I
Estranhas, caro amigo, a rude fala
E pões-te prevenido p ra comigo?
Pois saibas que esse mal é bem antigo,
Que a humanidade ouve e sempre cala.
Se alguém vem avisar-te do perigo
De que toda maldade o vício instala,
A rima jamais deves de execrá-la,
Mas considera apenas que te instigo.
Toda consciência abre-se p ro bem,
Pois é o que todos querem para si,
Embora poucos saibam que convém
Pensar no que haverá de mau aqui,
Se não derem amor para ninguém,
Que foi assim que tanta dor sofri.
II
Ouvir lições nos deixa mais ativos,
Quando chegar a vez de trabalhar,
Mas é preciso ir bem devagar,
Nesta de influenciar os seres vivos.
Os encarnados querem só gozar,
Sendo, p ra isso, muito criativos,
Buscando eliminar todos os crivos,
Embora nunca saiam do lugar.
Forte tristeza, ao saber que deram
Co’os burros n água, em cada encarnação,
Que os desperdícios sempre dores geram,
Por se querer levar em viciação
A vida. É quando muitos desesperam,
Por terem dito à Lei apenas “não”.
III
O compromisso é anterior à vida:
Não há como cumprir o tal destino,
Fugindo de Jesus ao bom ensino,
Porque, na carne, o espírito duvida.
A consciência evita o desatino,
Pois a fazer o bem sempre convida.
A gente é que não quer dar-lhe guarida,
Dizendo: — “Co a Doutrina eu não combino!”
Sofra, então, no etéreo, esse exagero,
Que a perdição provoca o desespero
De retornar sem muitos de seus trunfos.
O corpo já não tem o mesmo viço,
Para lembrar que existe o compromisso,
Ao menos, de alcançar alguns triunfos.
IV
Parece complicado de entender
Que o espírito encarnado já existia.
Alguns vão suspeitar que é só poesia,
Que o médium é que tem todo o poder.
Caso não seja assim, como seria,
Qual outra forma existe de dizer,
Para o encarnado bem compreender,
Do etéreo esta sutil filosofia?
É uma questão de fé, que Jesus Cristo
Expôs com tal clareza no evangelho
Que o verso se envergonha ao dizer isto:
— “Benditos os que crerem, sem tocar
Nas chagas.” — Eis ensino muito velho,
Que a humanidade vive a rejeitar.
V
Escreva, então, você um bom versinho
E escolha devagar a sua rima,
Buscando conquistar do povo a estima,
Tratando a toda a gente com carinho.
Não pense que a palavra legitima
O que o povo pensar ser só espinho.
Por mim, posso dizer: — “Não me abespinho,
Pois sei que o tempo toda dor sublima.”
No entanto, é cá no etéreo que isso ocorre,
Que o tempo para nós não tem destaque,
Enquanto, p ro encarnado, é o mais que corre.
Se aí não melhorar, cá leva um baque,
Que o tempo gasto vê, depois que morre:
Aprendizado simples de almanaque.
VI
O nosso médium leva hora e meia
P ra receber os versos, cada dia,
São seis sonetos, que você faria,
Com mais beleza, enquanto se barbeia.
Eis que esta turma o povo desafia,
Em rima pobre, dura, tola, feia,
Sabendo que esse amigo titubeia,
Por nunca haver quem leia a tal poesia.
Os versos são serenos exercícios,
Que nos darão, depois, a cor dos vícios,
Que deveremos pôr nesta berlinda.
Não escondemos, pois, a nossa idéia,
Nem prometemos ser a panacéia:
Há versos mil para fazer ainda.
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