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Artigos-->AVATAR – Da Ficção Científica à Realidade Virtual -- 11/03/2010 - 11:51 (Jayro Luna) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
AVATAR – Da Ficção Científica à Realidade Virtual: A Alegoria da Ecologia e da Tecnologia.



"Avatar" provém do sânscrito "avat&
257;ra", conceito característico do Hinduísmo, cujo significado se refere à "descida de uma divindade do paraíso (à Terra)" e a aparência terrena da divindade. (especialmente refere-se às dez formas de representação terrena de Vishnu). Em informática, avatar é a representação visual de um utilizador em realidade virtual. De acordo com a tecnologia, pode variar desde um sofisticado modelo 3D até uma simples imagem. Em termos religiosos gerais, o avatar se refere à encarnação divina. Nesse sentido Cristo, por exemplo, seria um avatar. Considera-se que o avatar na terra teria como missão trazer o advento duma nova era espiritual.

No filme Matrix, o personagem principal, Neo (Keanu Reeves) seria um avatar. Bem, após esse breve parágrafo acerca do conceito de Avatar, vamos tratar do filme homônimo (Avatar, 2009), direção de James Cameron, com Sam Worthington, Zöe Saldaña, Sigourney Weaver e Stephen Lang nos papéis principais, distribuído pela 20th Century Fox. O filme, que logo superou a cifra de 1 bilhão de dólares em arrecadação de bilheteria, se tornando o mais assistido, superando Titanic (do mesmo diretor) e o Senhor dos Anéis, apresenta inovações tecnológicas, com destaque para os recursos de 3D e de animação interativa.

Porém, quero chamar a atenção para alguns aspectos do filme que me parecem apresentam um conjunto de possibilidades interpretativas que, a meu ver, concretizam uma mudança na consciência de parcela pensante da sociedade norte-americana acerca de seu papel no século XXI e no modo como tentam redimensionar os conflitos sociais e nacionais em que os Estados Unidos tem se envolvido recentemente.

O primeiro aspecto que chamarei a atenção é para o sentido alegórico do planeta Pandora. No filme, Pandora é o planeta que é o alvo das expedições espaciais terrestres (norte-americanas) em busca de recursos naturais, uma vez que os da Terra se esgotaram. Com imensas máquinas, tratores, escavadeiras, os exploradores terráqueos invadem um rico meio-ambiente cuja característica é a exuberante floresta equatorial. A destruição do ecossistema é evidente, haja vista que a indústria extrativa humana não tem nenhum escrúpulo quanto à necessidade de atender a demanda do minério buscado.

A apresentação da rica floresta equatorial de Pandora se faz pela estética do exagero e da exuberância. Árvores colossais, espécies animais exóticas de cores e formas inusitadas, um mundo dominado por répteis e aves. Pandora, conquanto seja uma referência mitológica à mulher que abriu a proibida caixa dada por Epimeteu, libertando todos os males, deixando nela apenas a esperança é também a última esperança de reencontrar o caminho de entendimento harmonioso com a Natureza. Em certo sentido, o mito de Pandora corresponde ao mito de Eva e o pecado original no paraíso. Em Avatar, o planeta Pandora guarda todas as possibilidades de recuperação da civilidade humana, é uma espécie de última esperança de reorientação de uma civilização calcada na exploração de recursos naturais não renováveis e na destruição da Natureza. A mensagem ecológica vai se tornando evidente quando comparamos as personagens que representam os militares e os cientistas no filme, em especial, o Coronel Miles Quartich (Stephen Lang) – o grande vilão – e a Dr.ª Grace Augustine (Sigourney Weaver), a cientista chefe. O vilão tenta usar de todos os recursos bélicos para dominar o planeta e tirar do caminho os nativos que tentam impedir a destruição da Natureza local. A Dr.ª Grace, criadora do projeto Avatar, busca entender o processo de integração entre a consciência nativa e o ecossistema local, desconfiando que exista uma rede comunicativa entre as mentes e o ecossistema do planeta. O episódio da morte da Dr.ª Grace, em que sua mente é absorvida pela divindade Eywa – espécie de consciência planetária que preserva a riqueza do habitat local – é a metáfora da Ciência buscando a harmonia com a Natureza, a partir do entendimento de suas leis e do modo de compactuar com vistas ao entendimento da própria natureza humana.

Para nós, sulamericanos, a rica natureza local parece-nos de imediato, uma referência à importância que a Floresta Amazônica galgou nos últimos tempos de discussão acerca da ecologia. O chamado mercado do Carbono, o protocolo de Kyoto, a reunião do Rio 92 e a recente reunião de Copenhague, foram etapas de um conturbado processo de discussão acerca das relações entre nosso sistema industrial poluidor e extrativista com a necessidade de preservação dos ecossistemas como ponto básico para sustentação da vida no planeta.

O Brasil, como detentor da maior parte do território amazônico tem metas de utilização dos recursos naturais, assim como também, metas de usufruto das possibilidades no mercado do carbono. No filme Avatar, a riqueza natural da floresta tem a interessante concepção de que a atmosfera de Pandora é irrespirável para o ser humano, uma vez que ela é composta de dióxido de carbono, metano e amônia, curiosamente são os vilões da poluição atmosférica que mostram a incapacidade de respirar esses gases tóxicos, e o vilão – Coronel Miles – tem na cena do conflito final com o soldado-avatar Jake Sully (Sam Worthington) o momento crucial de tentar respirar na atmosfera ambiental – metáfora da de nossa época industrial e urbana.

Lembremos da saga do Coronel Fawcett na floresta amazônica nos idos dos anos 20 em busca de uma suposta civilização perdida, ou ainda do projeto Fordilândia de Henry Ford. As dificuldades americanas de se adaptar a um ambiente completamente diferente de qualquer coisa que exista no território norte-americano. O explorador europeu também se extasiou diante da Amazônia e sua busca de entendimento da nova realidade natural foi resultado de um processo de superação e de conflitos com sua visão de natureza.

Humboldt em 1800 deslumbrou-se ante a imensidão e a opulência da Natureza da floresta amazônica: “de engolir um cavalo, até o colibri, capaz de balouçar-se no cálice de uma flor." - Alexander von Humboldt, 1800. Foi, aliás, Humboldt quem alcunhou a floresta de “Hiléia”.

A capacidade exuberante e assombrosa da floresta é retratada de forma simbólica, alegórica e mágica no poemeto épico de Raul Bopp, Cobra Norato, em que tudo é vivo e festeja:



“Começa agora a floresta cifrada.

A sombra escondeu as árvores.

Sapos beiçudos espiam no escuro.



Aqui um pedaço de mato está de castigo.

Árvorezinhas acocoram-se no charco.

Um fio de água atrasada lambe a lama.”



Em O Missionário de Inglês de Sousa, a floresta como um caldeirão de sensações religiosa, fazendo o protagonista – religioso de duvidosa vocação - sucumbir ante as necessidades sexuais primárias.

Não esqueçamos, dentre outros, de citar a obra de Márcio Souza (Galves – o imperador do Acre, Mad Maria)

Pois bem essa digressão literária serve para mostrar como a floresta amazônica é o cenário em que a consciência humana se recicla ante um novo sistema circundante de sensações e emoções causadas por um espaço em que a nossa noção de tridimensionalidade e de tempo se vê modificada. O horizonte praticamente deixa de existir, tudo é verde e escuro, a luz do Sol surge em raios esparsos entrecortando poucos pontos livres na densa floresta. As árvores mais altas apresentam um ecossistema dividido por faixas de altura. Na copa mais alta um conjunto de animais entre aves, roedores, primatas e insetos, sobrevive quase que sem tomar conhecimento do que se passa ao nível do solo. Por sua vez a vida do solo ainda está acima do habitat que se encontra submerso pelas enchentes sazonais e igarapés.

Em Avatar a floresta é assim uma cópia hollywoodiana, ficcionalizada dos ecossistemas da floresta amazônica. A árvore em que a tribo Na’vi, clã Omaticaya, mora – Kelutral, em língua Na’vi ou Hometree, em inglês - é a transposição literal do ecossistema das árvores amazônicas para a tela de cinema. Os próprios caracteres fisionômicos desses habitantes estão mais próximos dos caracteres dos índios amazônicos (Carajás, Tapajós, etc...) do que do antigo modelo de homem das florestas hollywoodianos que era calcado no modelo africano: o negro de corpo pintado de formas e linhas geométricas brancas, como era típico em seriados como Gin das Selvas, Tarzan. Havia ainda uma segunda opção hollywoodiana de representação da floresta que era o modelo indiano ou asiático, inspirada em Kipling, com seus tigres e elefantes vivendo num cenário que variava da densa floresta à savana e à várzea. Os “selvagens” locais tem caracteres mais de índios sulamericanos: a pele azulada da maioria ou amarela de alguns (o herói e a heroína tem o rosto azulado – sentido figurado índice de sua estirpe nobre, algo de caractere ocidental europeizado), assim como os cabelos, naturalmente lisos e compridos, cortados de forma singular, as vezes, ao modo moicano.

O modo de integração entre a natureza e o homem – no caso metaforizado de forma simbólica pelos cabelos, que formam uma mecha semelhante a um tentáculo que se ligam às dos animais locais, como se fossem portas USB. Ao mesmo tempo, ela sugere outro nível de metaforização do sistema daquele planeta. A consciência planetária interligada e esses cabos-tentáculos interagindo em trocas contínuas de informação e energia é a metáfora da rede de computadores mundial a Word wide web.

Quando na batalha decisiva, todos os animais do planeta comparecem para auxiliar a vencer os maquinários pesados e bélicos dos terráqueos invasores, o que temos é a configuração de uma rede conectada em razão de um ponto comum, qual seja o do princípio da sobrevivência. Os AMPs (Plataforma de Mobilidade Amplificada) espécie de exoesqueleto metálico controlado por um cockpit, que dá a essa máquina a impressão de ser um imenso robot, ou um trator com pernas metálicas, compõem o retrato duma tecnologia ultrapassada, mecânica apenas e não propriamente eletrônica, muito menos simbiótica. Os avatares, por sua vez, representam o ponto de intersecção entre a tecnologia e a linguagem do universo. Momento em que códigos naturais como o DNA, as ligações moleculares ou as ligações atômicas estão conectadas ao sistema eletrônico criado pelo homem. Desse modo quando o herói, deitado numa cápsula adormece, seu avatar recebe a consciência desperta e entra no mundo das comunicações naturais.

O general, no clímax, a morrer dentro da cabine de seu AMP é o momento de superação duma tecnologia por outra. A virtualidade, a informatividade associada aos recursos de linguagem da natureza são mais sutis e mais eficientes que os cabos, pilhas, baterias e alavancas do monstro máquina.

De fato, a nanotecnologia, por exemplo, caminha no sentido dessa integração entre a tecnologia eletrônica criada pelo homem e a linguagem dos códigos naturais. Imagina-se, por exemplo, nano-robots agindo como mensageiros no corpo humano a entregar drogas de efeito curativo no lugar adequado, às células adequadas, melhorando a eficiência das drogas. No âmbito da informática, os conhecimentos da física moderna permitem as primeiras experiências com os computadores quânticos, fundamentados no estado ambíguo do elétron, reforçando a tese do princípio da incerteza de Heisenberg.

Eis, por fim, a grande alegoria de Avatar, a relação entre o cinema e a realidade. Os papéis de herói e heroína são avatares – na concepção do filme – reais. A atriz Zöe Saldaña que faz o papel de Neitiri – a humanóide Na’vi heroína – tem toda a aparência modificada por recursos de maquiagem e de efeitos especiais – Motion Picture. Os Na’vi tem uma constituição física surpreendente, medindo quase 3 metros de altura, com caudas, ossos naturalmente reforçados com fibra de carbono e pelo bioluminescente, os Na`vi vivem em harmonia com a natureza e são considerados primitivos pelos humanos. Os atores nos papéis de Na’vi ou Avatares são assim inseridos num mundo virtual em que seu próprio corpo e aparência física são modificados. Pode-se contrapor que os atores que representam figuras monstruosas em filmes como os seriados japoneses classe B ou C, os monstros de filmes antigos de Hollywood também tiveram processo semelhante de transformação corporal, nesse sentido não seria novidade. O que é novidade é que a própria transformação se insere na trama cinematográfica como tema da relação entre a realidade e a virtualidade. Assim, o herói Jake (Sam Worthington) vai aos poucos deixando de ser humano para assumir sua personalidade Na’vi, alegoria do processo de representação do papel Na’vi pelos atores. O cinema é parte do mundo virtual criado pelo homem, talvez o mais mágico dos recursos desse mundo virtual. Com o auxílio da tecnologia, a câmera vai deixando de ser apenas o olho do diretor controlando o olhar da platéia, é agora uma janela/olho para o mundo da imaginação em que formas, cores, sons sinestesiam-se num mundo mágico.







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