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Ensaios-->Silva Jardim e meu avô -- 03/10/2000 - 15:30 (Pedro Wilson Carrano Albuquerque) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Antônio da Silva Jardim nasceu em Capivari, atual Silva Jardim (RJ), em 18 de agosto de 1860 e faleceu tragado pelas lavas do Vesúvio, na Itália, em 1º de julho de 1891.
2. Era filho de Gabriel da Silva Jardim e de Filomena Leopoldina de Mendonça e foi casado com Ana Benvinda de Andrada, neta de um irmão de José Bonifácio de Andrada e Silva, o Patriarca de nossa Independência: o Conselheiro Martim Francisco Ribeiro de Andrada.
3. Jornalista, escritor e político, foi um dos mais destacados propagandistas da campanha republicana no Brasil. Discordando de Quintino Bocaiúva, defensor da idéia de que o Império deveria cair por si mesmo, Silva Jardim entendia que tal deveria dar-se por intermédio de revolta de toda a população. Escreveu 'Idéias de Moço', 'O General Osório', 'Campanhas de um Propagandista', 'Memórias e Viagens' e outros trabalhos.
4. A República tinha muitos aliados em Angustura, atual distrito de Além Paraíba (MG). É de se supor que o prenome de meu avô Franklin de Albuquerque tenha origem na simpatia de seu pai, o português José Antônio de Albuquerque, por aquele sistema de governo, a ponto de dar ao filho o nome do negociador da independência dos Estados Unidos da América: Benjamim Franklin.
5. A propósito, o segundo volume do livro 'História da Vida Privada no Brasil', no capítulo intitulado 'Vida Privada e Ordem Privada no Império', escrito por Luís Felipe de Alencastro, contém a seguinte afirmação:
'A propaganda republicana do final do Império traz os novos nomes americanos - Jefferson, Franklin, Washington - e relança os clássicos da república romana (de 509 a 29 a.C.) - Múcio, Mário, Cornélio, Caio'.
6. Certamente, Franklin foi tomado pelo ideal republicano, o que o levou, segundo comentários ouvidos no âmbito de minha família, a atuar decisivamente na defesa de Silva Jardim, quando o líder republicano esteve no Arraial da Mãe de Deus de Angustura (MG) em 14 de março de 1889, ajudando o propagandista da República a escapar com vida de tentativa de assassinato por parte de escravos libertos, envenenados por boatos, espalhados por monarquistas, de que ele pretendia o retorno à escravidão.
7. Sobre a passagem do eminente republicano por Angustura, vale registrar que a publicação 'Madre Dios - 100 Anos', de João Batista Vieira Vidal e Tales Ribeiro de Magalhães, mostra, em suas páginas, o convite e o cardápio do banquete oferecido a Silva Jardim pelo Partido Republicano de Angustura e o seguinte comentário: 'Em 14 de março de 1889 o líder republicano Antônio da Silva Jardim visitou o Arraial da Mãe de Deus de Angustura a convite do Dr. Joaquim José Alves Santos, Barão de São Geraldo e fundador do Partido Republicano Mineiro, desembarcando na estação ferroviária de Pantanal, hoje Fernando Lobo, e seguindo a cavalo pela estrada de 13 quilômetros que liga aquela estação a Angustura, com grande acompanhamento. Consta que os monarquistas espalharam um boato de que Silva Jardim viria acabar com a Abolição, tornando o negro outra vez escravo. Estes, revoltados, esperaram-no armados de foices e facões, dispostos a defender a sua liberdade a qualquer preço. Ao saber desse boato, o líder, corajoso, desceu do palanque e foi discursar no meio dos negros, levando depois seis deles para tomarem parte no banquete que lhe foi oferecido'.
8. José Leão, no livro 'Silva Jardim - Apontamentos para a Biografia do Ilustre Propagandista', assim comenta o acontecido: 'A 13 de março achava-se de volta a São Luís, em casa do Dr. Monteiro Manso. Destinava-se a Angustura (antiga Madre de Deus do Angu), onde o esperava um temeroso conflito. Apesar de prevenido, para ali se dirigiu escoltado por um grupo abnegado de correligionários a cavalo. O carro que lhe era destinado é atacado. Entram a galope na vila. Os pretos cercam o hotel. Silva Jardim procura parlamentar. Manda chamar o capataz:
- Rapaz, o que quer você ?
- Nada, senhor. Mas dizem que este discurso é para nos escravizar outra vez, e que vosmecê quer matar a Princesa.
- Deixe-se disso... O melhor é sossegarem e irem depois ao seu trabalho.
- Vosmecê pode fazer a conferência, mas não há de fincar a bandeira da República aqui no largo.
- Rapaz, ninguém costuma fincar bandeira e nem matar a sua princesa. A República é para o bem de todos. Pode ir embora'.
9. Silva Jardim, em seu 'Memórias e Viagens', assim narra o ocorrido: 'A conferência realizava-se em um salão.
Um grande número de senhoras estava presente. Admirei nesse dia o heroísmo das mulheres mineiras. Os pretos estavam do lado de fora, deitados na relva, recostados, a ouvir. Eu falava numa tribuna alta, próximo a uma janela, de modo a acompanhá-los com o olhar.
- Veja ! diz-me um amigo, puxando-me o paletó.
Olho: um preto dispunha-se a armar a sua espingarda. Se o tiro viesse, apanhava-me diretamente o tronco. Voltei-me rapidamente.
- Se vir que ele desarma, tome-me pelo paletó e atire-me ao chão, disse.
De fato, ele preparava-se a apontar-me a arma. Continuei a falar, dizendo frases decoradas, quase inconscientes, para não alarmar todo o auditório e produzir um conflito horrível, mas fitei com toda a força possível de meu olhar o assassino. Naquele momento falava só para ele. Tinha-o bem em face. O infeliz subjugado fitava-me também, não conseguia despregar o seu olhar do meu, e a arma tremia-lhe na mão. Um companheiro, atrás dele, estimulava-o, mas a certeza de que era visto dominava-o. E ali ficou , uma hora ainda, com a arma ao lado, estupidificado, temendo já talvez o castigo. Assim era, porque no dia seguinte, pela manhã, veio pedir-me perdão'.
10. O historiador Oiliam José, em seu 'A Propaganda Republicana em Minas', assim narra o acontecido: 'Juntamente com Antônio Romualdo Monteiro Manso e outros companheiros, dirigiu-se então para Angustura, ex-Madre de Deus do Angu. Na estação de São Luís, tomaram cavalos e armas, tendo em conta ameaças recebidas. Pelo caminho, o grupo recebeu novas adesões e chegou a contar com 50 homens, alguns dos quais portando foices e cacetes. Enquanto isso, em Angustura, cerca de 300 negros insuflados prometiam liquidar Silva Jardim. Eram negros recém-libertos, afastados ainda do trabalho livre e vivendo de expedientes ou à custa de seus antigos senhores. Mediante pequenas gratificações, promoviam arruaças ou empreitavam assassinatos de tocaia. O fenômeno ocorreu em quase toda a Província e chegou a alarmar os proprietários e as autoridades, que se confessavam incapazes de se oporem às ameaças e desmandos dessas turbas desorientadas. Agindo com habilidade, o grupo republicano conseguiu obter que Silva Jardim despistasse esses negros e alcançasse a residência do Capitão Militão, também partidário da República e senhor de boas posses. Com a presença de corajosas mulheres e em recinto fechado realizou-se a conferência programada, apesar da ameaça de perturbação da ordem e de um negro, bem localizado no exterior, ter quase descarregado a espingarda chumbeira contra Silva Jardim. O baile, à noite, transcorreu sob novas ameaças. Digno de menção é o fato de o banquete haver sido preparado na Casa Pascoal, do Rio, e servido com 'menu' e auxílio de 15 garçons, custando tudo 6:000$000, quantia elevada para a época'.

11. É interessante mencionar que, depois do acontecimento acima tratado, nasceu em 29 de julho de 1891, em Paris, França, um filho póstumo de Silva Jardim com o nome de Franklin, que pode ter sido adotado como uma homenagem a Benjamim Franklin e, talvez, ao jovem amigo e correligionário Franklin de Albuquerque.
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