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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->Sérgio Bianchi: o cinema da indignação -- 28/05/2003 - 05:11 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O evento "Fotograma" (SESC/Araraquara) proporciona, a uma platéia de cinéfilos e aspirantes ao cinema, proximidade com cineastas consagrados. Na última 6a. feira, foi a vez de Sérgio Bianchi. Se ele próprio não nos tivesse enviado cópias de "Mato eles?" e "Romance", ficaríamos limitados às cenas de "Cronicamente Inviável", seu maior sucesso, único de seus filmes disponível nas locadoras.

Perguntei ao Rodrigo (Cine Campus) que seqüência escolheríamos. Ele não hesitou: "Todas". O próprio cineasta nos dizia ter dificuldades para se lembrar do que fez em cada película. Cinema de autor e "cinema de montagem", cada filme é um painel imagens, sempre chocantes, da nossa inviabilidade.

Herdeiro do Cinema Novo? Nem tanto. Anos 60? Os anos 70 foram muito mais importantes. Todo mundo ainda pensa e se veste como nos anos 70.
Extermínio dos povos indígenas, burrice das elites, opressão, desigualdade, fome, miséria? Sérgio Bianchi estudou Sociologia, mas responde e não responde à pergunta sobre de onde saem os longos discursos que seus personagens desfiam com distanciamento e ironia tipicamente brechtianos. Brecht, uma influência admitida.

Mas, o que acha dos intelectuais acadêmicos este demolidor de um pensamento que só faz manter as contradições, ao invés de evoluir para sua superação, como se espera da boa dialética? Vem aprendendo a admirá-los, ele, que fez rir a platéia com a encenação do péssimo aluno que diz ter sido, a desfazer dos professores e a dizer "eu não vou na aula porra nenhuma". Ao ouvir que os intelectuais citados eram marxistas, pergunta: "Então é bom ser marxista?"

Acertamos na escolha da seqüência final de "Mato eles?". Ao filmar caciques e representantes índios, um deles, velhinho, partiu para a provocação: "E você, quanto ganha para vir aqui filmar a gente?" O cineasta parecia justamente interessado em discutir essa questão vital para o documentarista: a postura ética.

Ao ver "Cidade de Deus", deixou a sessão na cena em que percebe crianças aterrorizadas de fato para produzir efeito cênico. Isso ele não admite. Mas teria realizado um balé de aleijados, vítimas da talidomida.

São polêmicas suas encenações das falas alheias. Mas, mesmo quando filma o autor da fala, parece encenado. Em "Mato eles?", o Bispo de Curitiba se enfurece. A pergunta rouba-lhe o tom angelical e a imponência. O prelado só não ouviu os aplausos frenéticos, colados depois na trilha sonora.

Sobre "Romance", Bianchi parece desgostoso com o envelhecimento das imagens. Chegou a pedir que a projeção fosse cortada. Com o novo filme, tampouco está satisfeito. Vem aí um Sérgio Bianchi para a HBO, traído pelos mecanismos de uma produção que o impossibilitava de criar livremente. Aos 54 anos, diz sentir a senilidade, para retornar como sempre à auto-ironia com que se esquiva das armadilhas dos discursos prontos.

De "Cronicamente Inviável", a seqüência escolhida o emocionou. Era como se a visse ali pela primeira vez. Um intelectual faz um discurso enlouquecido sobre a maravilha que é dispor de lugares que se podem destruir sem explicações, pelo prazer de destruir. A câmera sobrevoa a mata calcinada, a terra destruída, a imensidão verde que ainda há por destruir, e corta bruscamente para a Baía da Guanabara, ao som da bossa-nova, essa nossa identidade de exportação que se contrapõe à nunca alcançada identidade para consumo interno e de todos.

Não, não vai se chamar "Cronicamente Viável", como chegou a pensar, o próximo filme. Sérgio Bianchi não vai fazer o cinema da era Lula. Alguma coisa só pode estar muito errada, quando a burguesia festeja leiloando a coleirinha de diamantes do gatinho para doar aos pobres.

No gravíssimo quadro das nossas inviabilidades, viável mesmo só a indignação permanente. Sérgio Bianchi é um cineasta brasileiro indignado.
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