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Ensaios-->Os índios Puris -- 25/09/2000 - 14:33 (Pedro Wilson Carrano Albuquerque) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Consta que minha trisavó Cândida Maria da Conceição - nascida por volta de 1814 na região de Minas Gerais onde se encontram, hoje, os Municípios de Além Paraíba, Leopoldina e Mar de Espanha - seria índia Puri ou filha de membros dessa tribo.

A respeito dos Puris, vale transcrever o seguinte texto do historiador Celso Falabella de Figueiredo Castro contido em seu livro 'Os Sertões de Leste - Achegas para a História da Zona da Mata':
'Na faixa de terra do vale do Cágado e dos seus afluentes, do Pirapetinga até as cercanias de Leopoldina, habitavam os Puris, os mesmos dos rios Pomba e Muriaé que tanto combateram os Coroados na mesma região, sendo por sua vez combatidos pelos Goitacases. Os remanescentes dos Puris, que habitavam a região, eram mansos, mas de absoluta incapacidade, dado seu estado de primitivismo integral. Dormiam ao relento, não conheciam o uso da rede e viviam em estado de nudez. Degeneraram totalmente os Puris e eram considerados das tribos mais atrasadas que povoaram as Minas. Para dormir, cavavam no chão uma espécie de bacia e nela se acomodavam, tal como os animais selvagens. Nem a taba, que constituiu sempre o princípio da sociedade entre os silvícolas, era por eles conhecida; pequenos ranchos rentes ao solo - duas forquilhas fincadas no chão sobre as quais atravessavam um pau em forma de cumieira, ao qual encostavam outros paus, mal cobertos com folhas de palmito ou sapé, por onde escorria a água da chuva. Algo de funcional: teto servindo de parede ! Indolentes, incapazes para tudo, buscavam na pesca a alimentação de que necessitavam, usando um processo original: sem anzol. Amarravam na ponta da linha algumas minhocas e essa, puxada com certo jeito, trazia para fora os minguados lambaris. Em águas volumosas usavam, muito raramente, redes, tecidas com fios de tucum ou com a embira tirada da imbaúba. Não possuíam a menor idéia da agricultura. Além do mel de abelha e dos frutos nativos, o que os Puris tiravam da terra se resumia a um certo número de raízes - a caratinga, por exemplo, espécie de cará muito duro. Arrancavam-no com as unhas. Eram exímios caçadores, mas usavam a flecha como divertimento. O ritual do nascimento do filho obedecia àquele dos Coroados: a parturiente ia banhar-se no rio e o marido acocorava-se ao chão para fazer o resguardo. Alguns furavam as orelhas e os lábios; outros pintavam ou bordavam o corpo, sobretudo no peito e nos braços. Concorreu para o desaparecimento rápido dos remanescentes Puris uma epidemia de sarampo que apareceu alguns anos depois que os índios fizeram seu estabelecimento nas imediações de Feijão Cru, provavelmente na terceira década do século XIX. Sendo um mal novo, a epidemia tomou caráter e como a febre apareceu violenta, logo atiraram-se à água fria. A mortandade foi grande. Tais eram os Puris - os índios que habitavam as margens do Cágado, do Novo, do Pirapetinga, do Aventureiro, do Angu'.
Celso Falabella também descreve um relato de Manoel José Pires da Silva Pontes sobre os Puris que encontrara em uma viagem à Zona da Mata em 1833, onde é dito: 'Os índios são de estatura baixa ou mediana, tendo os homens de quatro a cinco pés, e as mulheres, pouco mais de quatro, mas todos possuem formas robustas, grossas e compactas. Peito largo, pescoço grosso e curto. O ventre das mulheres é exuberante. Têm pernas finas, braços redondos e musculosos; pés estreitos atrás e largos à frente. A pele é cor de cobre, mais escura ou mais clara, conforme a idade, ocupação e saúde. A cútis é fina, macia e luzente; cabelos compridos, grossos e inflexíveis - negros, luzidios e bastos'.
Francisco de Paula Ferreira de Rezende, no livro 'Minhas Recordações', cita um depoimento de um certo Camilo José Gomes, onde, entre outras informações, era informado o seguinte sobre o tratamento dado aos Puris quando faleciam: 'Os que faleciam eram enrolados ou atados com cordas e depositados com suas flechas, bodoque e demais objetos, dentro de uma grande panela de barro e assim enterrados; e de tempos em tempos voltavam os que sobreviviam àquele lugar para chorar o falecido'.
O inglês John Mawe, no livro 'Viagem no Interior do Brasil', assim tratou os Puris: 'Habitam as florestas em condições miseráveis; suas moradias, algumas das quais visitei, são construídas de ramos de árvores, inclinadas de forma a suportar o colmo ou teto de folhas de palmeiras; os leitos, de capim seco. Possuindo pouco conhecimento da lavoura, dependem, para sua alimentação, dos arcos e flechas e das raízes e frutos selvagens, que eventualmente encontram na floresta'.
Outro trecho do livro de John Mawe sobre os Puris: 'Tinham os característicos gerais da raça: a pele bronzeada, atarracados, rosto redondo, nariz chato, cabelo negro e liso, estatura regular, com tendência para o tipo baixo e musculoso. Desejoso de assistir a uma prova de sua perícia e precisão de pontaria, de que tanto ouvira falar, coloquei uma laranja a trinta jardas de distância, que foi atingida por todos que desfecharam seu arco contra ela'.
O naturalista Maximiliano, em seu 'Viagem ao Brasil', publicado em 1820, assim se refere aos Puris: 'Eram todos baixos, não tendo mais de cinco pés e cinco polegadas de altura; em geral, homens e mulheres eram robustos e de membros musculosos. Estavam completamente nus, exceto uns poucos que usavam lenços em torno da cintura ou calções curtos, obtidos dos portugueses. Alguns traziam a cabeça toda raspada; outros tinham os cabelos naturais, grossos e negros como carvão, cortados sobre os olhos e caindo dos lados sobre o pescoço; alguns cortavam rente a barba e as sobrancelhas. Tinham, geralmente, pouca barba'.
Celso Falabella de Figueiredo Castro informa que no Livro nº 1 de batizados de Além Paraíba, iniciado em 1818 pelo Padre Miguel Antônio de Paiva, consta o batismo de vários índios Puris e que no Arraial de Nossa Senhora das Mercês do Cágado, atual Mar de Espanha, foram anotados, na mesma época, vários óbitos de indígenas daquela tribo, sendo possível que Cândida Maria da Conceição tenha nascido nessa região e fosse oriunda de tribo dos Puris, como era comentado no seio da família do autor.
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