Enquanto na TV as enchentes continuavam ameaçando a população da cidade de São Paulo, e o Rio de Janeiro era mostrado como um lagar de corpos humanos, produzindo um tinto de sangue e lágrimas aos pés de barro de um Cristo de pedra, saímos de Ribeirão Preto, em excursão, às dezenove horas, e levamos o sol junto conosco no Marco Polo da Rápido D’Oeste, 3570.
Foram cinco dias de calor e brisa suave, revezando-se na realização de nosso sonho de verão, vivido no quarto 510 do Centro de Lazer dos Comerciários do Estado de São Paulo, na divisa entre Cidade Ocian e Vila Mirim, na Praia Grande.
Chegamos ao Centro de Lazer na madrugada do dia vinte, após percorrer o Rodoanel– Trecho Sul, e às oito da manhã, café completo já tomado, e munidos de cadeiras, guarda-sóis, esteiras, óculos escuros, muito bronzeador e protetores solares, invadimos a praia.
Linda , a da barraquinha — Kaaba de nossa Meca no litoral sul — e Lucas, seu filho, futuro engenheiro de petróleo, já nos esperavam com as cervejas, refrigerantes, pastéis, camarões, batidas, e água, muita água de coco.
Espaço delimitado, e devidamente “sundownizado” , fiz minha visita diária ao monumento à Iemanjá, levando velas e meus agradecimentos por mais um período de férias na praia : Odoiá, minha mãe, salve a Rainha do Mar.
Chegado o momento de o sol se pôr, compôs-se o êxodo dos brancos avermelhados, das morenas cor de canela, das crianças untadas de protetores solares e enrolando-se nas linhas de pipas, dos idosos cobertos por toalhas, dos alegres jovens em algazarra, rumo ao conforto do Centro de Lazer: sauna, piscina, música, recreações, jogos, cinema.
No quarto , enquanto minha família acompanhava as novelas e o BBB 11, eu colocava a leitura em dia com o Falso Mar, Falso Mundo , livro de crônicas de Rachel de Queiroz, para depois, de madrugada, assistir aos jogos da seleção brasileira no Campeonato Mundial Sub-20 de futebol: Paraguai, Colômbia, Bolívia e o incrível goleador Neymar — que infelizmente não joga no meu São Paulo Futebol Clube.
Essa era a rotina, mas havia sempre mais.
Havia o passeio pela feirinha, as tatuagens Henna ( desenhadas por hábeis mãos nas costas do Rodrigo, meu filho) , a compra de lembranças para alguns familiares; Éder , o maior e mais divertido vendedor do mundo, com porta-latas de isopor, as apresentações do Projeto Verão Sem AIDS, levando para um palco montado na praia muitas atrações musicais e as garotas Verão 2011.
Além de Iemanjá — minha orixá de cabeça — visitei as esculturas em metal de Oxalá , Ogum, Exu, deixei rosas amarelas para Oxum,— Aiê-iê , minha orixá de frente.
No último dia, uma terça-feira de manhã, o oceano se fez estrela e brilhou escaldante, tomando conta de todo o palco-horizonte — um céu verde-garrafa estendido no chão, coberto de espumas branco-oxalá — fazendo-me sentir, mergulhado nele, uma taça em que Netuno, Deus dos Mares, em festa de despedida, depositava seu champanha cósmico, sob os aplausos da Serra do Mar que, ao fundo, a tudo assistia, coberta de densa neblina.
À tarde, dia de feriado em comemorações dos 457 anos da cidade de São Paulo, deixamos o litoral, rumo a Ribeirão Preto, ainda iluminado pelo sol, e, em poucos minutos, já estávamos nos deliciando com a beleza natural, e a incrível obra de arte de nossa engenharia, em que se transformou o Rodoanel Mário Covas, sob concessão da Ecovias: caminho seguro e rápido, uma rota, no verão, para se fugir das enchentes constantes nas marginais Tietê e Pinheiros.
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