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Erotico-->29. CONFIDÊNCIAS -- 22/11/2002 - 06:43 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Já dia avançado, Prisco e Janete deixaram o motel, certos de que as respectivas famílias, avisadas pelos celulares, estavam cientes de que o romance de ambos se concretizara. Sendo assim, evitaram de dirigir-se a suas casas, resolvendo que passariam todo o final de semana em hotel da melhor categoria, no centro da cidade, com diária compatível com o serviço de uma suíte presidencial.

Instalados, resolveram ocupar o restante da manhã de sábado em missão de auxílio e conforto junto às crianças do hospital. Era a primeira vez que Janete lá comparecia, de sorte que pôde admirar-se muito diante do apego da criançada ao artista que as ensinava a tocar violão.

O almoço foi verdadeiro banquete em restaurante que os obrigou a um banho de loja, precisando ele adquirir um terno, com camisa, gravata e calçado social. Janete também se aproveitou da facilidade do cartão de crédito e vestiu-se com um modelo diurno da alta costura.

Recolhidos a uma discreta saleta, onde foram servidos em particular, puderam conversar à vontade, sem serem incomodados pela libido da noite. Davam trégua às ânsias e ardores da sensualidade.

Foi Janete quem iniciou as confissões:

— Precisamos equilibrar o presente com o relato dos fatos mais relevantes de nossas vidas no passado. Sei que você, cavalheirescamente, jamais irá perguntar-me como foi ou tem sido minha vida sexual. Mas, como sei que você era perfeitamente feliz com sua esposa, não posso sonegar-lhe as informações sentimentais que me dizem respeito.

— Não vou cobrar-lhe nada. Esteja certa disso.

— Eu sei, meu caro, porém, estou convicta de que o nosso relacionamento apaixonado vai esmorecer e, quando isso se der, muitos pensamentos hão de passar pelas nossas cabeças, levando-nos a imaginar se não guardamos no coração amores inesquecíveis.

— Você disse bem: Eulália, se me permite dizer este nome em voz alta, vive comigo, tanto que, no começo, associei o seu nome ao dela, sendo a razão principal de não tê-la trazido para junto de mim há mais tempo.

— Eis um dado precioso, que eu precisava realmente saber. Mas estou mais interessada em falar de meus relacionamentos.

Janete começou seu relato dos tempos de criança. Contou as primeiras brincadeiras de descoberta das diferenças morfológicas. Passou à adolescência, com alguns beijinhos no escuro das discotecas, acompanhados de carícias que agora considerava até inocentes. Passou pela fase dos namoros, revelando como se entregara, aos dezessete anos, à primeira relação efetiva. Demonstrou cabalmente que foi um período em que se interessava muito mais por si mesma do que pelos outros. Chegou ao tempo de faculdade marcada por um crime, tendo-lhe sido o amante assassinado, traficante inadimplente que era. Contou como o pai teve de testemunhar a favor dela, já que desconheciam tais atividades do rapaz, precisando convencer a polícia de que não tinham quem delatar nem o que revelar. Chegou ao noivado de cinco anos, que terminou quando o noivo engravidou uma mocinha, tendo sido obrigado a fugir da cidade, nunca mais se atrevendo a comparecer diante dela. Nos últimos tempos, exercia uma série de atividades na área da benemerência, ocupando as horas que dedicaria às afeições masculinas.

— Janete, quem você elegeu como primeiro amor? Estou perguntando porque Eulália, verdadeiramente, não foi minha primeira namorada.

— Quer dizer que você teve uma paixão recalcada?

— Você se enganou com o traficante. Eu, com uma garota que não se satisfazia com um só. Fico com vontade de empregar o chulo, mas me contenho, que estou achando muito solene este momento. Entretanto, Eulália ficou sabendo de tudo, desde o primeiro instante, já que, praticamente, me tirou dos braços da outra, advertindo-me quanto ao caráter dela.

— Espero que meu primeiro amor verdadeiro seja você. Lembranças da puberdade, você sabe. Posso perguntar se você foi o primeiro e único amor de Eulália?

— Ela sempre me assegurou que sim.

— Você desconfiava de alguma mentira?

— Nunca tivemos uma conversa aberta como esta. Estávamos embevecidos com a descoberta da paixão. Éramos jovens. Tínhamos olhos apenas um para o outro. Aliás, já que estamos colocando as cartas na mesa, preciso saber como é que você encara a possibilidade mais que certa de que, ao morrermos, teremos, forçosamente, de nos reencontrar com as pessoas amadas ou odiadas.

— Você quer saber se eu acho se Eulália irá requerer como de direito e justiça permanecer ao seu lado?

— Vejo que você me entendeu.

— Tudo é uma questão de afinidade de vibrações. Quem me garante que vocês sequer ocuparão o mesmo patamar evolutivo? Se um espírito estiver sofrendo e emitir pedidos de socorro, é justo que o outro haja em função de auxiliar o amigo, o cônjuge, o pai ou o filho a se erguer. Contudo, pelo que conheço da doutrina espírita, as entidades se reúnem no etéreo, no plano extraterrestre, no plano espiritual, onde quer que se encontrem, no umbral, nas trevas, segundo seus graus de progresso. Essa é uma preocupação que não vai causar-me nenhuma inquietude no presente. Vamos curtir este instante de felicidade, ainda que fundamentalmente material. Mas a nossa maturidade nos permite imaginar que, daqui a quinhentos milhões de séculos, todos estaremos formando uma comunidade de espíritos de luz, ou não se justificarão os princípios das leis naturais, principalmente a de justiça, de amor e de caridade.

— Você falou em felicidade de caráter material. Se nossas tertúlias se pautarem por esta nossa digressão metafísica, daqui a pouco iremos descobrir que passamos os últimos trinta ou quarenta anos de nossas vidas juntos. Por falar nisso, o exemplo da Eulália não é representativo da minha dúvida real. Mas, pelo que você explicou, os quarenta e poucos anos de matrimônio de meus pais, que prometem estender-se por mais quinze ou vinte, também nada significarão em termos de compromissos, uma vez os envolvimentos fluídicos corpóreos merecerão outra leitura na próxima esfera existencial.

— Se eles tiveram na vida apenas um ao outro, os elos sentimentais estarão bem mais fortemente estabelecidos. Mas eu não ponho a minha mão no fogo por ninguém, dado que as necessidades de cada um cada um mesmo é que conhece. Eu poderia levantar a hipótese que você aventou de nós vivermos mais cinqüenta ou sessenta anos juntos. Deus me livre de chegar aos noventa e tantos! Em todo o caso, nosso tempo de relacionamento suplantaria o seu com a falecida. Será que você manteria até lá o mesmo amor complacente para consigo mesmo? E ela, não terá outros conhecimentos, não terá reencarnado, por exemplo, como homem? Não formará outro lar, constituindo família? Tenho de repetir que a existência tem aspectos muitíssimo misteriosos, meu querido amigo.

A conversa ainda elegeria outros temas menos filosóficos, pequenos planos para os dias subseqüentes, ficando no ar a interrogação de como fariam quando Prisco retornasse à Europa. Naquele momento, parecia que essa época estava a centenas de milhões de séculos na frente.

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