Usina de Letras
Usina de Letras
175 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62270 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10450)

Cronicas (22539)

Discursos (3239)

Ensaios - (10381)

Erótico (13573)

Frases (50661)

Humor (20039)

Infantil (5450)

Infanto Juvenil (4778)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140816)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6204)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->NLM - Tempos de Ministério Público do Trabalho -- 29/01/2002 - 11:57 (Marcel Agarie) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


TEMPOS DE MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO



Ponto de partida: Estação Carrão

Destino: Estação República



Durante o período de setembro de 1995 até novembro de 1996, eu tinha os meus 15 para 16 anos, e durante uns 15 meses desta época que acumulei as histórias mais engraçadas vividas como usuário fiel do Metrô. Neste período, eu estudava para processamento de dados em um colégio próximo de minha casa e fazia estágio de informática no Ministério Público do Trabalho, que ficava na Rua Aurora, ao lado da estação República do Metrô.

Junto comigo, estava sempre o meu amigo Flávio, de 17 anos, torcedor da portuguesa, que estagiava comigo no Ministério Público. Todos os dias íamos trabalhar de Metrô da estação Carrão até a estação República e como ele nunca foi santo e nem eu, vivíamos aprontando nas estações e nos vagões do Metrô, assim como qualquer outro adolescente encapetado, mas sem maltratar ninguém, muito pelo contrário, às vezes até ajudando demais.

Éramos velhos conhecidos dos seguranças porque era muito fácil identificar as nossas figuras. Flávio sempre usando um boné vermelho com um símbolo da portuguesa bem grande estampado no meio, um pouco acima da aba, que dava pra ver no meio de qualquer multidão. O seu rosto era cheio de espinhas, uma conseqüência da fase adolescente. E ainda tinha o uniforme do colégio que era uma calça meio esverdeada com um friso branco e amarelo, completada pela camiseta branca com a escrita “Colégio Lavoisier” do lado esquerdo do peito. Eu também não era muito mais discreto. Apesar de eu ser descendente de japoneses, que por tradição são pessoas quietas e discretas, eu era o antônimo de tudo isso. Japonês é amarelo e eu sou preto (tanto que o Flávio vivia me chamando de preto), japonês fala pouco e eu falo demais, japonês adora peixe e eu detesto, fora outras diferenças que tenho, mas que vou deixar para escrever quando for compor a minha biografia. Normalmente eu estava com um famoso boné amarelo, da cor de uma gema de ovo, que tenho a absoluta certeza, foi muito usado para servir como ponto de referência de informações alheias: - tá vendo ali? O lixo fica do lado daquele japonês preto de boné amarelo. Eu também sempre estava com o uniforme do colégio, o que facilitava ainda mais para os seguranças nos identificarem entre os usuários do Metrô.

Todos os dias utilizávamos a escada rolante, melhor dizendo, desligávamos a escada rolante. Isso mesmo! Todos os dias desligávamos as escadas da estação Carrão, fazendo todos subirem – ou descerem – andando e reclamando que as escadas viviam quebradas, enquanto eu e o Flávio, sempre com as caras de inocentes, fingíamos também estar reclamando da situação, para passarmos desapercebidos pelos seguranças.

Durante muitos meses executamos esta rotina, até que certa vez, por mera coincidência, eu e o Flávio esquecemos o boné e fomos trabalhar com as cabeças limpas, ou seja, eu sem aquele “discreto” boné amarelo gema de ovo e o Flávio sem o seu tradicional boné vermelho da portuguesa.

Seguimos assim rumo ao Metrô, sem deixar de cumprir a nossa função, pois mais uma vez havíamos desligado a escada que dava acesso à plataforma dos trens, porém dessa vez foi diferente. Logo que entramos dentro do vagão, dois seguranças pediram para que nos retirássemos de lá porque precisavam ter uma conversa muito séria com a gente, comigo e com o Flávio. Saímos sem hesitar, já esperando a bronca que estava por vir. Foi quando um dos seguranças falou:



- Vocês dois que desligaram as escadas? Não foi?



Nós mantivemos o silêncio e fizemos caras de coitados e arrependidos, que de olhar dava dó, mas que acabou funcionando, pois os seguranças acabaram nos deixando ir trabalhar, sobre o seguinte aviso:



- Viu! Avisem para seus dois amiguinhos, um que está sempre de boné vermelho e outro que vive de boné amarelo e estudam no mesmo colégio de vocês... Que estamos de olho neles! Pois sabemos que os dois são os que mais desligam escadas aqui no Metrô...

Olhei para o Flávio, que assim como eu tentava conter as risadas. Concordamos com os seguranças, prometendo dar o recado, sem falta, depois que fôssemos embora.

Rimos a viagem toda, da estação Carrão até a estação República, com o acontecimento. O recado nunca precisou ser dado para os nossos “dois amiguinhos” do boné vermelho e o outro do boné amarelo, mas mesmo sem ter dado o recado, por um bom tempo não desligaram mais escadas rolantes de nenhuma estação de Metrô. Por que será, hein?



(Este texto faz parte do livro "NAS LINHAS DO METRÔ - MARCEL AGARIE)

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui