Usina de Letras
Usina de Letras
144 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62266 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10450)

Cronicas (22539)

Discursos (3239)

Ensaios - (10379)

Erótico (13571)

Frases (50658)

Humor (20039)

Infantil (5450)

Infanto Juvenil (4776)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140816)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6203)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->Esporte e preconceito -- 14/07/2000 - 22:48 (Rodrigo Teles Calado) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
iência é coisa boa", afirma Rubens Alves, num dos seus textos. Nem sempre esta assertiva é verdadeira. Um dia a ciência resolveu afirmar que o negro tinha ossos mais pesados e por isso eles não se destacavam em certos esportes, como exemplo temos a natação.



Era uma afirmação científica e por isso mesmo "incontestável", não sabendo alguns que todo saber científico não é, a priori, definitivo.



Tendo como exemplo o destaque baiano Edvaldo Valério Filho, terceiro no "ranking" brasileiro dos 100 metros na natação, tecerei alguns comentários no sentido de justificar o título deste texto.



A questão inicial é extremamente controversa , por exemplo, como é que o negro se destaca em esportes como atletismo, basquete, futebol e em contrapartida, quase nem aparecem em Iatismo, Automobilismo, Equitação, Tênis e Natação? Será, como afirma a fisiologia, por causa dos ossos mais pesados? Os mais apressados dirão que as ausências acima é a prova cabal de que a fisiologia está mais do que certa, será mesmo?



A natação já teve um ganhador negro no borboleta, o primeiro a conseguir uma medalha de ouro em toda a história das Olimpíadas, o atleta do Suriname, Anthony Nesty, derrotando ninguém menos que Matt Biondi. Recordo-me, neste momento, de um técnico baiano que chegou a afirmar que fora uma sorte isso ter acontecido, em outras palavras, aquilo nada mais foi que um acidente de percurso, Matt Biondi não se esforçou como devia, pois se tivesse esticado o braço um pouquinho mais a teoria da fisiologia não estaria neste momento sendo contestada!



Acho que não devemos perder de vista que existe um componente que é ‘esquecido’ pelos defensores da tal tese(a dos ossos mais pesados) , as oportunidades são iguais para todos, mas as condições, estas são muito diferentes. Por exemplo, é só desejar entrar num shopping que qualquer um pode fazê-lo, agora para consumir é preciso TER. No exemplo do atleta do Suriname, este treinou para as Olimpíadas nos EUA!



Bem, alguém pode estar se perguntando por que tudo isso. O que me levou a escrever estas linhas foi a reportagem veiculada pelo jornal diário baiano A TARDE, no dia 25/10/98, cujo título era: "Natação baiana pode ir a Sidney" onde não só existe uma pequena biografia do jovem Edvaldo Valério filho como também perspectivas do garoto em relação às suas futuras performances. A discussão a ser levantada tem muito a ver com a tal da fisiologia, segundo ela Valério não estaria entre os primeiros do seu esporte porque teria os ossos mais pesados; estaria Valério negando um dogma científico? Ou ele nada mais é que um garoto de sorte e seus oponentes, de outras etnias, têm deixado que ele os vença?



Não senhores(as) o que de uma forma ou de outra o Valério vem mostrando é que se as condições forem favoráveis, sejam "azuis", "verdes", ou "alaranjadas" todas as etnias têm possibilidades de chegar entre os primeiros no esporte, neste caso específico a natação!



Mas não acaba aí o quão dissimulada está, nas nossas relações, a visão preconceituosa que tem na fisiologia seu sustentáculo, existe um equívoco, do autor da reportagem, o jornalista Adelmo Romeiro, quando questiona o jovem Valério sobre a discriminação e o preconceito, são estas literalmente as palavras do autor da matéria: ‘Você já foi vítima de discriminação nos meios da natação por ser um atleta de cor?’ E o jovem Valério responde com a sinceridade de um adolescente: ‘Não. Nem discriminação, nem preconceito. Nada’.



Para não ficar parecendo que estamos caminhado para o ‘politicamente correto’, devemos avisar que Salvador é uma cidade cuja a maioria da população tem sua ancestralidade na África. Os negros aqui chegaram e construíram suas crenças e religiões, mesmo tendo toda a adversidade gerada pela situação de escravidão que foi imposta a esta etnia,(ou etnias?) neste país.



Voltando ao caso do Valério, acho que deve ser um dos poucos afro-brasileiro que não sofreu qualquer tipo de discriminação, sendo negro nesta cidade dissimulada que é Salvador, mesmo porque a discriminação em alguns meios é sub-reptícia, disfarçada ... a própria pergunta do repórter já denota isso: "...um atleta de cor?" esta expressão muito conhecida por estar encharcada de preconceito, era muito usada pelos sulistas americanos quando se referiam aos negros, era assim que aqueles que acreditavam em superioridade de etnias classificavam os negros considerados inferiores, até por sua condição de escravos.



Fiquei realmente surpreso que, às portas do século XXI uma expressão usada por Nina Rodrigues ainda apareça para se referir a uma pessoa cujo padrão não esteja inserido no modelo europeu.



Concluindo, gostaria de dizer que pessoas como Valério, Jesse(James) Owens e Anthony Nesty negam os dogmas preconceituosos da ciência mostrando como a ciência é sempre partidária da classe que está no poder. É bem possível que apareçam alguns ‘"fisiologistas"’ e tentem provar que Anthony Nesty não é negro. E afirmem que Valério não é afro-brasileiro. Bem, aí só o próprio Valério poderá contestar ou não.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui