real.
Originariamente, perguntar pela interpretação é: O que é o diálogo e o especular como verdade do real? Essas são as dimensões da questão da interpretação. Na questão, a interpretação nos advém, não como a tarefa de esclarecer o que é obscuro, mas como o esforço de subir a uma montanha: quanto mais alta, tanto mais abrangente a paisagem e profundo o horizonte.
Interpretar não é explicar nem analisar, é conduzir ao diálogo poético, onde o real se manifesta na sua verdade dialógica.
Certas atitudes são inimigas ao diálogo. O triunfante, por exemplo, não escuta com respeito pela integridade do seu número oposto, mas sim para descobrir como desviá-lo da sua crença para dentro da ‘verdade’. O triunfante conversa, mas não como igual; não está aberto ao que ouve, embora espere que seu interlocutor o seja. O diálogo mais satisfatório é a procura daqueles que já embarcaram numa viagem, não conhecendo a destinação, mas confiantes que a viagem vá continuar e a missão madurar durante toda a vida, e que aquilo que aguarda no fim da viagem é, não mera forma recebida de palavras, não o sutilmente afinado credo dum teólogo, mas sim a riqueza de sabedoria e experiência, que palavras podem explorar mas nunca plenamente captar.
O que constitui o diálogo? A nossa existência cotidiana transcorre na sua maior parte como diálogo ou troca de opiniões. Daí estar sempre presente a interpretação. Troca de opiniões se dá no mundo. Outra forma de diálogo é a que ocorre na sala de aula. Nela se faz presente quem ensina e quem aprende, tendo em vista o saber. Nesta conjuntura, o diálogo se dimensiona a partir do saber. O objetivo do diálogo é levar um dos participantes a se apossar de um saber que ele ainda não tem. O diálogo será tanto mais frutífero, quanto os dois pólos do diálogo se nivelarem e identificarem em relação ao saber. Este é algo que alguém tem e outro alguém não tem, mas pode vir a ter, pelo diálogo. Apreende-se aqui duas características: um saber que se tem e pode ser ensinado e aprendido, e que, portanto, se pode tornar comum. É um saber abstrato que anula as diferenças e o próprio vigor do diálogo. Nesse sentido, se ensina Física como se ensina Literatura, como se ensina Poética. Esta é a visão metafísica do saber, que não preserva o diálogo originário que toda obra poética é. Diálogo não é uma simples palavra entre outras. Nele e por ele advém não apenas uma dimensão fundamental da interpretação, mas a própria essência e razão de ser o que somos.
Diálogo não é algo que pode ou não nos acontecer. Sempre só podemos acontecer como diálogo. Quando em meio às multidões nos sentimos isolados; quando sós, lamentamos a ausência do ser amado; quando retirados num lugar ermo, a solidão com seu peso surdo e cinzento se abate sobre nós; quando cansados dos contatos trepidantes com os outros, nos retraímos para nós mesmos, o que em todas essas experiências nos está acontecendo é a busca do diálogo originário, o que somos. No diálogo, somos sempre com os outros. (O monólogo é a mais radical afirmação do outro como ausência).

No diálogo, o outro aparece como fala que se opõe. Na oposição das falas se constitui o diálogo. Se não houver oposição não há diálogo. A oposição dialógica leva a duas atitudes. Pela primeira, usa-se toda argúcia e poder da palavra para convencer e vencer o outro. Não se tolera a oposição. A ação comunicativa será tanto mais comunicativa, quanto mais anular as diferenças. Prevalece o saber único. Outra atitude pode ainda ser gerada no diálogo. A oposição de posições não busca a eliminação da fala do outro, mas a composição. Na composição, cada posição reconhece de antemão o limite do seu saber. Cada saber se afirma como diferença. No diálogo das diferenças, a identidade não é nem a soma do saber de todos, nem a sua média, nem o poder de argumentação do mais arguto, mas o não-saber.
O não-saber não é a indiferença, mas o vigor e possibilidade de toda diversidade, de todo novo saber, da composição de todos os saberes.
Do diálogo resulta um saber que torna as pessoas experientes. Esse saber pode dizer respeito a um conhecimento específico ou às vicissitudes da vida. Neste caso, assume uma dimensão ética que se transforma em sabedoria. É do diálogo consigo mesmo, com os outros e com as coisas do mundo que se pode atribuir experiência a alguém. É a experiência da vida.
4 A importância do diálogo para a autenticidade


Se observarmos uma comunidade de investigação por algum tempo, poderemos perceber que ela é governada por princípios democráticos, onde cada ponto de vista e cada idéia são respeitados, ouvidos e valorizados como sendo uma fonte potencial de idéias importantes. Tais comunidades geram significados alternativos, perspectivas diversas, apoio e ajuda comunitária para seus membros. Expressar diferenças não é apenas um direito de cada participante mas, também, um meio importante de enriquecimento do self em evolução.
Em comunidades como essas, percebe-se que as crianças procuram descobrir quem elas são - o que elas pensam e o que elas querem fazer de suas vidas que é importante. Para que isto seja possível, elas necessitam de tempo para analisar conceitos contestáveis subjacentes à sua existência cotidiana - conceitos como, liberdade, fé, verdade, amizade, comunidade, democracia, justiça, regras, self, identidade, linguagem, tempo, amor, morte, conhecimento, significado, bondade, sociedade - e tentar descobrir o que cada conceito significa para elas. Em outras palavras, elas precisam do diálogo para evoluírem.
Alguns autores chamaram isso de busca de autenticidade. Autenticidade esta que nasce de uma mudança na consciência que temos daquilo que exigimos de nós mesmos: as verdades pessoais e a integridade passam a ser considerados como fins em si mesmos. Essa autenticidade está relacionada com a liberdade - a habilidade de pensar e agir por si mesmo. Envolve, por parte da criança e com o auxílio dos seus companheiros de investigação, a busca e a criação do seu projeto de vida. O ideal de autenticidade pode direcionar as crianças para um modo de vida mais responsável, mais completo, mais diferenciado e mais apropriado. (Taylor, p. 64)
A autenticidade pessoal exige originalidade, criação e imaginação moral. Demanda análise crítica dos pressupostos de uma determinada cultura e a revolta contra as convenções. Taylor afirma que autenticidade implica em criação, construção, descobrimento, originalidade e freqüente oposição reflexiva às regras da sociedade e ao que reconhecemos como sendo moralidade. Mas, é também verdade que são necessárias uma abertura a novos horizontes de significados (pois do contrário, a criança perderia o contexto que a protege da insignificância) e a auto - definição no diálogo. A comunidade geralmente descobre, com o tempo, que essas demandas criam tensões que, por sua vez, exigem a criação de uma estratégia de investigação adequada. (Taylor, p.66). E a melhor estratégia ainda é o diálogo.
Os participantes de uma comunidade de investigação procuram compreender uns aos outros. Além de aprender a escutar, precisam aprender a conversar e a se expressar de modo coerente. Além disto, precisam desenvolver a capacidade de entrar no mundo das outras pessoas e a vê-lo de acordo com as perspectivas dos outros, adotando uma atitude aberta e compreensiva. Essa habilidade dialógica envolve os indivíduos numa relação ativa entre as nossas expectativas pessoais e os objetivos, propósitos e crenças das outras pessoas que exige, ao mesmo tempo, humildade intelectual e uma autêntica disposição para a auto - correção.
Esta disposição para a auto - correção é baseada no pressuposto do falibilismo: pressupomos que ninguém está sempre certo. De fato, as probabilidades são que nossas visões sejam, quando não totalmente erradas, muito limitadas. Ninguém quer dialogar com alguma pessoa por muito tempo, se percebe que não há progresso, que as idéias de cada indivíduo permanecem inalteradas. Em situações como essas, ninguém aprende.

4.1 Para dialogar e comunicar

Um diálogo supõe uma inter-relação ou uma consubstancialização dentro de um contexto dinâmico e não estático.
Diálogo é interação entre sujeitos que, para tanto, podem utilizar-se predominantemente – e às vezes tão somente – do mais democrático de todos os suportes: o aparelho fonador.
Para que haja diálogo, é preciso que os interlocutores tenham uma 'memória' comum, participem de uma mesma cultura. Isso porque a comunicação se manifesta nos discursos e os discursos que circulam na sociedade se constituem a partir da intertextualidade, que Chabrol conceitua assim: 'trata-se de todos os fenômenos de citação, referência, retomada, empréstimo, transformação, derivação, desvio, inversão entre textos, contemporâneos ou não, na esfera dos discursos sociais, quer seja no interior de um mesmo domínio, quer seja entre suportes midiáticos.'
Todo discurso se constitui a partir de sua inter-relação com os outros e só assim poderá ser interpretado. Bakhtin, um dos mais importantes teóricos da linguagem, tratando da linguagem verbal, afirma que a verdadeira substância da língua é a interação verbal (e não o sistema abstrato de formas lingüísticas). Essa realidade fundamental da língua, segundo o autor, manifesta-se no diálogo: 'Pode-se compreender a palavra diálogo não apenas como a comunicação, em voz alta, de duas pessoas colocadas face a face, mas toda comunicação verbal, de qualquer tipo que seja' .
Exemplifica através do que pensa sobre o livro: 'o ato de fala sob a forma de livro é sempre orientado em função das intervenções anteriores na mesma esfera de atividade, tanto as do próprio autor como as de outros autores: ele decorre portanto da situação particular de um problema científico ou de um estilo de produção literária. Assim o discurso escrito é de certa maneira parte integrante de uma discussão ideológica em grande escala: ele responde a alguma coisa, refuta, confirma, antecipa as respostas e objeções potenciais, procura apoio etc. Qualquer enunciação, por mais significativa e completa que seja, constitui apenas uma fração de uma corrente de comunicação verbal ininterrupta (concernente à vida cotidiana, à literatura, ao conhecimento, à política etc.). Mas essa comunicação verbal ininterrupta constitui, por sua vez, apenas um momento na evolução contínua, em todas as direções, de um grupo social determinado'.
Cada discurso, quer seja emitido por um indivíduo - sujeito ou por um sujeito-coletivo, usando apenas a própria voz ou a tecnologia mais avançada – satélite, por exemplo – é, na verdade, a atualização de um processo de interlocução entre vários discursos, manifestação de diálogos, entre os mais diversos gêneros e até entre as mais diferentes épocas. Assim, tanto o pólo da emissão, aquele que produz o programa, que escreve o jornal, quanto o pólo da recepção, aquele que vê, ouve ou lê o produto, só têm sua completude sacramentada, só significam pela via desse diálogo. Trata-se de diálogo que tem como cenário uma determinada cultura, e sem o qual não haveria (não se poderiam constituir) a telenovela, o noticiário, a música etc. Não haveria, inclusive, os programas policiais, no rádio e na televisão, que causam tanta polêmica. Sem esse diálogo com a cultura, com as referências culturais, de ambos os pólos com a cultura e entre eles mesmos, teríamos uma parcialidade que impediria a constituição de sentido.
O caráter dialógico das linguagens impõe uma visão muito além do ato comunicativo superficial e imediato, os significados embutidos em cada particularidade devem ser passíveis de entendimento.
Toda linguagem carrega dentro de si uma visão de mundo, cheia de significados e recuperados pelo estudo histórico, social e cultural dos símbolos que permeiam o cotidiano, significações que vão além do seu aspecto formal. O estudo apenas do aspecto formal, desconsiderando a inter-relação contextual, semântica e gramatical própria da natureza e função da linguagem, desvincula a pessoa do caráter intrasubjetivo, intersubjetivo e social da linguagem.
O debate e o diálogo, as perguntas que desmontam as frases feitas, a pesquisa, entre outros, seriam formas de auxiliar no construir um ponto de vista articulado sobre o objeto em estudo. A análise da dimensão dialógica da linguagem permite o reconhecimento de pontos de vista diferentes sobre um mesmo objeto de estudo e a formação de um ponto de vista próprio. O diálogo visual assume que imagens serão transformadas ao longo do processo, da mesma forma que o discurso é alterado, interrompido, complementado, e reconfigurado, em espontâneas conversas face-a-face. Uma vez concluído um evento artístico de telecomunicações, imagens permanecem não como o 'resultado', mas como documentação do processo de diálogo visual promovido pelos participantes.
O que aproxima as pessoas também é aquilo que as afasta; o que indaga também é o que afirma certos valores implícitos na formulação da pergunta. Se não há fim para este jogo, este movimento, deve haver ainda assim consciência deste contexto. Mas a consciência, deve-se lembrar, não está removida deste movimento, através do qual também é configurada.
Porque é um exercício voluntário entre dois partidos de status desiguais, não havendo assunção de que um dos partidos possa ‘ganhar’ o argumento e, nessa base, exigir que o outro se conforme
Na transação de mercado só o utilitário e o preço são envolvidos, e estes são negociáveis. No diálogo, consideramos ambos, mais o cometimento da fé, que não está sendo negociada, os modos de viver harmoniosamente e a cooperação, onde procuramos um compromisso mutuamente aceitável. Dialogar em torno do preço é especular em torno da verdade. Não qualquer verdade, mas a ética. Diálogo é a forma ética radical, em Platão, de experienciar a manifestação da verdade do real.
Para Paulo Freire:

'Comunicação (é) a co-participação dos sujeitos no ato de pensar...implica numa reciprocidade que não pode ser rompida. O que caracteriza a comunicação enquanto este comunicar comunicando-se, é que ela é diálogo, assim como o diálogo é comunicativo. A educação é comunicação, e diálogo, na medida em que não é transferência de saber, mas um encontro de sujeitos interlocutores que buscam a significação dos significados.' (FREIRE in LIMA, p : 59)


É Freire quem identifica uma quarta relação compreendida pelo conhecimento, além da gnosiológica, da lógica e da histórica: é a relação dialógica, indispensável e fundamental para o ato do conhecimento. E porque isso é verdadeiro para a prática educacional, vale para qualquer outra prática.
Segundo Freire, dialogar é transformar a realidade através da palavra. É o encontro de amor de pessoas que, mediadas pelo mundo 'proclamam' esse mundo, transformando-o e ao transformá-lo, o humanizam para todos.
Assim, esse autor possui a tradição filosófica existencialista, que encara o diálogo, a comunicação e a relação EU - TU como a realidade existencial e ontológica na qual o ego é criado e através da qual satisfaz e autentica a si mesmo.
5 Como o diálogo ocorre e quais as implicações de sua efetivação?


A busca de uma resposta apresenta a necessidade de elaboração de algumas considerações. Na tentativa de incitar uma reflexão sobre o diálogo, explicita-se, de forma bastante sucinta, a posição de três pensadores sobre este assunto: Martin Buber, Paulo Freire e Matthew Lipman.
Em primeiro lugar, a posição de Buber, que enaltece o diálogo como aspecto intrínseco ao ser humano. Segundo ele, 'os limites de possibilidades do dialógico são os limites de possibilidade de uma tomada de conhecimentos íntimo. Mesmo que possa prescindir da fala, da comunicação, há, contudo, um elemento que pertence indissoluvelmente à constituição mínima do dialógico, de acordo com seu próprio sentido: a reciprocidade da ação interior'. Para Buber é preciso, para que o diálogo aconteça, uma ação essencial do homem, em torno do qual se constrói uma atitude essencial, a isso ele chama de movimento básico e o distingue em duas formas: o movimento básico dialógico, que consiste em 'voltar-se para o outro' ou seja, considerar a presença do outro, dirigindo nossa atenção e exteriorizando em gestos o que a alma quer mostrar; e o movimento básico monológico que consiste em 'dobrar-se-em-si-mesmo'. Este último, longe de ser um ato egoísta significa 'o retrair-se do homem diante da aceitação, da essência do seu ser, de uma outra pessoa na sua singularidade, singularidade que não pode absolutamente ser inscrita no círculo do próprio ser e que contudo toca e emociona substancialmente a nossa alma, mas que de forma alguma se lhe torna imanente'. Considerando a existência destes dois movimentos básicos, acontece o que Buber chama de diálogo autêntico ou genuíno.
Para Paulo Freire, o diálogo vai além dos movimentos básicos, que fundamentam a relação EU-TU estabelecidos por Buber. No livro 'Pedagogia do Oprimido', Freire pontua algumas características do diálogo, enquanto fator de construção do homem que se faz 'na palavra, no trabalho, na ação-reflexão'. Esta palavra , segundo ele, não é privilégio de alguns homens, mas direito de todos os homens. Precisamente por isso, ninguém pode dizer a palavra verdadeira sozinho, ou dizê-la para os outros, num ato de prescrição, com o qual rouba a palavra aos demais. Se é dizendo a palavra com que, 'pronunciando' o mundo, os homens o transformam , o diálogo se impõe como um caminho pelo qual os homens ganham significação enquanto homens. Por isto, o diálogo é uma exigência existencial.
Assim, Freire acrescenta um terceiro elemento na evolução da relação dialogal: o mundo. Este tripé o leva a considerar que, para que a inter-relação seja fértil, há que se acreditar na existência de um profundo amor ao mundo e aos homens, na humildade e na fé intensa nos homens, atitudes que terão como esteio, a confiança.
O diálogo, enquanto fator primordial na construção do pensar complexo e no estabelecimento das chamadas comunidades de investigação, está presente na obra de Matthew Lipman, que considera relevante os estudos de Buber e Freire na constituição de uma comunidade de investigação, porém faz algumas ressalvas. No livro 'O Pensar na Educação' ele estabelece um confronto entre a conversa e o diálogo. Segundo Lipman, a conversa almeja o equilíbrio, havendo o predomínio de uma pessoa e depois da outra, balizado pela reciprocidade, mas sem avanços. Acontece ainda uma troca de sentimentos, pensamentos e interpretações. Já no diálogo, o alvo seria o desequilíbrio constante, que forçaria um movimento progressivo e que se utiliza do questionamento oriundo de um exame e/ou de uma investigação para se afirmar enquanto tal. Conclui, então, que o diálogo deve ser disciplinado pela lógica, não desconsiderando porém, que a lógica do diálogo tenha suas raízes na lógica da conversa.
Uma consideração importante é a da possibilidade de um verdadeiro diálogo entre posturas e visões de mundos diferentes e conflitantes, levando em conta a desigualdade apenas no ponto de partida para que o diálogo ocorra. Se ele faz parte de um contexto dinâmico, que visa caminhar para a busca de uma cidadania responsável, irá incidir na igualdade como ponto de chegada. Outra consideração a fazer é a de que isto é um aprendizado que envolve elementos como uma argumentação sólida, respeito mútuo, autocorreção, autocrítica e vários outros. Assim, torna-se viável o diálogo entre aqueles que são 'inicialmente' desiguais, pois não supõe, necessariamente, uma conversa consensual (pois visto apenas sob esse prisma, haveria a imposição de idéias por parte daquele que melhor fundamenta seus argumentos e o consenso, ou apenas o silêncio seria a conseqüência óbvia desse movimento de via única, limitado pela suposta argumentação superior do outro); ele pressupõe desejo mútuo de buscá-lo e atingi-lo, mesmo que seja no desequilíbrio causado pela pluralidade de pontos de vista.
Portanto, a resposta à questão elucidada no início não é única, ela consiste na solidez dos argumentos suscitados por inúmeros pensadores, e na constante alimentação dessa interrogação, que não só coloca o diálogo enquanto possibilidade, como também o coloca como pressuposto básico na formação de uma cidadania responsável, conduzindo a uma reflexão rigorosa acerca de suas implicações nas relações interpessoais do homem contemporâneo para que assim, diminua significativamente a distância entre o homem e o homem e entre o homem e o mundo.
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CONCLUSÃO

O diálogo não é uma técnica para alcançar determinados resultados, um meio de conquista ou para fazer proselitismo, uma espécie de manipulação para convencer as pessoas do próprio erro; é um estilo, um jeito de viver a missão, um espírito que permeia as relações entre as pessoas. O diálogo é, em primeiro lugar, encontro de pessoas que têm identidade própria, mas que estão em comunhão de vida. Sem comunhão, o encontro acabaria num desencontro; com a eliminação das diferentes identidades, o diálogo se transformaria em simples convergência de opiniões.
Assim, embora a grande dificuldade em se obter um referencial bibliográfico adequado a este estudo, foi gratificante, mas além disso, muito mais compensatório, o conhecimento obtido através desse trabalho.
A palavra diálogo é comum e corriqueira no dia a dia das pessoas, porém apenas alguns devem conhecer a sua significação e suas implicações reais.
Raciocinar reflexivamente sobre o assunto contribuiu para uma retomada importante sobre o 'eu' e o 'tu' e a forma como a linguagem dialógica pode influenciar na identificação de 'ser no mundo'.
BIBLIOGRAFIA
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BUBER, Martin. Do diálogo e do dialógico. São Paulo: Perspectiva, 1982; pp.153-156.
ECO, Umberto. Interpretação e superinterpretação. São Paulo, Martins Fontes, 1997.
FREIRE, Paulo. Educación y Concientización. Salamanca : Editora Sigüeme, 1985.
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LIMA, Venício Artur. Comunicação e Cultura: As Idéias de Paulo Freire. Rio de Janeiro :
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LIPMAN, Matthew. O pensar na educação. Petrópolis : Vozes,1995; pp.335.
TAYLOR, Charles A ética da Autenticidade, Cambridge : Harvard University Press, 1992).
KOWARZIK-SCHMIED, Wolfdietrich. In: Pedagogia dialética: de Aristóteles a Paulo Freire. São Paulo : Brasiliense, 1983.

ENDEREÇOS ELETRÔNICOS:

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http://www.elixirvermelho.com/paginamedita.htm
http://www.consciencia.org/antiga/plapro.shtml
http://www.unicamp.br/iel/histlist/manoel.htm
http://www.jcrelations.net/portugues/solomonp.htm
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http://www.moderna.com.br/Comunicacao/artigos/art12.htm
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http://www.brothercast.com.br/o_que_e.htm
http://ppbr.com/ipf/bio/europeia.html
http://www.bibvirt.futuro.usp.br/acervo/paradidat/pensar/pensar5-2.html
http://nautilus.fis.uc.pt/~jcpaiva/3mil/diftipos.htm

http://www.udec.cl/~prodocli/Rivano/dialogo12.htm
ANEXO N º 1

DIÁLOGO E RETÓRICA

A marca geral em que o dialógico de encontro é constituído pode ser esboçado nas fases seguintes:
(a) 'eu acho' e intenção de diálogo (sem especificação de tempo por meio de, nem meio físico);
(b) 'eu rejeito' ou tenho acesso ao diálogo;
(c) ' acesso ', abrindo;
(d) 'trocas'.
Uma situação retórica típica é o 'eu' na frente de uma audiência passiva, quer dizer, uma audiência sem direito ou sem acesso às trocas. As fases iniciais de encontro, aceitação e abertura têm que ser dadas de alguma maneira, mas a troca do retórico, passando a abertura, que não se inscreve em uma cadeia de trocas, não é diálogo. No diálogo, a retórica é determinada, o participante retórico também. O uso persuasivo do idioma é determinado (o uso repreensivo, por exemplo, de um interesse pessoal). Há uma preocupação em clarificar. Este é o aspecto da força retórica como antidialógica, força que esparrama e monopoliza o espaço 'falador' inteiro de uma pessoa, de um orador e impõe uma forma, uma topologia não-dialógica. Por exemplo: no mercado, um tagarela adquire a atenção de pessoas com uma cobra para o pescoço. Alguns param, curiosos. Outros deixam de parar. O orador começa a fala dele. Há encontro, aceitação e abertura, mas, iniciada a fala, o orador tentará levar os ouvintes para seu objetivo, sem interrupções, de modo que todos se conformem com o seu plano (conformação que muitas vezes estará disposta como armadilha na fala). Outra situação já cristalizada, institucionalizada: os sinos chamam, a congregação vai para a igreja, o padre começa a missa. Aqui as possibilidades de diálogos estão completamente reduzidas. A fala de orador do padre é protegida por uma mística, uma arquitetura, um interior, um hábito, e, principalmente, um poder estabelecido. O tagarela ainda dá a chance de ser interrompido, de alterar o espetáculo com diálogos de intervenções, ou levar o público, com uma fala nova, a seguir outra estrada. Qualquer coisa disto também é possível nos sermões do padre. Por outro lado, pode-se também ignorar os sinos. Mas os sinos, mais que chamar, lembram ao bairro inteiro que é hora do ritual e do sermão. O tagarela não está em diálogo, mas corre perigo de estar pelo seu orgulho profissional. O padre está fora do dialógico de perigo. O sermão 'parte' do rito da missa, é amável e de uma verbosidade institucionalizada, mas não permite o diálogo.
Na dimensão da persuasão, tem-se os casos extremos de um participante A para persuadir um B participante, reduzindo-o ao silêncio da observância permanente. Embora se esteja à beira do diálogo, exerce-se uma forma não dialógica de comunicação. A retórica, que usa o idioma persuasivo, prolongará o dialógico do encontro na medida em que os participantes se sintam naturalmente atraídos por meio dela, mas impedirá a ocorrência do diálogo real.
ANEXO N º 2

DIALÉTICA E DIÁLOGO

Paulo Freire retoma a relação originária entre dialética e diálogo e define a educação como a experiência basicamente dialética da libertação humana do homem, que pode ser realizada apenas em comum, no diálogo crítico entre educando e educador. Assim, ele vincula a situação concreta educacional com a determinação dialética da educação, como experiência histórica da totalidade da sociedade.
Em Freire, a educação é um momento da experiência dialética total da humanização dos homens, com igual participação dialógica de educador e educando. Para este autor, a dialética reside no desvelamento heurístico e aporético da situação educacional, que exige do educador uma 'ação criadora' própria e, simultaneamente, na inclusão prática da atividade educativa na experiência continuada do trabalho educacional com os educandos (libertação do homem).
Para Freire o diálogo é uma exigência existencial, que possibilita a comunicação e permite ultrapassar o imediatamente vivo. Ultrapassando suas situações-limites, o educador-educando chega a uma visão totalizante do programa, dos temas geradores, da apreensão das contradições até a última etapa do desenvolvimento de cada estudo. Sua perspectiva é dialógica e fenomenológica.
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