SOBRE DRA. AMÁLIA HERMANO TEIXEIRA.
Homenagem póstuma à Dra. Amália Hermano Teixeira, esposa do Dr. Maximiano Teixeira da Mata, Patrono da ACADEMIA TOCANTINENSE DE LETRAS. Tocantinopolis, TO, 08.06.1991.
PADRE JOATAN BISPO DE MACEDO*.
Falar, mesmo postumamente, sobre Dra. Amália Hermano Teixeira, constitui uma oportunidade honrosa a um acadêmico tocantinense.
É pois, um gozo cultural usar desta honra e fazer a oração póstuma à esposa do excelso e memorável Patrono da ACADEMIA TOCANTINENSE DE LETRAS- DESEMBARGADOR MAXIMIANO DA MATA TEIXEIRA.
A essa deferência não quisemos declinar. O momentoso evento se abriu hoje, no tempo e no espaço, em TOCANTINOPOLIS, torrão histórico e civilizado, berço hodierno de pessoas cultas.
Os confreires acadêmicos NEY ALVES DE OLIVEIRA, DARCY MARTINS COELHO e MARY SONIA, quais mudas escolhidas, transplantadas para crescer no canteiro deste sodalício e desabrocharem como “flor de inesperada primavera” no cultivo processual das letras tocantinenses.
Dra. Amália, não deixaria, se aqui estivesse, de aludir-se às personagens históricas desta mesopotamica Tocantinopolis.
ALDENORA ALVES CORREIA, Patrona da Cadeira 11 desta casa, educadora, escritora e patriota. Como muitos alentou no peito dos bravos lutadores o sonho de que hoje somos concretos videntes- o ESTADO DO TOCANTINS.
CONEGO PADRE JOÃO DE SOUSA LIMA, Patrono da Cadeira 13 desta casa, pároco da Boa Vista do Tocantins, na década de trinta e quarenta, revolucionário, patriota, administrador publico, organizador e chefe de falanges populares em defesa de sua gente da cidade e do sertão de Tocantinopolis. Alguém dissera: “Não fora o Padre João de Boa Vista, o Bico do Papagaio não pertenceria mais ao Estado de Goiás, como Carolina, hoje do Maranhão”.
As constantes investidas da bandidagem de jagunços de outros Estados burlavam a Paz do Bico, ferindo os habitantes no direito da propriedade, e pior, na integridade moral das famílias, sobrando um clima caótico de desordem, de intranqüilidade na região.
Pungido pelas circunstancias e pelo clamor da população, o Padre João, de humilde pastor, tornou-se um lutador inconteste contra loubos e mercenários saltadores de seu rebanho.
Quando, cavalgando em desobrigas tombou fatalmente, a multidão peregrinou para receber o seu corpo sagrado e lhe dar honrosa sepultura. O seu sucessor, admirado, confessou que “um mês após, quando viajava, o caminho féretro parecia pisoteado há uma semana apenas”. O povo não permitiu à indigência os restos mortais do seu herói.
Honra-me sobremaneira proferir este louvor “IN MEMORIAM” a Amália Hermano Teixeira, nativitana (nascida em Natividade), de alma simples, banhada de luz por uma inteligência incomunal. Pessoa atraente, cujo coração foi em Goiás e em Natividade, um santuário de frontões levantados à vida ecológica como sobrevivência das espécies vegetais.
Sua sensibilidade ao Patrimônio Histórico de nossa terra- o Tocantins- muito deve a mobilização da PRÓ-MEMÓRIA na restauração das Igrejas de São Benedito e Nossa Senhora da Natividade, nos idos de 83 e 84.
De própria iniciativa, recuperaram na memória do povo, os logradouros culturais da cidade:
1)A PEDRA ARREPENDIDA- de onde um jovem amante retornou-se a sua amada, depois de amargamente, sobre a ITAGANGA chorar e arrepender da SEPARAÇÃO.
2) A COVA DA MÃE ANA- sepultura da nobre princesa de sua nação africana e escrava alforriada, assassinada por senhores brancos, na ocasião dos festejos de São Benedito, quando era Rainha da Festa, acusada de proteger em seu solar, os escravos fugitivos.
3) A PRAÇA DO PELOURINHO- local de suplicio para os negros, vitimas indefesas dos Feitores.
4) A BICA DOS CORONÉIS- fonte de água mineral, no barranco do Ribeirão Praia, onde se recolhia a “água de beber”, em carotes colocados sobre os Jegues encangalhados, para encher do liquido potável as botijas e bilhas dos casarões.
É ato de justiça parabenizar nessa homenagem, a ilustre Conselheira e Botânica, Pesquisadora e Historiadora recém falecida que cultivou muito amor pelas flores e pelas orquídeas, em especial. Preservar o verde é preservar a saúde, é conservar a vida, é perpetuar a vida em nosso Planeta terra, é cultivar a semente da paz.
Um projeto de lei aprovado pela Assembléia Legislativa de Goiás, cria o PARQUE ECOLÓGICO AMALIA HERMANO TEIXEIRA, na área do IPASGO, conhecido por “Buraco da Saude”, onde funcionava a Santa Casa de Misericórdia, para se implantar o PARQUE DOS IPÊS.
Numa outra moção do Primeiro Congresso Nacional de Botânica, patrocinado pelo Acadêmico, Jornalista e Empresário Jaime Câmara, convidou Amália para Membro da Sociedade Botânica do Brasil, quando expôs Orquídeas e Plantas ornamentais de sua coleção particular. Da família das plantas monocotiledôneas, ela descobriu nas tropicais terras do Sudeste Tocantinense, a “CATTLEYA AMALIAE”, um tipo raro de orquídea.
Amália era mulher de gestos concretos e criativos. Todo NATIVITANO ilustre que morria em Goiânia, ela oferecia, com sua visita ao falecido conterrâneo, um ramalhete de orquídea.
O mesmo gesto, no dia do seu velório, se repete: suas mãos postas para a eternidade cobriram-se das flores exóticas e belas que em cerimônia de exéquias, vestidas de roxo penitencial, deram o ultimo adeus àquela que lhes mereceu o nome de Amália.
A linguagem das flores, filhas do silencio da natureza, motiva-me invocar neste momento, uma pausa de um minuto apenas para sufragar, na oração deste sodalício, as memórias de Aldenora, Padre João e Padre Josino, mártir que regou esta terra, com a contestação do seu sangue derramado, em favor da libertação desta região devastada sob a ideologia de uma transcultura dominante que fere de morte a nossa natureza e escurraça os seus aborigens.
A presença de todos que pacientemente nos ouviram, agora se eleve para testemunhar na memória dos antepassados as obras e os caminhos que sublimam o nosso presente.
Haverão de fecundar nesta Casa as esperanças de um futuro literário que teremos de urdir para o “teçume” das idéias cultas dos gêneros das letras que formarão os gênios e a cultura tocantinense.
*PADRE JOATAN BISPO DE MACEDO
Cadeira 09, da Academia Tocantinense de Letras.
Reitor do Santuário do Senhor do Bonfim, em Natividade,Tocantins. Nasceu em Almas, Goiás, hoje Tocantins, em 06.08.1942.
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