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Erotico-->17. A PALAVRA DO PROFESSOR -- 15/12/2002 - 06:58 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Preveniu-me Honorato de que a turma não estava obtendo o sucesso almejado por Mário. Tivera diversas experiências com outros instrutores e sabia quando o planejamento não estava sendo seguido. Que me preparasse para alguma raspança.

De fato, contrariando o hábito de iniciar, depois da prece, pela descrição dos resultados dos pequenos grupos, Mário assumiu a tribuna (a mesinha) e pôs-se a realizar considerações a respeito das tarefas que tinha determinado:

— Meus amigos, temo que deva observar-lhes os princípios gerais dos trabalhos, pelas normas superiores estatuídas para este tipo de encaminhamento evangélico. Ontem, diversos de vocês se deixaram envolver sentimentalmente pelas lembranças, ficando à mercê das péssimas vibrações. Caso não hajam desconfiado de que tais sofrimentos tenham sua origem no egoísmo, é bom conversarem com os padrinhos, para definirem melhor se pretendem caminhar segundo o currículo. Temos opções mais demoradas, para seres intelectualmente desprovidos de acuidade. Seria perda de tempo. Tenho os relatórios dos monitores, digo, dos conselheiros, e precisamente sessenta e oito por cento revelam que vocês mesmos se reconhecem atrasados em relação aos exercícios.

Olhei para Honorato, que me passou, rapidamente, a idéia de que a turma vibrava em uníssono e, por isso, sem surpresas, caminhava junta.

Prosseguia Mário:

— Os relatórios parciais estão sofrendo contestações emotivas desprovidas de cabimento. Era para que todos tivessem compreendido a função analítica dos exames empreendidos, sem atropelos, sem delíquios, sem tolas presunções de que esteja na hora de descansar. Sei que a maioria agendou para esta manhã amenizar os debates, com a desculpa de que o desafogo é necessário para reequilibrarem as atividades psíquicas. Mas isso deveria ter ficado para trás, na concepção de que erros e acertos constituem fatores existenciais que se inter-relacionam, uns servindo aos outros, no aperfeiçoamento técnico da moralidade evangélica. Vocês só pertencem a esta turma por terem demonstrado proficiência no aprendizado da cartilha. Devem, pois, aplicá-la em todas as circunstâncias.

De novo busquei socorrer-me de Honorato. Queria saber se seria possível vencermos em condições tão precárias.

— Esteja certo que sim. Admiração decorrente dos fatos insólitos da vida se permite. O que se deseja evitar é a energização dos vetores existenciais pelo negativismo e pela consideração de excessivo penar. Eis a base do supra-referido egoísmo. Preste atenção à palestra.

Via-me enleado em teia de superiores conceitos. Tentei serenar as ânsias e realizei brevíssima oração, para que Mário e Honorato conseguissem abrir-me a mente para o entendimento.

Mário continuava:

— Vocês estão impressionados vivamente por estarem descobrindo a si mesmos. Estão achando razões que não poderiam indicar outros caminhos senão aqueles com os quais se depararam na Terra. Então, devo preveni-los de que o diabo não é tão feio quanto está sendo representando por vocês. Ainda é muito cedo, mas haverá, para quase todos, possibilidade de se conhecerem através de quadros registrados por pessoas de seus relacionamentos. Terão visão mais completa das ações, a partir dos efeitos provocados nas psiques dos demais. Poderão avaliar que muitos atos que estão julgando infelizes tiveram conseqüências úteis, embora, na maior parte, desagradáveis. E terão a faculdade de sentir, de maneira quase integral, como as pessoas agiram em relação a vocês. Para lá chegar, entretanto, treinarão muitíssimo o autocontrole emocional, porque, se desandarem como têm feito, irão perder esse aspecto fundamental do enredamento das existências.

Quando pensávamos que iríamos poder inquirir o Professor a respeito de temas que não nos ficaram claros, noticiou-nos ele:

— Para amanhã, depois de conferenciarem com os orientadores, deverão ingressar na câmara de pesquisas conscienciais com o objetivo de sentirem todas as dores morais da última encarnação. Mas considerem-se impedidos de qualquer julgamento. Quero que estabeleçam somente o rol dos problemas, dando prioridade aos mais graves, segundo critérios próprios, friamente, como se estivessem destrinçando cadáver de indigente, em aula de anatomia. Vocês, portanto, devem considerar-se apenas matéria morta. Caso não alcancem total serenidade, peçam para sair, que terão assistência imediata. Não se deixem desesperar.

Pensei na equipe que nos fora buscar nas Trevas. Representei os seus membros sem os grossos uniformes e concluí que Mário talvez estivesse exagerando nas recomendações quanto à isenção sentimental. E meu avô Honorato, não chorara diversas vezes?

Como que tendo ouvido a consideração, Mário encerrou os comentários:

— Se vocês estão pensando que o fracasso de cada um irá repercutir em meu espírito como derrocada do professor, enganam-se. Não estou nem pretendo “fazer das tripas coração”, para levá-los ao estágio seguinte de progresso. Quando Maciel solicitou que elevássemos a quota dos bons sucessos, estava referindo-se à alegria que toda a colônia irá obter, pelo ingresso, na categoria de cidadãos, de outra plêiade de espíritos vitoriosos. Se caírem de novo, somente irão dar mais trabalho e perderão tempo. Quanto a nós, temos os serviços obrigatórios e facultativos e não iremos desfazer-nos deles para ocuparmo-nos de entidades que não sabem postar-se perante as próprias dívidas. Os conselheiros que falaram em possíveis raspanças estavam absolutamente certos.

Quis saber se havia tremor, pelo menos, nas expressões do amigo. Honorato envolveu-me de fluidos, como um manto, e revelou-me a aura do discursante. Estava levemente azulada, enquanto cintilações não intensas de luz se desprendiam e atingiam os colegas confrangidos pelas censuras.

Honorato esclareceu:

— Mário está dominando inteiramente as atribuições. Preparou-se para todos os eventos promovidos pela incontinência dos alunos. Fala como professor consciente da necessidade de colocar os temas em dia. Nada mais.

Não passou despercebida ao palestrante a ação de Honorato. Sorriu, agradecido, e pôs fim à peroração:

— Deus esteja com vocês todos! Recolham-se em seus corações e façam sua melhor prece. Vamos ver se conseguimos a benevolência dos irmãos maiores.

O silêncio da turma atenuou-se com os maviosos sons de dulcíssima canção que um dos companheiros puxou. Tenor em vida, estava recuperando paulatinamente a condição de cantar. Muitos, sabedores da letra, “sotto voce”, procederam ao acompanhamento. Eu tinha as cordas vocais arruinadas, mas pude murmurar a prece, aspirando ver algum fenômeno abençoado. De fato, tenuíssimas partículas de luz se desprenderam do teto e caíram sobre o grupo, em forma de pequenas pétalas de rosas azuis e brancas, que se desfaziam como bolhas de sabão ao tocarem as pessoas ou objetos.

Quando encerramos o hino sagrado, Mário enxugava lágrimas de alegria. Não houve quem não se deixasse impressionar pela paz reinante. Diferentemente das sensações da reunião amena do pequeno grupo, agora sabíamos, verdadeiramente, como proceder para a felicidade espiritualizar-se. E nos compenetrávamos de que muito deveríamos aprender para lá chegar.

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