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Erotico-->28. PAPEL DE AVÓ -- 21/11/2002 - 06:33 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Dona Maria forçou a barra:

— Meu filho, eu gostaria de ter um neto.

Prisco sorriu:

— Adote uma criança. Lá no centro existem muitas.

— Você não entendeu. Eu não quero ser mãe de novo. Eu quero ser avó.

— Então, vai ter de esperar, porque eu não tenho ninguém em vista.

— Janete está com quase trinta e cinco. Logo, não vai poder mais ter filhos.

— Você acha que seria uma boa eu tirá-la da firma e levá-la em turnê pelo mundo?

— Qualquer esposa sua teria de enfrentar essa contingência.

— E quem disse que tenho necessidade de uma esposa?

— Para eu ter um neto, não vejo alternativa.

— E se eu me fixar na Espanha, definitivamente? Não seria uma empresária quem iria suportar tornar-se mãe e dona de casa. Além do mais, de que lhe adiantaria um neto do outro lado do Atlântico? Ou você quer que eu vá e deixe a família aqui?

— Se você pensa que esses empecilhos vão me atrapalhar, engana-se. Eu não disse que quero cuidar do neto. Eu quero me sentir avó. Uma vez por ano, em férias, vocês passariam aqui comigo e com seu pai. Vai dia, vem dia, você se cansa dos ares europeus, de seu trabalho insano, de ganhar tanto dinheiro, e vai querer assentar-se num clima mais ameno, junto a um povo mais hospitaleiro.

— Questão de ponto de vista, mãe. Segundo o mesmo raciocínio seu, eu posso trabalhar mais cinco ou dez anos, voltar com cinqüenta anos, encontrar uma mulher vinte anos mais nova, que irá dar-lhe não um mas muitos netinhos.

— Volto à idéia do enlace com a Janete. Se você está decidido a manter-se viúvo, ou melhor, celibatário, deve avisá-la de uma vez por todas, já que ela passou o ano todo visitando-nos, mostrando os seus cartões, comprando os seus CDs., perguntando-nos por mais notícias suas, conforme eu lhe escrevi várias vezes, sem que você me honrasse com uma explicação condigna.

— Que seria uma “explicação condigna”?

— Que você arrumou alguma sirigaita espanhola para passar o tempo, mantendo a esperança da que ficou para trás.

— Você acha que, se houvesse outra, eu agiria de forma assim desonesta?

— Vai me dizer que, depois de Eulália, perdeu o interesse pelas mulheres?!... Duvido e faço pouco.

— Como “duvido e faço pouco”? Você não compreende que os artistas são capazes de sublimar as necessidades sexuais através de sua dedicação exclusiva à arte?

— Quer que eu repita? Duvido e faço pouco... Só se você deixasse seus órgãos se atrofiarem. Se sua mão, mesmo engessada, conseguiu recuperar-se, imagine só essa outra parte do corpo.

— Você está apelando.

— Estaria apelando se suspeitasse que você tinha a esperança de ver Bernardete desfazer o namoro com o Paulo. Será que desta vez acertei?

— Vou dar-lhe uma resposta bem sincera. Até pensei que a mocinha pudesse preencher o lugar de Eulália. Quer saber por quê? Porque ela perfaz o perfil da mulher jovem de quem me enamorei e com quem me casei. Mas, bem a tempo, sofreei meus impulsos sentimentais, ao perceber que nossos laços seriam muitíssimo artificiais, ainda mais em razão do fato de ela estar vivendo uma experiência totalmente diferente daquela que proporcionei à falecida.

— É ótimo que você tenha refletido nesse sentido. Com Bernardete você iria ser muito infeliz. Com Janete, porém...

— Sobre ela, nós já conversamos.

— Não o suficiente. Vocês têm ido ao centro espírita, a museus, a bibliotecas, a exposições, a restaurantes e não sei mais a quantos lugares públicos. Por que nunca a convidou para um local reservado?

— Para uma pergunta direta, uma resposta do mesmo jaez: porque Janete é uma mulher que vai exigir um comprometimento, uma jura de amor, um anel de noivado, um pedido de casamento.

— Você acha que ela recusaria um convite desses?

— Mãe, eu acho que, pelo tanto que a conheço, ela até toparia, mas, daí por diante, os motéis seriam os únicos lugares que nós visitaríamos.

— E se eu lhe disser que ela aceitaria uma experiência sem grande responsabilidade?

— Eu lhe direi que você não sabe como essas coisas são, porque você e papai formam um casal “careta”, casal que jamais agiria segundo essa maneira de pensar. Você está falando pelo que está acostumada a ver nas novelas. Na vida real, ou melhor, num relacionamento mais sério, os aspectos espirituais contam sempre, de sorte que, se eu me envolver fisiologicamente, morfologicamente ou fisicamente, também deverei prever uma ligação sentimental, moral, responsável e diretamente ligada aos valores que ambos compreendemos ao estudarmos a doutrina espírita.

— Em suma, meu filho, você está dizendo que não quer ter uma relação mais íntima com ela porque se sente constrangido filosoficamente pelos cânones do espiritismo?

— Não seja tão pungente em suas conclusões. Eu estou repetindo o que disse antes, ou seja, que não estou em condições de oferecer a ela uma vida conjugal estável: eu, viajando pelo mundo.; ela, administrando os negócios da família.

— Voltamos à estaca zero.

— Perfeitamente.



Naquela mesma noite, ao passarem diante das luzes coloridas pisca-piscantes de um motel, estando Janete deslumbrante pela alegria de compartilhar momentos de felicidade com o brilhante guitarrista, este, sem premeditação, perguntou-lhe:

— Se eu a convidasse a entrar num desses antros de amor selvagem, você aceitaria?

— Faço questão.

Não era hora para cogitações doutrinárias nem para excursões metafísicas a respeito da existência. Era hora de atender ao chamado da natureza básica dos organismos. Ambos deixariam os corolários daquela noite de carícias para a manhã seguinte.

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