I
No auxílio a quem morre suicida,
O amor há de contar como primeiro,
Que, à morte, o sofrimento vem inteiro,
Na sensação da perda de uma vida.
Se o amigo aí nos vem dizer: — “Requeiro
Que tragam provas disso” —, pois duvida,
Prepare-se que é certa a sua lida,
No socorro a algum triste companheiro.
Quem chega lá nas trevas sem preparo,
Vai ver que o sentimento custou caro,
Nas vibrações terríveis do tormento.
São poucos, entretanto, que ali vão,
Deixando que se envolva o coração,
Porquanto os protetores dão alento.
II
A perda de uma vida é dura queda,
Ofensa das maiores, feio crime.
É como desejar verso que rime,
Enquanto a mente os sons ainda veda.
Para encontrar um bem muito sublime,
A um pobre coração que o mal enreda,
Há de saber-se que tal alma azeda,
Não aceitando nada que a reanime.
Aí, orar vai ser santo remédio,
Até que se desfaça o negro tédio
Do sofrimento consciencial profundo.
É que os liames que se desfizeram,
Ao se ligarem outra vez, mais geram
Acusações perante Deus e o mundo.
III
Assume compromissos socorristas
Quem tenha n alma bem maior conforto.
Disse Jesus para enterrar o morto
Os outros mortos mais materialistas.
Ao destravar a nave desse porto,
Conduzirá do bem todas as listas.
Mas, se souberem como tu hesitas,
Em terra, hás de ficar, triste, absorto.
Preso à carcaça, lá no cemitério,
Fica quem deu um fim à própria vida,
Sem resolver o fio do vil mistério.
Quando se sabe que a melhor saída
É o sofrimento que se leva a sério,
Não há pensar que é bom ser suicida.
IV
Se Jesus Cristo desse a todo o mundo
Compreensão total de cada vida,
Veria cada qual um suicida,
Que poucos não caíram lá no fundo.
Porém, a lei prescreve uma outra lida
A quem se sente n alma tão imundo.;
E dá-lhe um protetor, mas, num segundo,
A trabalheira toda está perdida.
Por isso, o sofrimento é muito intenso
E a dor perdura um tempo quase infindo,
Até que o pobre diz, um dia: — “Eu venço
Que este sufoco embora já está indo!”
Mas quando o coração está distenso,
Renasce aí na Terra um bebê lindo.
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