Se brindo as horas mais altas da noite,
Vejo um sol branco que não é de agora,
Vejo dias que não são das flores,
Cheiro flores que não são da hora.
E me desce a garganta um triste amargo,
Espalhando cinzas em meu corpo louco.
O que me falta, eu sei, afago
De uma mão lisa e de cabelo solto.
E vôo, me espalho,
Nos pés frios não firmo,
No lapidar da dor trabalho,
No vento longo sussurra o sino,
Versos de terras que eu não sei onde
E minha alma busca, como que tesouro,
Mas o sorriso de meus olhos se esconde,
Se essa busca toma um caminho outro.
Respiro as sombras que me são pesadas,
Caio sobre os meus joelhos doídos
E o escuro som dessas horas passadas,
Traz muito medo dos dias vividos.
Vejo em mim, lenço para as lágrimas,
Que são geladas e me atormentam.
A dolorosa cor das rosas ácidas
Diz: “Tuas próprias dores é que te alimentam”.
E sacramentam que eu sou só meu,
Não me divido, nem empresto ou vendo.
Não sou Deus, Satã, muito menos Orfeu,
Sou só o que me vêem sendo.
E me amo da forma que sou,
Sou folha, fruto, verso e colibri.
Vejo um caminho, pelo qual eu vou,
Vejo-me feliz, porque me descobri.
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