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Artigos-->Morte e insignificância - aos críticos do PT -- 28/01/2002 - 10:52 (Clóvis Luz da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Aqueles que em função da repercussão da morte de Celso Daniel estão acusando o PT de contribuir para o aumento da violência no país, devem estar acometidos de “delírius tremens”, haja vista que em nenhum momento de sua história esse partido incentivou ou fez apologia da violência no mesmo sentido em que seus acusadores tentam nos convencer.



Há outros que afirmam ser o PT o filtro da violência popular, que quando chega às ruas não tem as mesmas características verificadas nos protestos argentinos, cuja materialização crua, quase bárbara, explica-se, por aquela visão, pela falta de uma oposição que anexe em sua atuação política os anseios do povo, como faz o PT no Brasil.



As duas argumentações faltam à verdade dos fatos, com a diferença de que a primeira não consegue, em termos particulares, estabelecer ligação direta entre a atuação política do PT e a violência no Brasil; a segunda, por não perceber, nos aspectos gerais, as distinções entre a história política, econômica e social de Brasil e Argentina, o que determinou a construção de oposições organicamente diferentes nesses dois países.



Quanto à primeira afirmação, identificar na CUT e no MST espelhos fiéis pelos quais o PT deixa refletir sua defesa da violência como o único instrumento pelo qual possa ser resolvida a grave crise social do país, com o atropelo da lei inclusive, é simplória, descabida e injusta.



Simplória porque não consegue estabelecer, posto que feita a partir de análises parciais e viciadas ideologicamente dos documentos do partido, uma ligação direta entre a ênfase do PT à luta popular e a decisão de efetivá-la mesmo que por meio de instrumentos ilegais (invasões, depredações, etc.). A condenação do PT aos ataques terroristas de 11 de setembro negam qualquer apoio do partido à legitimação da violência como instrumento de luta e reivindicação. Será que os acusadores do PT irão acrescentar à sua lista de pecados também a hipocrisia?



Simplória porque quer imprimir no partido um sentido de autofagia jamais vista em nenhum movimento popular. Seria colher tempestade por ter semeado vento, como afirmou a socióloga Maria Lúcia Victor Barbosa em sua ardorosa tentativa de vincular o PT à violência que vitimou o Toninho do PT e Celso Daniel. De tanto acalentar a violência, de tanto defender greves e manifestações populares, de tanto argumentar que é somente sob a pressão do povo que os governantes reconhecem as injustiças sociais, o PT colhe agora o ônus de sua pregação. O simplório dessa conclusão se percebe igualmente na pressa de tornar o povo brasileiro um mero tubo de ensaio de uma velada revolução socialista, urdida nos meios acadêmicos, nos órgãos da imprensa, nos altos escalões da burocracia, enfim, uma peste cuja inoculação já se mostrou eficaz, estando o pensamento nacional prestes a se tornar único na conclusão de que somente o socialismo pode salvar o país. Não adianta o PT dizer que defende a democracia. Não adianta afirmar que é contra a supressão das liberdades individuais. Nos arredores dessa conclusão os vigias da pátria, os nacionalistas honrados não podem deixar que essa peste se alastre, sentindo-se no direito de eliminar os que a implantaram no organismo frágil de um povo historicamente pacífico, hospitaleiro e amigo. O PT está pagando o preço por querer impor à alma nacional, essencialmente cordata, uma forma estranha de resolver os problemas: a violência. Morte, pois, ao PT!



O injusto dessa vinculação íntima entre o PT e a violência é a negação veemente de que o partido seja, de fato e de verdade, o único que conseguiu, desde a abertura política pós-ditadura militar, amalgamar um sentimento de potência (é isso mesmo) diante das mazelas sociais do país. E que por esse exato motivo esteja sendo alvo dos que não admitem mudanças estruturais na nação brasileira. E que por essa mesma causa se levantem contra o PT os que lucram de forma ilícita, ainda que legal (a ilicitude está mais na imoralidade pelo mérito, acima da legalidade na forma - os banqueiros, por exemplo). O crime organizado, consubstanciado na corrupção dos poderes, na máfia, no narcotráfico, e ainda uma elite avessa às mudanças que indiquem uma valorização do trabalho e do trabalhador, são os inimigos óbvios de um Partido que mostrou ser possível MUDAR, TRANSFORMAR, tecer uma nova realidade a partir da conjugação de forças populares, sem que isso signifique ruptura institucional, eliminação da democracia, o exercício de poder e de força suprimindo o diálogo. Aliar o PT a essas últimas hipóteses é uma enorme injustiça.



Quanto ao argumento de que o PT filtra a violência, diferentemente da oposição argentina, carece ele de uma simples informação: Brasil e Argentina têm histórias opostas que se cruzam no tempo: nosso país é uma nação pobre que quer ser rica; a Argentina foi um país rico que empobreceu. Tal fato, sozinho, não seria suficiente para explicar a existência de uma oposição popular, como a do PT no Brasil, cujo povo vem sendo espoliado e ignorado por décadas? O PT não filtra a violência dos oprimidos. Ele a percebe, dando-lhe forma e conteúdo. E não pensem os críticos do partido que a percepção de um sentimento de revolta pela consciência do desrespeito somente pode ser materializada na simples postura de ser contra tudo e todos, ou no sentimento de quanto pior melhor, acusações levianas de que é vitima o partido desde se mostrou eleitoralmente viável e politicamente aceito (light).



Além de não precisar de um partido popular e oposicionista, historicamente a sociedade argentina convive com uma política bi-partidária muito semelhante com a do Brasil da era militar. A essencial diferença é que no Brasil a população precisava ser convencida de estar sendo politicamente representada por um partido de oposição ao Governo. Todos sabemos que se tratava de um engodo. Não havia oposição ao Governo simplesmente porque não havia democracia. Sem democracia os anseios populares não tinham como encontrar ressonância na atuação de qualquer partido verdadeiramente oposicionista. A alternância do poder, uma simples maneira de se inferir a existência de um modo democrático de governo, não existe no Brasil desde que Cabral resolveu passear por aqui. Numa sociedade rica, como era a da Argentina, não há como se verificar ressentimentos populares, movimentos como o MST, centrais sindicais como a CUT. Muito semelhante foi o processo de despolitização da classe operária no Japão, cujos principais sindicatos foram desmobilizados a partir dos cargos diretivos assumidos nas empresas pelos dirigentes sindicais. Portanto, não havia necessidade histórica de na sociedade argentina se engendrar uma forma popular de fazer oposição, cuja revolta e possível violência nos atos de protestos ganhassem num determinado partido político uma forma mais amena ou menos contundente de se manifestar, papel que no Brasil é imposto ao PT por seus críticos.



Vincular o PT à violência que aumenta vertiginosamente no Brasil não é honesto, como não o é afirmar que os acusadores estão de todo enganados: aqueles que criticam contundentemente, quando se equivocam em relação ao seu objeto, correm o risco de atrair pra si mesmos os danos que intentaram causar. Mas nesse caso, não desejo a eliminação física dos críticos do PT, visto que sua própria obstinação em negar a realidade ao querer imputar ao povo brasileiro uma burrice coletiva inexistente, provam estar já condenados à insignificância, o que, para muitos, é pior que a morte...

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