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Ensaios-->Da Itália para o Brasil -- 10/04/2000 - 15:09 (Pedro Wilson Carrano Albuquerque) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Havia, na metade do Século XIX, um forte movimento dos patriotas italianos a favor da unidade da Itália, dividida em diversos Estados.

Muitos queriam que Pio IX (1) fosse o Presidente da Itália. Com o prestígio do Papa seria fácil destronar os outros príncipes. O firme 'non possumus' do Pontífice transformou o entusiasmo em ódio, revoluções e perseguições.

As notícias sobre os movimentos revolucionários que explodiam em vários Estados agitavam os habitantes da Província de Potenza, na Região de Basilicata, então pertencente ao Reino de Duas Sicílias, Estado que, sob o domínio da Dinastia dos Bourbons, englobava os antigos Reinos de Nápoles e Sicília.

E foi nessa Província, na pequena Comuna de Tramútola, que, no dia 9 de junho de 1853, às duas horas, à rua Casaletto, a Família Carrano passou a ter um novo membro, filho de Giuseppantonio Carrano e de Mariantonia Corcia. O menino,bisavô do autor, recebeu na pia batismal e no cartório local o nome de Nicola.

No dia em que Nicola veio ao mundo, Luigi Tavolaro e Rosaria Calviello aguardavam na Piazza, a poucos metros da residência dos Carranos, o nascimento da Maria Carolina, que saiu do ventre materno em 7 de dezembro do mesmo ano.

A insegurança que tomava conta de todos, com os movimentos armados que cobriam a região, não impediu a comemoração dos eventos com alegria e, certamente, com muito vinho. Então, não se podia prever que as crianças viriam ligar seus destinos pelo casamento, por uma longa viagem e pela morte em terras tão distantes de Tramútola.

Enquanto Nicola e Carolina sugavam, ansiosos, os seios de suas mães, o que se passava no Brasil ?

Encerrado o ciclo das revoluções regionais, que tanto estavam afetando a estabilidade do Império do Brasil, Dom Pedro II, no exercício do Poder Moderador, garantia o pleno funcionamento das instituições e o equilíbrio entre os diferentes interesses provinciais.

A economia brasileira, saindo da prolongada crise que a atingira desde o fim da época colonial, com a decadência da mineração, conhecia, a partir de 1850, um surto de prosperidade que, em princípio, facilitava e favorecia a estabilização política do Império.

Esse progresso permitiu, na década de cinqüenta, o aparecimento de empresas de navegação, a inauguração das primeiras linhas telegráficas no País, a fundação do novo Banco do Brasil (o primeiro, fundado em 1808, havia encerrado suas atividades em 1829) e a construção da primeira ferrovia brasileira e da primeira estrada pavimentada do Brasil (ligando Petrópolis a Juiz de Fora).

Em 1850, quando a massa de escravos no País não alcançava dois milhões de indivíduos, havia sido sancionada a Lei Eusébio de Queiroz, que extinguiu o tráfico negreiro. O aumento do número de escravos passou a depender de seu crescimento vegetativo, o que, no entanto, não ocorreu, devido ao fato de que as más condições de vida elevavam a taxa de mortalidade infantil entre eles.

A expansão da lavoura cafeeira esbarrava na falta de força de trabalho, o que prejudicava o crescimento viabilizado pela abundância de terras, pelo mercado em ampliação e pelos capitais multiplicados, com os lucros em ascensão.

Alguns fazendeiros de visão mais larga começaram a pugnar pela imigração para resolver a falta de mão-de-obra, percebendo que o trabalho assalariado permitiria liberar para outros setores o capital antes empregado na compra de escravos.

De tal posição resultou a regulamentação e oficialização da imigração, em 1860, o que permitiu a obtenção dos trabalhadores tão procurados pelas grandes fazendas.

Como, na época, a Itália passava por grande crise social e política, conjugaram-se os fatores para o início de uma corrente migratória daquele País para o Brasil.

Em 1854, quando Nicola e Carolina ensaiavam seus primeiros passos, voltava à Itália, após cinco anos de exílio nos Estados Unidos da América, o já célebre Giuseppe Garibaldi, que no Brasil, entre 1834 e 1848, havia participado da Guerra dos Farrapos e conhecido Ana Maria Ribeiro da Silva, conhecida como Anita Garibaldi, que se tornou sua mulher e companheira de luta.

Foi Garibaldi que, em 1860, empreendeu uma expedição contra o Reino de Duas Sicílias, após ter reunido voluntários e organizado a Expedição dos Mil ou das Camisas Vermelhas. Com audácia, obteve brilhantes vitórias, tomando Nápoles e aí acolhendo Vítor Manoel II, o Rei da Sardenha, e suas tropas regulares, o que permitiu a criação, em 17 de março de 1861, do Reino da Itália. Nicola e Maria Carolina tinham, então, sete anos de idade.

Em 1866, com a conquista de Veneza, a Itália estava 'feita', faltando, apenas, o reconhecimento pelo Papa da nova situação. A anexação dos Estados Papais - onde se encontrava Roma, que, em 1871, passou a ser a capital da Itália - fez com que o Papa se considerasse prisioneiro do Vaticano e proibisse aos católicos imiscuírem-se em política, o que não facilitou a unificação dos espíritos.

Em seu nascimento, o jovem Estado Italiano viu-se às voltas com problemas tremendos. Era preciso unificar as legislações, as moedas, as forças armadas e as estradas de ferro e criar as infra-estruturas necessárias ao desenvolvimento econômico, o que custava caro e requeria imenso esforço coletivo.

Os particularismos locais mantinham-se acesos e o peso da 'construção' caiu com mais força sobre as classes menos favorecidas. Os italianos do Sul logo se deram conta de que à velha e conhecida exploração dos proprietários de terras viera somar-se a dos homens de negócios do Norte.

Nicola havia passado sua infância alheio a todos esses problemas, correndo pelas ruas de Tramútola com os outros meninos, aprendendo as primeiras
letras e contas, tomando banho nos rios que banhavam a região, ou ajudando os pais a cuidar das ovelhas ou dos irmãos mais novos. Os Apeninos, embora menos elevados que os Alpes, haviam isolado Potenza das outras províncias. Até a sua adolescência, a viagem mais longa deve ter sido para uma pescaria com o pai no Vale de Diano, sem sair da Região de Basilicata.

Não mais criança, Nicola passou a interessar-se pelo que acontecia na Itália e no mundo. As notícias recebidas não eram boas, pois a situação política e econômica do Reino continuava ruim, não dando segurança aos que ali residiam. O jovem sonhava com momentos de paz e prosperidade, mas o tempo passava e seus sonhos não se tornavam realidade.

Passou a trabalhar com o pai nos pastos de propriedade da Família, onde cuidava de rebanhos de bovinos, ovinos e caprinos. Tinha, também, que cuidar, com seus irmãos, das plantações de cereais (principalmente o trigo, o milho e o arroz), oliveiras e videiras.

Por volta de 1876, talvez tenha tido a oportunidade de atravessar os Apeninos e conhecer Salerno e Nápoles, vendo-se, no Golfo de Nápoles, a olhar o Mar Tirreno com deslumbramento. Jogando os olhos meio adormecidos nas ondas que se quebravam nas praias, certamente pensou se do outro lado não estaria o paraíso.

A idéia de procurar outras terras provavelmente aumentou ao ver a pobreza dos habitantes de Nápoles, uma das províncias com maior densidade de população da Itália, ao contrário de Potenza, com pouca concentração populacional. No Porto de Nápoles, centenas de pessoas, de todas as idades, aguardavam os navios que os levariam para as longínquas Américas. Eram anciãos curvados pelas fadigas, homens na flor da idade, senhoras que arrastavam os filhos atrás de si, ou os carregavam ao colo. Tentavam acreditar que a fortuna os esperava, mas na verdade não sabiam bem para onde iam, nem o que os esperava.

Em Tramútola, Nicola viu o seu irmão Carlo Michele partir para a Espanha, onde, algum tempo depois, casou-se com Teresa de Segóvia, teve dois filhos (José e Jesus) e residiu até março de 1880, quando resolveu ir para o Brasil, utilizando o vapor francês 'Senegal'. De sua parte, resolveu atender às recomendações de sua mãe e procurar uma esposa. Seus pais já tinham combinado com os Tavolaros o casamento de Nicola com Maria Carolina.

Carolina não queria o casamento, apesar do empenho de seus pais em convencê-la a aceitar o conterrâneo como esposo, uma vez que ele tinha uma situação satisfatória e a filha já se encontrava com mais de 23 anos de idade, em uma região em que as mulheres iam para o matrimônio quase meninas.

O temperamento obstinado da moça não tornava fácil o seu convencimento. Na verdade, Carolina gostava de outro jovem, não benquisto por sua família, que, posteriormente, teria ido para a Argentina e, segundo consta, formado um grande patrimônio.

Nessa ocasião, Nicola já tinha decidido a sua emigração para o Brasil. O sonho tornou-se forte demais e Tramútola passou a ficar pequena para seus projetos pessoais.

Havia uma corrida emigratória muito grande na Península Itálica. A viagem para o Brasil, a partir de 1870, era paga pelo Governo Brasileiro. Os fazendeiros, carentes de mão-de-obra, comprometiam-se a pôr à disposição dos imigrantes um pedaço de terra para que eles fizessem suas plantações de subsistência. Só para este País vieram, em 1876, 7.000 italianos e, no ano seguinte, 13.000, chegando a 184.000 no decênio subseqüente e a 1.225.120 entre 1876 e 1915.

No Brasil, apesar de uma forte resistência dos antigos senhores de terra, que, como donos de escravos, opunham-se ao que seria uma desapropriação de um capital adquirido, começava, logo após o término da Guerra do Paraguai (2), em 1870, a primeira onda de agitação pública em favor da emancipação dos escravos. Conseqüentemente, foi aprovada, em 1871, a Lei do Ventre Livre, libertando os filhos de escravos. Esta lei só conseguiu fazer que a campanha abolicionista ficasse, a partir de 1880, mais vigorosa do que nunca.

Outrossim, aumentava a necessidade de mão-de-obra nas propriedades agrícolas brasileiras. O País precisava de estrangeiros que pudessem contribuir com o seu desenvolvimento e mandava para a Itália o seu canto de sereia.

Enquanto isso, Nicola continuava em sua luta para conquistar a mão de Carolina. O apoio dos sogros tornou possível a realização do casamento, celebrado em 24 de fevereiro de 1877.

Assim, com alguma relutância, a noiva foi carregada para a casa do marido, seu novo lar. Carolina não quis entrar, pois ainda não aceitava o casamento. Nicola não teve dúvidas, trancou a porta e deixou a esposa do lado de fora.

O comportamento do marido deixou a recém-casada desnorteada e envergonhada. Estava parada à frente da casa, sem saber o que fazer, poucas horas após o seu matrimônio. A salvação foi uma vassoura que encontrou a poucos metros de distância. Carolina pegou-a e passou a varrer toda a área ao redor de sua nova residência, três, seis, nove ou mais vezes, o que a ajudava a reduzir os efeitos do frio. Algumas horas depois, para seu alívio, Nicola abriu a porta. E a noiva, um tanto constrangida, entrou em sua nova residência e na vida de casada, que somente abandonou com a sua morte.

O casamento não havia tirado de Nicola o seu sonho de partir para a América. E ele transmitia a Carolina as notícias que chegavam do irmão, então residente no Brasil. Segundo Carlo, os italianos estavam espalhando-se por regiões muito mais vastas do que toda a Europa, fundando cidades, vilas e colônias agrícolas.

Carlo Michele havia ingressado no Brasil, juntamente com seu filho José, através da Baía da Guanabara, no Rio de Janeiro (RJ). Como qualquer estrangeiro que aqui entrava como imigrante, desembarcaram na Ilha das Flores, onde, após registrarem seus dados em livro próprio da política de colonização e imigração, hoje arquivado no Arquivo Nacional do Rio de Janeiro, foram submetidos a exame do estado de saúde, uma vez que os portadores de doenças infecto-contagiosas tinham de permanecer em regime de quarentena antes de serem encaminhados ao local de destino.

Decidiu o casal Nicola e Carolina, após o recebimento de notícias de Carlo Michele, por uma solução conciliatória. O marido viajaria para o Brasil, por conta própria, e se encontrasse condições melhores que as existentes em Tramútola, retornaria à Itália para apanhar a esposa.

E Nicola, com muita dor por separar-se da mulher e dos pais, dirigiu-se ao Porto de Nápoles, em um frio dezembro de 1881, para a viagem tão desejada.

O cuidado com o dinheiro que carregava era grande, pois muitos perdiam suas economias nas mãos de aproveitadores, restando-lhes apenas lágrimas, gritos, imprecações e, por fim, o regresso ao lugarejo de origem. Os próprios agentes recrutadores enganavam o emigrante mais crédulo com trapaças e ardis, principalmente antes do embarque, seja subtraindo-lhe taxas absurdas, seja encaminhando-o para local diverso daquele onde entendiam dirigir-se, seja colocando-o em embarcação em precárias condições.

Finalmente, Nicola embarcou para o Brasil. Com apitos festivos, o vapor, com grande número de passageiros, abandonou o porto, rasgando as águas do Tirreno. Nicola, que provavelmente ficara a olhar com deslumbramento, alguns anos antes, as ondas daquele mar, pensando no que haveria do outro lado, agora iria realizar seu sonho. Na proa, via distanciar-se o Continente. Da família, já havia se despedido em Tramútola, certamente com muita emoção.

O vapor passou pelas Ilhas Ischia (3) e Capri (4), á saída do Golfo de Nápoles. Pouco depois, aparecia a Ilha da Sardenha. A embarcação deslizava sobre as águas do Mar Mediterrâneo.

Podemos imaginar a reação de Nicola. Certamente não tinha enjôos, como outros passageiros, pois o que via dava-lhe uma agradável sensação de que estava deflorando o mundo com seus olhos gulosos. Assim, foi com grande prazer que viu aproximar-se o Estreito de Gibraltar (5). Os tripulantes tinham aconselhado todos os passageiros a se recolherem aos aposentos a eles destinados, mas Nicola insistia, preguiçosamente, em ficar ali na proa, recebendo no rosto aquele vento que esfriava suas faces mas esquentava seu coração.

Viu aproximar-se a Espanha, do lado direito. Ali havia residido, durante anos, o seu irmão Carlo. Chovia e ventava quando passou pelo Estreito de Gibraltar, mas Nicola não se retirou de seu mirante (afinal, ele já estava acostumado com as fortes ventanias de Tramútola). Olhava, maravilhado, o rochedo de Gibraltar, gigantesco bloco calcário com 425 metros de altitude, em cujo pé estava situada a pequena cidade de Gibraltar (colônia britânica desde 1713, apesar da insatisfação dos espanhóis com tal situação). Se conhecesse o Pão de Açúcar (6), acharia o promontório muito parecido com aquela elevação.

Do lado esquerdo, estava o Continente Africano. Do vapor Nicola avistou o território da Argélia (7) e o rochedo que domina Ceuta (8), onde, juntamente com
Gibraltar, se apoiavam as Colunas de Hércules, conhecidas pelos antigos como as portas do Mediterrâneo.

Daí para diante, era céu e água, o que tornava monótono o panorama à frente dos tripulantes e passageiros. À medida que o vapor avançava em direção ao Rio de Janeiro, RJ (9), o frio do inverno europeu era substituído pelo calor do verão sul americano. A embarcação passou a navegar em área mais próxima ao litoral brasileiro, o que transmitiu grande entusiasmo aos seus ocupantes.

Houve mais emoção, contudo, na chegada à Baía da Guanabara (10), no Rio de Janeiro (RJ), onde a tripulação do vapor deu por encerrada a sua missão. A paisagem que se apresentou aos recém-chegados era deslumbrante, deixando entusiasmados os que nunca a tinham visto.

A maioria dos passageiros, composta de imigrantes, foi encaminhada à Ilha das Flores, para a sua distribuição em território brasileiro. Nicola, contudo, tinha viajado como turista, para visitar parentes que aqui se encontravam, e, conforme orientação recebida de Carlo Michele, dirigiu-se, com a maior rapidez possível, para Piraí, RJ (11), onde se encontrava o irmão.

Quando Nicola chegou a Piraí o Município ainda se encontrava em fase de prosperidade, principalmente pela cultura do café, cuja produção em 1880 atingiu 4.133.466 sacas de 60 quilos.

Em função disso, muitos imigrantes italianos haviam escolhido a localidade para ali viverem, entre eles membros da Famílias Paciello, Bacca, Cantisani, Tavolaro, Fliorillo, Taranto, Cople, Nola, Improta, Ceorceari, Ragone, Marca, Galliani, Torturella, Ramiconi, Cariello e Prieto.

A hospitalidade dos piraienses encantou Nicola que ainda se encontrava no Brasil em 15 de dezembro de 1882, quando foi padrinho de batismo de seu sobrinho Júlio Carrano.

Poucas semanas depois, Nicola retornou a Tramútola, disposto a convencer a esposa a transferir-se definitivamente para o Brasil.

Em 14 de junho de 1883, Nicola e Carolina, esta já com o filho José em seu ventre, partiram de Nápoles para o Brasil na 3ª classe do vapor 'La France', da 'Societé Générale de Transports Maritimes Vapeur', proveniente de Marselha (12), na França, e conduzido pelo Comandante Romanes.

Mais uma vez Nicola atravessou o Oceano, o que viria repetir-se em outras oportunidades. Carolina Tavolaro certamente deve ter enjoado durante a viagem, diante do estado de gravidez.

No dia 4 de julho de 1883, o 'La France' ancorou na Baía da Guanabara. Ao contrário da viagem anterior, em que Nicola encontrou o Rio de Janeiro em pleno verão, desta vez o desembarque deu-se em uma cidade fria e nevoenta.

Ao descer do vapor para um barco que a levaria até o cais, Carolina contou com o auxílio de um escravo, cuja pele escura chamou sua atenção, pois nunca havia visto alguém daquela cor.

Em Piraí, onde Nicola estabeleceu-se como comerciante, nasceu, em 1º de fevereiro de 1884, José, o primeiro filho do casal, que havia sido concebido ainda em território italiano. Posteriormente, viriam ao mundo, na mesma localidade, as filhas Maria Antônia, ou Antonieta, e Rosária.

Entretanto, a próspera Piraí ingressou, a partir de 1888, ano da abolição da escravatura, em rápido processo de decadência. Assim, a sua produção de café, que havia atingido mais de quatro milhões de sacas em 1880, caiu para 1.309.271 sacas em 1889.

Em função disso, muitos italianos que residiam em Piraí mudaram-se para municípios da Zona da Mata Mineira (13), onde o progresso era maior, estimulado pelo desenvolvimento da agropecuária.

Distantes da terra em que nasceram, Carolina Tavolaro faleceu no Distrito de Itapiruçu (14), no Município de Palma, MG, em 1910, com 57 anos de idade, e Nicola Carrano expirou em Recreio, MG, em 1920, com 67 anos de idade.

Notas Explicativas:

(1) Pio IX, ou Giovanni Maria Mastai Ferretti, n. em Senigállia, Ancona, Itália, em 1792 e fal. em Roma em 7-FEV-1878. Papa de 1846 a 1878, foi o pontificado mais longo depois do de São Pedro. Destituído pela Revolução de 1848, foi reinstalado no trono pontifício em 1849. Durante o seu pontificado houve a proclamação do dogma da Imaculada Conceição (1854), as aparições de Nossa Senhora em Lourdes (1858), o Concílio Vaticano (1870) e a aprovação da Pia Sociedade Salesiana, fundada por São João Bosco.

(2) A Guerra do Paraguai, também conhecida como Guerra da Tríplice Aliança, foi um conflito que envolveu, no período de 1864 a 1870, o Paraguai, o Uruguai, o Brasil e a Argentina. O Presidente Francisco Solano López, do Paraguai, precipitou as hostilidades ao invadir o Brasil em uma iniciativa expansionista movida pela carência de portos litorâneos e pela intervenção brasileira no Uruguai. O bem treinado exército paraguaio de 600 mil homens foi dizimado durante os seis anos de combate.

(3) A Ilha Ischia, situada no Golfo de Nápoles, é maior que a de Capri. Pela sua beleza, atrai grande número de turistas.

(4) A Ilha Capri, situada no Mar Tirreno, no Golfo de Nápoles, é famosa por seus encantos. Ali Tibério passou os últimos anos de sua vida.

(5) Estreito de Gibraltar: localizado entre a Espanha e Marrocos, liga o Mediterrâneo ao Atlântico.

(6) Pão de Açúcar: penhasco que se eleva a 385 metros acima do nível do mar, na entrada da Baía da Guanabara, no Rio de Janeiro (RJ).

(7) Argélia: país que se estende da costa do Norte da África em direção ao Sul, atravessando grande parte do Saara e cuja estreita faixa costeira faz fronteira com o Marrocos, a Oeste, e a Tunísia, a Leste. Em 1962, apesar da resistência francesa e da população branca da Argélia, o Presidente Charles de Gaulle negociou o fim das hostilidades no Acordo de Évian e um referendo garantiu a independência argelina.

(8) Ceuta: porto no Mediterrâneo, situado na frente de Gibraltar. Sua tomada aos mouros por D. João I, Rei de Portugal, em 1415, marcou o início das conquistas portuguesas na África. Pertence hoje à Espanha.

(9) Rio de Janeiro: capital do Estado do Rio de Janeiro localizada na entrada da Baía da Guanabara. Fundada em 1º de março de 1565 por Estácio de Sá, a cidade, com uma área de 1.171 km2, foi, durante longo período, o mais importante centro comercial e financeiro do País, perdendo a posição para São Paulo. É grande centro cultural, oferecendo incontáveis atrativos para o turismo.

(10) A Baía da Guanabara, localizada no Estado do Rio de Janeiro, é a segunda maior baía brasileira, superada em área apenas pela Baía de Todos os Santos, na Bahia. Trata-se de uma depressão alongada da Baixada Fluminense, cercada pelos Maciços da Tijuca e de Niterói. Em seu interior situam-se as Ilhas do Governador, de Paquetá, do Fundão, de Sapucaia, de Brocoió, do Bom Jesus, das Escadas, das Cobras, das Flores e Fiscal. Suas margens banham a costa dos seguintes municípios: Rio de Janeiro, Duque de Caxias, Niterói, São Gonçalo, Magé e Itaboraí.

(11) Piraí, cidade e município do Estado do Rio de Janeiro, situa-se à beira do rio Piraí. O Município possui população superior a 24.000 habitantes. Informações sobre a localidade encontram-se na obra 'Sant´Ana de Piraí e a Sua História', do Padre Reynato Breves.

(12) Marselha: cidade do Sul da França, situada na costa mediterrânea, na embocadura do Ródano. Núcleo de um grande conjunto portuário e industrial. Possui cerca de 900.000 habitantes.

(13) Zona da Mata Mineira: localizada no Leste de Minas Gerais, foi considerada 'área proibida' até o fim do Século XVIII, procurando-se, assim, impedir o 'descaminho do ouro'. Somente em 1805, com o esgotamento das minas, a Coroa permitiu a abertura de fazendas na região. O ciclo cafeeiro, com rápida ascensão a partir de 1832, e a introdução do gado leiteiro permitiram um grande desenvolvimento da agropecuária na Zona da Mata Mineira.

(14) O Distrito de Itapiruçu foi criado pela Lei nº 3.171, de 18-OUT-1883, com o nome de 'Tapiruçu'. Pertencia ao Município de Leopoldina (MG). Com a divisão administrativa de 1911, passou a pertencer ao Município de Palma (antigo Município de Capivari), com o nome de Itapiruçu.
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