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Erotico-->27. CONSAGRAÇÃO -- 20/11/2002 - 06:30 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Alfredinho havia antecedido a volta de Prisco de uma semana, assim que recebeu a notícia de que estava ele novamente de posse de sua habilidade. Teve tempo, portanto, para organizar os primeiros concertos, acatando a exigência dos patrocinadores de que o artista se apresentasse para platéias menores, em restaurantes e boates.

Quando chegou, Prisco sentiu que precisava ensaiar as músicas do repertório, tendo em vista que o contrato especificava quais seriam as melodias, segundo cada cidade e espetáculo.

Como não podia restringir-se aos horários dos estúdios, solicitou e foi atendido no sentido de receber equipamento na casa que passou a habitar, temeroso de se instalar em um condomínio em que pudesse sofrer as reclamações dos vizinhos incomodados.

Diante do gravador sofisticado, produto da moderna eletrônica computadorizada, era capaz de modular os sons, para buscar os melhores arranjos harmônicos.

Começou por ler as partituras, imprimindo ao instrumento apenas as notas das linhas melódicas, buscando compreender os temas de cada melodia. Era um exercício leve que realizava com o máximo de satisfação.

Teria quatro dias para a estréia, necessitando comparecer ao pequeno salão para tomar contato com a companhia, entender-se com o maestro e estabelecer os solos dentro de programa mais extenso. Não seria apresentado como o artista principal, mas lhe seria dado relevo, criando-se certa expectativa pela introdução em que o mestre de cerimônias narrava brevemente os acontecimentos funestos de dois meses atrás.

Rapidamente, Prisco se assenhoreou das melodias, imprimindo-lhes sua personalidade apaixonada.

A estréia repisou o sucesso costumeiro, deixando o público entusiasmado, a ponto de chamá-lo ao palco por duas vezes, obrigando-o a novos números.

Contentes ficaram os agenciadores, principalmente porque os jornalistas convidados teceram elogios na justa medida da empolgação da platéia. A afluência de público aumentou consideravelmente, havendo necessidade de se ampliar a participação do artista brasileiro, com outras execuções em destaque diante da banda.

Era o espírito do profissional que se reavivava, tanto que Prisco passou a trabalhar de manhã e à tarde, descansando um pouco antes de adentrar os palcos.

O primeiro mês foi de adaptação e fixação do repertório. Ao abrir-se o segundo mês, novas casas de espetáculos se acresceram, ampliando-se o horizonte artístico, favorecendo desempenhos isolados, já que seu nome brilhava sozinho nos frontispícios. O restante da companhia tão-só recheava o palco, imprimindo movimento, luzes e cores ao espetáculo.

Dominando os programas, diminuiu o treinamento matinal, sem abandonar, porém, o estudo de novas melodias. Foi quando teve a idéia de verificar se seu senso artístico lhe daria a satisfação de uma composição própria.

Na primeira tentativa, alcançou uma linha temática que não foi capaz de reconhecer em nenhuma melodia de seu vasto saber musical. Aos poucos, foi desenvolvendo a canção, já dispondo um ritmo pessoal, como se retratasse a própria saudade da falecida esposa, nada, contudo, que demonstrasse desespero ou sofrimento. Terminava com acordes harmoniosos e suaves, como se estivesse agradecendo a Deus a felicidade de alguns anos de convivência com um ser eleito e especial.

O computador transcreveu as notas gravadas, de forma que acabou por, modestamente, considerar encerrada sua primeira façanha como compositor. Mas não mostrou a ousadia a ninguém. Apenas imaginou que, se fora capaz de elaborar uma peça simples, logo estaria aventurando-se por caminhos mais ásperos, íngremes e perigosos.

Na manhã seguinte, havendo descansado até às dez horas, foi diretamente para a sala de sons, preparou os instrumentos e iniciou outra composição, sem se esquecer de que deveria seguir o padrão da elaboração da anterior.

Duas horas depois, com fome, suspendeu o trabalho, absolutamente surpreendido com outra partitura completa. À tarde, ao invés de ensaiar para a noite, tentou preencher mais duas ou três páginas com outra melodia. Viu-se bloqueado. Parecia ter esvaziado o cesto de suas notas próprias. Não insistiu muito, considerando que bem poderia ocorrer de ficar exasperado, prejudicando o seu humor para o trabalho noturno.

Ao voltar aos temas do repertório, desempenhou normalmente o roteiro habitual, animando-se e prognosticando mais um sucesso. De fato, pela manhã, acordaria muito contente com a recepção calorosa do auditório, pronto para elaborar outra obra original.

Essa rotina foi cristalizando-se, de sorte que, ao cabo de quinze dias, a pasta em que guardava seus tesouros musicais já estava cheia. Foi quando, sem avisar a ninguém, ousou introduzir uma de suas peças, anunciando-a como de autor desconhecido, à qual pedia a compreensão da platéia. Escolheu a primeira composição, que, para surpresa sua, estava impressa indelevelmente em sua memória motora, tanto que a execução se deu impecável.

Tendo sido um momento de profundo sentimentalismo, comoveu o público que, ao término, aplaudiu com o mesmo entusiasmo das demais. Intrometeu-se o apresentador, encantado com a melodia, exigindo que o artista declinasse o nome do autor.

Num espanhol escorreito, sem sotaque, Prisco explicou que, verdadeiramente, não sabia a quem atribuir a música, que recebera em casa, esquecendo-se de esclarecer que fora por via mediúnica, conforme vinha desconfiando há algum tempo.

Essa novidade se incrustou no programa, acrescentando os patrocinadores a exigência de registro de autoria, de forma que, oficialmente, o médium passou a exercer o direito de perceber pelas composições.

Eis como Prisco formou um fundo financeiro para eventuais contribuições às entidades de assistência aos necessitados. Quatro meses depois, em férias no Brasil, distribuiu parte do dinheiro anonimamente, criando, no Centro Espírita “Caminho da Luz”, um departamento para atender a crianças com qualquer tipo de dificuldade. Mirtes foi convocada e aceitou prontamente o convite para gerenciar o fundo, com a obrigação de ocultar o nome do principal benfeitor.

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