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Contos-->LOUCO DE ATIRAR PEDRAS -- 04/09/2002 - 23:19 (guido carlos piva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
LOUCO DE ATIRAR PEDRA












Eufrázio, Pedrão e Paulistinha eram amigos há muito tempo. Raras eram as sextas-feiras que deixa-vam de se reunir na velha padaria do Sr. Meireles. Tal-vez por isso, naquela noite, quando o Eufrázio viu o Pe-drão chegar sem a companhia do amigo Paulistinha, se admirou:
— Ué... Pedrão?! E o Paulistinha!? Não veio com você?
— Nem passei na casa dele. Vim sozinho. Coitado Eufrázio... Ele ficou louco!... A vida apronta cada uma!
— O quê! LOUCO?! O Paulistinha? Você deve estar brincando?! Ainda semana passada ele esteve aqui... ! Achei-o risonho demais... Mas louco?!
— Pois é, ele ficou totalmente louco!
— Quem diria... O Paulistinha! Justamente ele que sempre soube tirar de letra todo e qualquer problema! Louco?! Você está brincando Pedrão?
— O pior é que não estou. Pelo jeito não tem mais cura!
— Pêra aí... Da maneira que você fala... A coisa é séria!
— Séria? Põe seriedade nisso! Você sabe, ele sempre encarou a vida na esportiva... No entanto, a-gora tenho certeza: ficou irremediavelmente lelé da cuca. Eu já estava desconfiado, mas depois do que ele fez... Não tenho mais dúvidas: ele está louco mesmo!
— Puxa!... Pedrão, conta logo... O que ele fez?
— Calma Eufrázio... Você sabe... O Paulistinha está desempregado há dois anos!
— Bem, isso eu sei... Depois que a fábrica, em que sempre trabalhou, fechou, nunca mais arrumou empre-go!
— Pois é... A mulher dele é professora... Ganha três salários mínimos por mês. É ela quem paga o alu-guel, o sustento da casa, dos três filhos... E há dois a-nos, o do próprio Paulistinha. Sem contar com o filho mais velho que nasceu com aquele problema de saúde... Tem que fazer fisioterapia duas vezes por semana. O Estado não cobre o custo do tratamento, no entanto, ele sempre levou tudo numa boa.
— Mas e aquela tia... Aquela que o ajudava finan-ceiramente?
— A dona Sebastiana? Parou de mandar dinheiro... A lojinha de roupas que ela tinha não agüentou a reces-são. Faliu! Coitada, entrou para a turma dos brasileiros desesperados! É ou não é para se ficar maluco?
— Maluco?!... Põe maluco nisso! Mas me diz, foi por tudo isso que o Paulistinha ficou louco?
— Tudo isso realmente deve ter ajudado; a coisa é muito pior. Na semana passada, o Paulistinha tentou arrumar uma vaga na faculdade para a sua filha e não conseguiu, agora: ou ele arruma dinheiro para poder pagar uma particular, ou a filha tem que parar de estu-dar! Você sabe... Cultura e Educação em nosso país pa-recem brincadeira! Para piorar ainda mais, nessas suas andanças em ter que procurar uma vaga foi assaltado duas vezes: uma, em pleno Metrô... Outra, nem chegou a ver, só quando chegou em casa foi perceber que la-drões tinham surrupiado tudo de sua casa. Não sobrou nada... Nem as latas de leite em pó que o Meireles havia dado pra ele!
— Coitado do Paulistinha... Então foi por esse mo-tivo que você está achando que ele acabou ficando lou-co?
— Eufrázio... Fosse só por isso, até que daria para se entender... Quem não ficaria louco no lugar dele? Só que ele nem se preocupou, fez até piada com o aconte-cimento! A coisa é muito mais séria do que você está imaginando! Sabe, eu não acho que ele está ficando... Com certeza ele ESTÁ louco!
— Puxa Pedrão... Não é pra menos, com tudo isso acontecendo: desempregado, o filho doente, sem assis-tência do governo, ele e a família sem segurança... Só falta ficar sem casa para morar!
— CASA! Ainda tem, pelo menos por mais uns quinze dias... Da maneira que o proprietário aumentou o aluguel, ele não tem outro jeito, vai ter que morar embaixo da ponte... Já recebeu o aviso de despejo. Um oficial de justiça deu prazo para ele sair: quinze dias!
— O quê?! QUINZE DIAS!?... Agora entendi, não é à toa que tenha ficado louco!
— Antes fosse... Por tudo daria até para se enten-der. Só que o que ele fez foi demais! Tenho certeza ab-soluta: o Paulistinha ficou doido varrido!
— Mas Pedrão... Se por tudo que ele está passan-do nunca endoidou, por que você tem tanta certeza que só agora ele ficou doido? Conta logo... Por favor, O que ele fez para lhe dar tanta certeza que ele ficou de fato doido?
— Eu também sempre pensei assim... Você o viu semana passada, ria como se nada estivesse aconte-cendo! Ele sempre foi assim, nunca levou nada a sério! O motivo é outro, muito mais sério!... Eu vou contar: Como você sabe, domingo passado aconteceu a eleição para eleger o nosso novo Governador. Sei lá o motivo... O que sei é que o Paulistinha foi preso por estar fazen-do boca de urna... De bonezinho, camiseta e bandeiri-nha! Quando fiquei sabendo da notícia, fui na delegacia para ver o que poderia fazer por ele... Ah! Eufrázio, você não vai acreditar! Quando cheguei, logo quis saber, contado por ele mesmo, o que tinha ocorrido:
— Oi Paulistinha... O que aconteceu?
— Não se preocupe Pedrão! Fui preso... Mas valeu a pena! Consegui arrumar uns trinta votos para o meu candidato... O Aidemim Laranja. Ele foi reeleito!
— O QUÊ?! Você votou pro AIDEMIM LARANJA!? DE NOVO!?!?
— Claro... Você não ouviu como ele continua fa-lando bonito! Ele ajudou a acabar com a inflação! Agora ele vai dar um jeito na saúde, na segurança, na Educa-ção. Vai arrumar a casa de vez, você vai ver! O cara é bom! Pode crer Pedrão! Ele tem que continuar por mais quatro anos!
— Quando ouvi isso me deu vontade de chorar! Você ouviu, Eufrázio... Parece brincadeira, mas é a mais pura verdade! Foi aí, justamente aí... Não tive mais dú-vidas: o Paulistinha ficou mesmo doido varrido! Tanto é verdade que, quando sai, o rádio da delegacia estava anunciando o novo governador de São Paulo, eleito ou-tra vez: AIDEMIM LARANJA. E o pior, o Paulistinha gri-tava feliz: “OBA!... FERRAMO A OPOSIÇÃO!”
É Eufrázio... Como eu disse, não tem jeito, o nosso amigo Paulistinha ficou louco... Louco de atirar pedra!


O que sobrou da história:

PARA BOM ENTENDEDOR... UM VOTO BASTA
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