OS PARASITAS
No meio duma feira uns poucos de palhaços
Andavam a mostrar em cima de um jumento
Um aborto infeliz sem mãos, sem pés, sem braços
Aborto que lhes dava um grande rendimento.
Os magros histriões hipócritas devassos
Exploravam assim a flor do sentimento
E o monstro arregalava os grandes olhos baços
Uns olhos sem calor e sem entendimento
E toda a gente deu esmola aos tais fulanos
Deram esmola até mendigos quase nus
E eu ao ver este quadro, apóstolos romanos
Lembrei-me de vós funâmbulos da cruz
Que andais pelo universo há " dois mil e três anos"
Exibindo e explorando o corpo de Jesus!...
Guerra Junqueiro
COMEÇAR E ACABAR
Será sempre em vão pensar
Infringir a minha lei...
Pois por ela só eu sei
Começar e acabar !
Podereis tudo inventar
Em meu nome ou destruir
Mas nunca ireis descobrir
Quem realmente eu sou
Donde venho... Aonde vou
E cabe-vos meditar
Que se existo pra mandar
Sobre o que posso e quero
Porque me omito ou tolero
Será sempre em vão pensar.
Em entrega salutar
Presumindo-se a meus pés
Em delírio Moisés
Concebeu dez mandamentos
Segundo regra e talentos
Que - disse - lhe encomendei
Mas sequer os inspirei
E mesmo que os renegue
Nenhum humano consegue
Infringir a minha lei.
Se crêdes que existirei
Nos domínios do imenso
E imaginais que penso
Tal e qual como vós
Oh criaturas... Que atroz
Seria impor uma lei
Pra punir o que criei
E se fiz a humanidade
Prezai-a com humildade
Pois por ela só eu sei.
Nunca julgo ou julgarei
O pecado inventado
Esse monstro inveterado
Que há milénios assestais
Uns aos outros... Oh mortais...
Cuidai sim de aproveitar
Os gozos e desfrutar
Da vida com mansidão...
Eu só tenho uma função:
Começar e acabar!
Torre da Guia