confesso, tenho ternura,
uma grande ternura pelo mundo.
mas tenho também uma dureza,
um não perdão,
um orgulho tamanho,
que me escapa a delicadeza.
choro por pouco.
um passarinho morto,
uma injustiça,
qualquer pequena impotência
me enlouquece.
queria, como a Emília de Lobato,
ser dona do mundo.
aí lembro das flores pra cuidar,
dos versos que querem ganhar mundo,
do lume que fabrico,
do meu amor silencioso
a sofrer sua própria loucura
e me aquieto.
não quero falar.
quero apenas ter em mim
esse sentimento do mundo.
é hora, então, de aquietar.
tomar uma longa taça de vinho,
buscar palavras, perfumes.
então, eu sonho.
e no meu sonho eu vejo
a outra mulher.
uma mulher comum.
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