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Erotico-->34. CONCLUSÃO DE “ALMA DE CIGANO” -- 27/11/2002 - 06:38 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

A vida do casal harmonizou-se com a chegada do pequeno Ricardo Antônio, cheio de saúde, em parto normal.

É bem verdade que o pai teve ligeiro achaque de nervosismo, mas foi capaz de controlar-se satisfatoriamente, apoiando-se na doutrina dos espíritos, orando a Jesus que enviasse mensageiros para preservarem a parturiente e o nascituro de maiores sofrimentos. Recordou-se das palavras registradas nos Evangelhos segundo as quais as dores do nascimento logo se compensam pela alegria de receber a indefesa criaturinha.

Todo o transcurso da gravidez e a realização do parto foram filmados para contornar futura nostalgia dos momentos mais felizes de suas vidas.

Um ano depois, contudo, marido e mulher, no Brasil, viveram a extrema ventura de saber que mais um pimpolho havia sido encomendado.

Prisco deixou de lado as longas excursões, aceitando contratos fechados de algumas poucas apresentações, não se ausentando do lar mais do que, no máximo, um mês seguido.

Janete reassumiu as funções na firma, dividindo as responsabilidades administrativas com o irmão.

Bartira deixou o plano terreno vitimada por um desastre na via pública.

Dona Maria e Joaquim retornaram à sua vida a dois, visitando a família do filho pelo menos duas vezes por semana. Até o momento em que encerramos a narrativa, estavam fortes e saudáveis, apostando entre si quem iria partir primeiro.

Bernardete foi contratada como atriz de telenovela, abandonando a faculdade no terceiro ano do curso. Abandonou também o Paulo Henrique, que não suportara a projeção artística da namorada, especialmente porque foi reprovado em todos os testes de que participou. Disse que esperaria por Bernardete, porém, menos de um mês depois, garantia sua vida sentimental, envolvendo-se amorosamente com jovem ainda menor de idade. Terminariam casando-se e separando-se, por causa de misteriosos enredamentos a que estão acostumando-se os moços.

Alfredinho gostou das mudanças operadas na vida de Prisco, mudanças que lhe facultaram fixar residência no Brasil, gerenciando os negócios diretamente do escritório. Propôs-se como padrinho de batismo do pequeno Ricardo, recebendo de graça inesperada aula de religião. Contentou-se em providenciar para ele a cidadania brasileira.

Mirtes e Valério deixaram o “Caminho da Luz” nas mãos dos administradores perpétuos, Vadão, João e Manuel, para fundarem outro centro espírita, o que obrigou Prisco a dividir a mesada cada vez mais gorda entre as duas casas de benemerência.

Convidado para exercer as funções de psicógrafo pelos responsáveis das duas casas, Prisco se sentiu na obrigação de aceitar, estipulando que sua freqüência se condicionaria aos eventos artísticos, que teriam prioridade. Para sermos exatos, teria deixado de comparecer às reuniões não fora o fato de haver escrito duas mensagens muito importantes: uma da santinha que perecera vítima das queimaduras.; outra do velho senhor que um dia morrera na cama ao lado, no ambulatório do hospital.

A única atividade que foi quase definitivamente posta de parte foi a das visitas aos velórios, já que Prisco não tinha como acompanhar Janete nem esta tinha disponibilidade de horário. Não abriram mão, contudo, das brincadeiras aos sábados no hospital, quase sempre envolvendo pais e filhos.

O que prosseguiu com maior intensidade foram as conversações a respeito dos temas espíritas, todas criteriosamente preparadas e gravadas. Somente após três anos, quando se dispuseram a escolher um trecho, é que compreenderam que tudo quanto haviam discutido e estudado estavam encontrando na vasta bibliografia que iam dominando.

Resolveram parar com tal atividade, substituindo-a por passeios a dois, o que se dava uma vez por semana.

Na noite em que deliberaram a respeito, Prisco foi taxativo:

— Janete, você não acha que o nosso casamento está dando certo porque eu fico em casa nos horários em que você trabalha e vice-versa? Eu não sei não, mas, se nós ficássemos dia e noite debatendo a respeito dos conceitos doutrinários, iríamos acabar aborrecendo um ao outro.

— Estamos semeando, meu bem, estamos semeando com muito amor. Um dia vamos obter uma colheita esplêndida, principalmente de novos trabalhos e exercícios de benemerência. Nunca se esqueça de que você esteve a pique de perder a habilidade, tendo sido auxiliado de forma tão contundente e completa. Esperar mais da vida, para nós, significa trabalhar ainda mais pelo bem-estar dos semelhantes.

— Vamos manter os nossos espíritos perpetuamente agradecidos ao Senhor. Somente assim, eu creio, nós construiremos uma fortaleza que não será abatida jamais por qualquer adversidade. Você pode não acreditar, mas tenho a certeza de que Eulália participa de nossos sentimentos, tendo incorporado ao ser as virtudes excelsas da moralidade superior, através da compreensão de que as pessoas exercem a potencialidade existencial dentro de campo energético que concentra as forças do amor e da benquerença, no sentido que Jesus ensinou. Bem pensando, com todo o respeito, não me consta que o Mestre tenha casado e constituído família. No entanto, seu coração agasalha toda a humanidade.

— Ao contrário de você, meu caro, não penso mais nos namorados com quem convivi. Mas suspeito que sei o porquê de você, vira e mexe, trazer a falecida à baila: é que você está pensando que sua filha possa ter reencarnado numa de nossas crianças. Mas essa conjetura jamais vai ter base na realidade, ainda que quinhentos mensageiros venham trazer-lhe tal informação, mesmo quando os médiuns desconheçam completamente quem são as personagens da comunicação. Vamos tornar a doutrina espírita fonte perene de inspiração para nosso procedimento junto aos semelhantes. Mais que isso, acabamos caindo nas garras da superstição.

Prisco, que jamais se apartava da guitarra, pôs o instrumento de lado, e afagou os cabelos de Janete, como se dali estivesse extraindo harmoniosos acordes de sabedoria.


Indaiatuba, de 27.09 a 30.11.2000.
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