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Ensaios-->O brasão da Família Carrano -- 05/05/2000 - 23:21 (Pedro Wilson Carrano Albuquerque) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O BRASÃO DA FAMÍLIA CARRANO


Antes do registro de considerações sobre o Brasão da Família Carrano, é necessário o fornecimento ao leitor de algumas informações sobre a Heráldica, definida por Vera Lúcia Bottrel Tostes (1), em seu Princípios de Heráldica, como a arte e a ciência que determina, produz e estuda os brasões, interpreta as origens e o significado simbólico e social da família, nação ou instituição.

O surgimento dessa ciência auxiliar da História ocorreu no Século XII na Europa e no Japão. Entretanto, já era comum, na Antigüidade, inclusive em Roma e na Grécia, o uso de emblemas e insígnias, que não eram, no entanto, utilizados de forma sistemática, nem transmitidos aos descendentes.

Com as Cruzadas (2) passou-se a usar, pela primeira vez e de modo ordenado, cores e símbolos, com vistas à distinção dos grupos, muitas vezes de origens e línguas diferentes, que se confundiam nos acampamentos e nos campos de batalha.

O uso de um mesmo emblema por nobres de uma só família só foi regulamentado no Século XIII, criando-se, assim, o brasão, nome de origem francesa (blason), que, segundo Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (3), em seu Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, é um conjunto de peças, figuras e ornatos dispostos no campo do escudo ou fora dele, e que representam as armas de uma nação, de um soberano, de uma família, de corporação, cidade, etc..

Os brasões, inicialmente, eram sinais pessoais, escolhidos liberalmente pelos guerreiros ou cavaleiros, passando, em um certo momento, a ser usado por uma família inteira. Posteriormente, passaram a identificar o território possuído por um clã.

Consolidado o uso do brasão, criou-se uma linguagem própria para a sua interpretação. A escolha dos símbolos não era feita de modo casual, guardando consonância com a personalidade dos cavaleiros ou dos senhores feudais, com a história e o espírito da família e com os territórios que se estendiam sob o domínio da família. Heraldistas eram formados por instituições especializadas, como, por exemplo, o Colégio de Armas, na Inglaterra, e a Corte de Lorde Lyon, na Escócia (4).

Daí a importância de se conhecer o significado dos brasões das Famílias, uma vez que isso permite que sejam colhidas preciosas informações sobre a sua história, transmitidas dos ancestrais para a sua posteridade.

Pelo aqui exposto, vê-se que o brasão não era elaborado com base em critérios puramente estéticos ou casuais, seguindo, ao contrário, um desenho bem preciso, contemplando a união de esmaltes (cores ou metais apresentados no brasão) com peças (nome dado às figuras geométricas derivadas das partições ou aos móveis colocados no campo do escudo), visando a se obter um quadro harmônico e homogêneo. Cada elemento tem sua função peculiar e a sua proximidade com outro serve para compor um todo único.

O brasão da Família Carrano foi extraído da obra 'Trenta Centurie di armi gentilizie', de Carlo Padiglione, onde se encontra a sua descrição:

De vermelho,
e uma roda de ouro,
com quatro estrelas do mesmo
três mal ordenadas em cima
e uma na ponta do escudo.

As expressões de vermelho e de ouro significam, na linguagem técnica da heráldica, da cor vermelha e da cor de ouro. Quanto à que inicia a descrição do brasão, ela se refere, sempre, ao campo ou fundo do brasão, sobre o qual se colocam as peças.

Vale notar que a ordem heráldica do brasão coloca em primeiro lugar o campo, a peça principal, seguido dos elementos secundários, se existirem, os quais nunca devem superar o número de três.

Há na Heráldica um significado simbólico de cada esmalte. Assim, o vermelho é testemunha da nobre condição social e das virtudes militares dos antepassados, representando o ânimo intrépido, valoroso, grandioso e forte dos guerreiros. Também representa, mais genericamente, o homem decisão, o homem de ação, ainda que em tempo de paz, com a virtude da magnanimidade e da generosidade.

Quanto ao ouro, deve ser salientado que é o mais nobre dos metais brasônicos, representando o Sol, que, com a sua luz e calor, mantém sobre a Terra a vida humana. Significa riqueza, amor e honra. Na Heráldica, é utilizado para representar, metaforicamente, o que há de mais nobre: a fé, a justiça, a nobreza, a glória, a sapiência, a generosidade, a magnanimidade, a força e outras virtudes.

Marc Antonio Ginanni, estudioso da Heráldica que viveu no Século XVIII, autor da obra 'A Arte do Brasão', informa-nos que a permissão para o uso da cor vermelha em um brasão, juntamente com o dourado, somente era dada aos 'Príncipes' e 'Cavaleiros' e aos que eram de ilustre sangue.

Para o uso de mais de um esmalte sobre o escudo é preciso dividi-lo em partes, o que é chamado, na Heráldica, de partição, que, geralmente, ocorre com a divisão em duas ou quatro partes.

Os escudos, quanto à forma, podem ser: antigo ou sanítico (alongado na extremidade do bordo inferior), espanhol ou português (bordo inferior arredonda
do em semicírculo), oval (usado geralmente por rainhas e pelo clero), tornês ou quadrado (era colocado na lança, durante os torneios, à guisa de bandeira), suíço (bordo superior em ponta no centro), lisonja (em losango), inglês (com saliências no bordo superior, foi a forma usada nas Armas Imperiais do Brasil), italiano ou barroco (bordo superior com ornatos variados), alemão (chanfrado no flanco destro) e moderno ou francês (bordo inferior em ponta). Este último é o escudo que compõe o brasão da Família Carrano.

Quanto às figuras heráldicas, alguns autores as consideram de menor importância, não sendo esta, contudo, a opinião de estudiosos do assunto, como a Professora Vera Lúcia Bottrel Tostes, que nelas vê graça, beleza e um simbolismo cheio de espiritualidade e virtude.

Assim, a cruz é símbolo da fé e do cristianismo, o leão representa força e coragem, o cão a fidelidade, a águia a pujança e a vigilância, o cedro a eternidade, o sol a grandeza e o sino a vocação religiosa.

Já a roda de carro, existente no brasão da Família Carrano (com seis raias), era, antigamente, peça que simbolizava a instabilidade da fortuna, passando, na Heráldica, a representar uma mente nobre e desligada do que não é essencial. No Brasonário de Portugal ela aparece (com oito raias) nos brasões das Famílias Belém (ou Belhém), de origem holandesa, Stockler, de origem alemã, e Mason (ou Masson). A roda pode, também, estar relacionada com a origem do sobrenome Carrano, uma vez que este antropônimo é derivado de 'carro' (v. Dicionário Etimológico de Nomes e Sobrenomes, do Professor Rosário Farâni Mansur Guérios).

Entretanto, a mais bela figura do brasão da Família Carrano é, certamente, a estrela, que ali aparece quatro vezes. É a peça mais comum na Heráldica, podendo ter até dezesseis raios ou pontas, embora se apresente, quase sempre, com cinco (na França, Espanha, Inglaterra, Bélgica e Polônia) ou seis pontas (na Alemanha e na Holanda). Na Itália, geralmente encontramos nos escudos estrelas de até cinco raios, embora também apareçam algumas com seis ou mais pontas.

Não podemos deixar de mencionar que uma estrela serviu de guia para os que se dirigiam ao local onde nasceu Jesus. Outrossim, ela é segura indicação da rota para quem conduz uma embarcação à noite. Estes dois aspectos devem ter sido considerados na fantasia dos homens quando resolveram colocá-la no escudo, esperando uma chegada tranqüila ao porto espiritual ou material.

As estrelas contidas no brasão da Família Carrano possuem seis raios e estão dispostas de modo bem particular. De fato, há uma delas na ponta do escudo e três na parte alta, estas não colocadas em fila, daí a expressão 'mal ordenadas' utilizada na retrocitada descrição de Carlo Padiglione.

Além dos elementos internos, que compõem o interior do escudo e dizem respeito à família do portador de um brasão, há os elementos externos, que mostram o grau nobiliárquico, a hierarquia eclesiástica ou as armas de uma cidade e são compostos de: elmo (proteção da cabeça usada pelos guerreiros contra qualquer tipo de agressão), coroa (ornato circular de metal usado na cabeça para demonstrar domínio e honra), virol (rolo torcido de estofo colocado sobre o elmo, para proteção contra os golpes dados sobre a cabeça), timbre (figura assentada sobre o elmo ou o virol), paquifes e lambrequins (ornatos que saem do virol de forma mais ou menos caprichosa, com recortes irregulares e sinuosos, lembrando plumas ou folhas de acanto), suportes e tenentes (figuras que ladeiam o escudo), pavilhão (manto ou mantel que envolve o escudo), divisas e grito de guerra (palavra ou grupo de palavras usado como incentivo ou ordem) e condecorações (quando o portador de um brasão é também condecorado por qualquer ordem honorífica, esta pode figurar como elemento externo).

No brasão da Família Carrano há um elmo de perfil à destra, com duas grades, próprio de Cavaleiro de pelo menos duas gerações nobres. Ele mostra uma condecoração (colar) e é cercado por paquifes nos esmaltes dourado, azul e vermelho.

O exame do brasão dos Carranos permite-nos conhecer a intenção de quem o elaborou, formando uma ponte entre novas e antigas gerações da Família, daí a sua importância e a necessidade de exame da matéria.

O autor, em viagem à Itália realizada em março de 1997, tomou conhecimento da existência de um brasão da Família Carrano da Sicília diferente do aqui tratado. Ele teria como timbre uma águia e estaria representado em um escudo partido em dois: a primeira parte com campo azul e cinco estrelas de prata e a segunda com fundo prateado e três bandas.


Notas Explicativas:

(1) Vera Lúcia Bottrel Tostes é museóloga, historiadora e professora da UNI-Rio, além de Coordenadora de Documentação e Pesquisa da Fundação Pró-Memória. É autora do livro Princípio de Heráldica. Atualmente, dirige o Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro.

(2) O nome de 'Cruzadas' foi dado às oito expedições empreendidas do Século XI ao Século XIII pela Europa Cristã com o objetivo de tirar o Santo Sepulcro dos muçulmanos. A 1ª Cruzada foi concebida pelo Papa Urbano II em 1095, no Concílio de Clermont, com vistas à conquista de Jerusalém. A oitava e última Cruzada, em 1270, foi conduzida por Luís IX, Rei da França, que faleceu em local próximo a Tunes, enquanto as cidades da Palestina caíam, uma após outra, nas mãos dos sarracenos. O ano de 1291 marcou o fim das Cruzadas.

(3) Membro da Academia Brasileira de Letras e da Academia Brasileira de Filologia, Aurélio Buarque de Holanda Ferreira é o autor do 'Novo Dicionário da Língua Portuguesa', uma das obras mais vendidas no País. Lecionou Português no Curso de Preparação à Carreira Diplomática, do Instituto Rio Branco e na Escola Brasileira de Administração Pública, da Fundação Getúlio Vargas. Exerceu a Cátedra de Estudos Brasileiros na Universidade Nacional Autônoma do México. Foi Diretor da Biblioteca Municipal de Maceió (AL). N. no Passo de Camaragibe (AL) em 3-MAI-1910 e fal. no Rio de Janeiro (RJ) em 28-FEV-1989.

(4) Há muitas informações sobre o Colégio de Armas (ou 'College of Arms') e a Corte de Lorde Lyon (ou 'The Court of the Lord Lyon King of Arms'), nos livros 'The Dictionary of Genealogy', de Terrick V. H. Fitzhugh, e 'Scottish Clan & Family Encyclopedia', de George Way of Plean e Romilly Squire.

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