Não, eu não tenho
razão em tudo.
Nem em poucas coisas.
Eu não tenho razão em nada.
Não, eu não tenho razão
nem na hora do banho
– do uso do cotonete,
do sabonete –,
nem em fazer promessas
para o ano inteiro.
Nem em janeiro.
Não, eu não tenho razão
nem no carnaval,
nem no bloco
do eu sozinho,
nem na saudade,
nem na dor de cotovelo.
Nem em fevereiro.
Não, eu não tenho razão
nem no sofrimento,
nem no jejum a pão e água,
nem no Pai Nosso,
nem na volta às aulas,
nem no sapato com seu laço.
Nem em março.
Não, eu não tenho razão
nem com a minha irmã,
nem com meu pai,
nem com minha outra irmã,
nem com a santa
que me pariu.
Nem em abril.
Não, eu não tenho razão
nem em casa
com meus discos,
nem com a obra poética
de Fernando Pessoa,
nem mesmo quando saio.
Nem em maio.
Não, eu não tenho razão
nem comigo mesmo,
nem com meu corpo
– à exceção dos pés –,
nem com meu nome,
sem acento, Junior.
Nem em Junho.
Não, eu não tenho razão
nem no sentimento,
nem na paixão
pela estrangeira,
nem no que peço,
nem no que juro.
Nem em julho.
Não, eu não tenho razão
nem com o azar,
nem com a loteria esportiva,
nem na hora do gol,
nem na hora de driblar,
nem com o sexo oposto.
Nem em agosto.
Não, eu não tenho razão
nem no meu sono,
nem com meu sonho,
nem na chuva,
nem na primavera,
nem com o tempo.
Nem em setembro.
Não, eu não tenho razão
nem na infância,
nem na paixão mais velha
pela minha prima,
nem na tristeza
de não andar no muro.
Nem em outubro.
Não, eu não tenho razão
nem na rede que balança
no 8º andar,
nem quando era criança,
nem antes, na barriga,
quando eu nem me lembro.
Nem em Novembro.
Não, eu não tenho razão
nem na alegria,
nem no pôr-do-sol,
nem no violão,
nem na morte,
nem na rima.
Nem em dezembro.
Razão em tudo?
Nem em poucas coisas.
Eu não tenho razão em nada.
Não, eu não tenho.
Eduardo Loureiro Jr. |