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Erotico-->6. PREPARAÇÃO E SELEÇÃO -- 04/12/2002 - 06:43 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Foi o primeiro momento de real serenidade, desde tempos da mais remota juventude. Passei um período desacordado, sem sobressaltos. Conforme Honorato havia prevenido, cânticos soaram, como em abençoada catedral.

Ao despertar, senti-me fortalecido mas incapaz de me movimentar. Havia sofrido tremenda cirurgia perispiritual. Naquela época, não sabia designar os eventos que me circundavam. Faço-o agora, consciente de como se dão os primeiros socorros, em campanha de resgate.

Se lhes lembrar os acampamentos médicos de emergência, em plena batalha, darei ligeira idéia dos serviços que se prestam aos inválidos, nessas ocasiões. É a preparação indispensável, para que a vibração não seja tão deletéria ao se adentrar o plano espiritual correspondente à próxima esfera, onde não se permitem espíritos perniciosos, que demandariam auxílio superior às forças existentes nas primeiras linhas socorristas.

No momento anterior ao atendimento dos enfermeiros “bioplásticos”, se tivesse sido admitido no âmbito de atendimento hospitalar em estado perispiritual tão andrajoso, teria causado incalculável transtorno para todo o sistema de assistência ambulatorial.

Preciso dizer que todos esses pensamentos me foram passados pelo amoroso intercessor, para que me compenetrasse de que deveria cooperar.

— Se você não se ajudar primeiro, não alcançará ser ajudado. Mais tarde, cada pequenina sutura fluídica deverá ser retribuída, com muito amor. Paga-se a caridade com caridade e a caridade só se faz com amor.

Aceitava as palavras, contudo, sem atinar direito com o sentido delas, porque me via extremamente preocupado com o fato de vir a ser arremessado de volta à vida errante das Trevas.

— Por aqui, a existência, apesar de triste, de deprimente, não sofre os mesmos horrores. Quem perambula pelo Umbral se vê muito mais estimulado ao arrependimento. É que o sofrer se atenua na prática das ações. O inútil desta estadia está em que nem tudo o que se desenvolve se dá no sentido do soerguimento moral. Aqui, as vibrações, por atraírem seres de igual tônus sensitivo, se conjugam para o efeito da maldade. Agradecem aos Céus os que se vêem estimulados a contrariar a vontade do grupo. Em todo caso, sempre há a possibilidade de se volver à Crosta, para envolvimentos com os encarnados. A maioria não se aproveita dessas viagens para o aprendizado das leis evangélicas. Mas os que se deixam influenciar por pensamentos bondosos carreiam pequeninos ganhos conscienciais, de sorte a atrair para si a atenção dos visitadores. Estes têm a função de despertar para o lado melhor da personalidade perturbada, levando muitos a fazerem jus às oportunidades de redenção.



Meu bisavô permanecia o tempo todo a meu lado, transmitindo-me por telepatia as informações que minha curiosa intuição requisitava. Conversava também comigo, principalmente no sentido de me fazer ver que o tempo está a serviço das criaturas. Enfatizava que nada poderia vir fora de época, no apressuramento natural de quem quer livrar-se do mal, da dor, da angústia.

— A lei que vige neste campo é a de causa e efeito.

E prosseguia as explicações com clareza, de maneira simples, dando exemplos que, se repetidos aqui, iriam provocar o riso. Imaginem se eu não era capaz de saber que, se tocasse em ferro em brasa, iria esturricar-me. Mas ia avante e tirava conclusões morais. Aí me perdia no emaranhado das razões, não sabendo concatenar as conseqüências.

Diante das hesitações, acrescentava, lúcido:

— Dê tempo ao tempo. Eu mesmo ouvi estes dizeres muitas vezes, sem compreensão. Você não pense que seja o único sofredor. Desde que o mundo, o universo, a criação se deu, os seres vivem na ânsia de juntar cada efeito às suas causas. Na verdade, os erros de interpretação nesse setor é que nos fazem incidir nas impropriedades da violência, contra o que quer que seja.

Vendo-me cansado, parava. Pedia ao Pai que me desse luz, que me compusesse perante a existência, que admitisse que dera causa aos males por que perpassara.

Eu aceitava de bom grado as observações mas não entendia por que o Criador iria preocupar-se com os seres mais insignificantes, ele, que tudo podia, que tudo sabia, que tudo administrava.

— Mais tarde, meu filho, você poderá julgar das contradições dos pensamentos.

Mudava-lhe eu o rumo dos temas. Queria saber se tudo era deserto naquela dimensão obscura.

— Nesta região, existem muitas cidade prósperas, como na Terra, onde os sentimentos mais baixos regem a intelectualidade, de forma que tudo se parece muito com o que vemos lá: crimes, lutas, rios de sangue. A guerra fratricida, gerada pelo desejo do poder, separa os irmãos. Muitos são banidos e vão constituir aglomerações, aldeias, vilas, fortes, cidadelas, urbes, metrópoles. Cada qual com as características das anteriores. Delas não nos aproximamos, que o raio das freqüências hostis e degenerativas se estendem por muitos quilômetros.

Não compreendia que perigos poderiam correr os seres apaziguados pelas virtudes superiores. Achava que havia exagero nas descrições.

— Dê tempo ao tempo, querido. Dê tempo ao tempo.



Estagiamos durante três dias naquele sítio. Pelo menos foi o que me pareceu, tendo recebido a medicamentação leitosa mais duas vezes, reerguendo-me fisicamente a cada sono tranqüilo. Mas caminhar, como fizera durante a peregrinação nas Trevas, nem pensar.

— Você começa a sentir o peso da responsabilidade e não tem condições de aquilatar se está disponível para as ações meritórias. Isso se reflete no campo perispiritual. No orbe terrestre, dir-se-ia que o mal tem origem na mente, a refletir-se na disposição do corpo. Seria moléstia psicossomática.

Não entendia a comparação nem percebia que a resposta elucidava a dúvida implícita na observação sobre o fato de não poder caminhar. Nem sempre as informações correspondiam à possibilidade de assimilação das verdades factuais. Mas se deixavam registrar na memória. Na perspectiva em que me situo, vejo-me, naquela ocasião, verdadeiramente paupérrimo quanto à inteligência e à sensibilidade.



Chegadas as derradeiras turmas, estava na hora da seleção.

Devo dizer que muito sofri com as vibrações que me envolveram. Desejava partir, todavia tinha medo de estar sendo injusto em relação às condições dos melhor aquinhoados moralmente. Lembrava-me do que fizera em vida e isso me punha arrasado. Recordava-me dos sofrimentos, intensificando os temores de volver à condição de molambo. Prometia ser fiel aos princípios da instituição que se prontificara a receber-me, mas a consciência trabalhava no sentido de me mostrar que falhara muitíssimas vezes, em termos de juras de melhoria de procedimento.

Sei, agora, que a pressão resultava do método de investigação de minhas disposições. Creio que não tenha corrido risco muito grande de ter ficado para trás, entretanto, houve momento em que desejei arremessar-me para fora do campo protetor.

Muitos espíritos se congregaram em lamentações. Diziam-se desgraçados. Não aceitavam o trabalho da recomposição mental. Não queriam se ver escravizados, livres que sempre se consideraram de qualquer influência. Rebelaram-se por causa das condições sacrificiais exigidas para a continuidade do processo de cura. Não permitiram sequer que lhes fosse administrado o soro reconfortador.

— Estão querendo sedar-nos, para nos manterem sob a chibata da lei dos mais fortes. Querem deixar-nos alienados, para fazerem de nós simples marionetes sem valor, imprestáveis para as conquistas dos bens que nos darão prazer, sorte e fortuna. Querem que toquemos harpa, enquanto eles dançam na roda das venturas. Rebelemo-nos contra todas as injustiças que já sofremos!

Minha crença era de que não tivessem tido a mesma assistência que eu. Que me fora destinado excessivo carinho, completos cuidados médicos, total complacência pelos tremendos pecados. Sabia que eram seres muito perigosos mas enterneci-me. Veio Honorato em meu auxílio:

— Filho, se havia alguma dúvida quanto a você vir conosco, dissipou-se agora. Tenho muita esperança em rápida recuperação, se prosseguir dando vazão a sentimentos de tanta piedade. Fique em paz, que os melhores seguirão e você certamente está entre eles. Agradeça ao Senhor a felicidade desse arrebatamento.

Pela primeira vez, em muitos anos, recolhi-me para a prece que me fora prescrita. Queria obedecer ao conselho, muito mais do que realmente externar qualquer emoção relativamente ao Senhor. Mas consegui dizer, em voz alta, qualquer coisa como:

— Perdão, Senhor, por não saber exprimir verdadeiro sentimento de amor. Não me queiras mal por isso e dá, aos que vão ficar, discernimento, para que entendam as razões de sua desdita.

— Graças vos damos, Senhor, pela regeneração espiritual de Roberto!

Senti, na voz embargada do protetor, que fora sincero na singela prece. Por momentos, a pequena maca em que jazia pareceu iluminar-se. É que os mentores confraternizaram-se com Honorato e produziram halo de extraordinária paz em torno a mim. Estava a caminho do próximo patamar.

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