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Erotico-->26. NA VOLTA À ESPANHA -- 19/11/2002 - 08:50 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Depois de uma semana de intrigantes debates médicos e filosóficos a respeito da cura repentina do músico, este recebeu um chamado dos empresários que o mantinham sob contrato, de sorte que se encerrou o período de convalescença.

No avião, durante a longa viagem, repassou os últimos acontecimentos da vida, estranhando, desde logo, que, pela primeira vez, curtia o vôo como um passeio, conversando com os que demonstravam temor e entretendo os que apreciavam as melodias andaluzas.

Durante o repouso obrigatório nas longas horas ali preso, viu-se perante a explicação do médico para a recuperação tão pronta, com a qual não concordava inteiramente, apesar de engenhosa:

“Eu não me lembro de ter ficado exercitando os músculos como se estivesse empunhando o violão. Certamente, se eu tivesse ficado preocupado em estimular as reações segundo as notas das músicas, teria mantido os músculos em atividade. Mas eu não fiz isso, absolutamente.”

Passando da imaginação ao fato, debaixo do cobertor, como se ainda estivesse engessado, tentou imitar os movimentos da mão esquerda ao premer as cordas. Era algo que não se recordava de ter feito. Os dedos se mexiam e o pulso mantinha uma posição dobrada que, nos tempos em que esteve paralisado, não teria condições de realizar. Além do mais, recordava-se de que a mão havia doído até o dia em que exerceu a mediunidade no centro.

Esta lembrança levou-o à próxima reunião, em que permaneceu atento e desperto, sem haver transmitido nenhuma mensagem da espiritualidade. Não se deixou empolgar por qualquer magnetismo, de sorte que pôde ouvir todas as comunicações. Na discussão que se seguiu, chegou-se à conclusão de que, dessa feita, era para ele ouvir e não falar, tendo Vadão aventado a hipótese de que o retorno às atividades musicais suprira as necessidades de expressão do inconsciente, de forma que Prisco se achava plenamente realizado e feliz, incapaz, portanto, de se sentir bem com o fato de enunciar problemas alheios de espíritos sofredores. Manuel concordou, aduzindo também que era muito importante que houvesse junto à mesa médiuns de sustentação, que permanecessem concentrados, para fornecimento de energia fluídica para a realização dos trabalhos. Prisco sorriu com o debate que se seguiu a respeito da falta de propriedade da expressão “energia fluídica” ou “fluido energético”, como verdadeira redundância doutrinária ou científica.

“Pode ser que eles tivessem razão, mas eu suspeito de que estava sendo preparado para longo período longe dos trabalhos mediúnicos, uma vez que não terei tempo, mesmo que conhecesse bons centros na Europa, para dedicar-me a tal mister, ainda mais porque a minha atividade é noturna e não acho que haveria reunião durante o dia.”

Esta reflexão levou-o a pensar seriamente em tentar contato solitário com a espiritualidade, para o que necessitaria usar o gravador empregado nos ensaios particulares. Recordou-se de que poderia redigir em transe ditados psicografados, deixando para depois uma decisão nesse sentido. Poderia, se quisesse, acender a luz de sua poltrona, tendo como escrever ali mesmo, mas pensou que seria uma novidade absoluta, pelo menos para ele, que alguém se atrevesse a atrair espíritos em trânsito, a quase mil quilômetros por hora.

Definitivamente, rejeitou a idéia, o que o levou a considerar a conversa que tivera com Janete naquela mesma noite, após a sessão a que ele fizera questão de levá-la para desfazer a má impressão da semana anterior. Foram a uma cantina italiana onde jamais estivera e onde não foi reconhecido, de modo que puderam conversar com mais intimidade. A uma observação da moça, afirmou que o regresso à Espanha restabelecia o plano anterior de ficar uma longa temporada fora e que não poderia romper o contrato, primeiro, porque as multas eram pesadas.; segundo, porque precisava muito daquele dinheiro. Ouvira Janete dizer que dinheiro era desculpa, tendo respondido que dificilmente ela poderia entender-lhe a alma de artista.

“Ela não teve coragem de me pedir em casamento. Nem fez nenhuma tentativa de insinuar-se sentimentalmente. Para mim, Eulália, se lá não esteve, deve ter emitido vibrações, tanto que fiquei bloqueado quanto a estimulá-la com carícias ou palavras carinhosas. Como eu estava frio!”

A frieza daquela noite empolgou-lhe a mente, levando-o a considerar o relacionamento com Janete uma via de duas mãos: ela vinha e ele ia. Cruzaram-se, eis tudo. De qualquer modo, imaginou como ficaria ele, se ela estivesse ali a seu lado e perturbou-se, sentindo aquela gélida impressão de novo. Positivamente, como da primeira vez, ele não iria sentir saudade.

Logo Bernardete veio bailar em sua mente. Como estava prestes a adormecer, viu-a nos braços do namorado, este conduzindo-a em rodopios apaixonados, ao som de guitarrada de mil instrumentos.

Acordou com a vizinha do lado tocando-lhe o ombro com força, pois ele estava roncando e gemendo, como se tivesse sido atingido de novo pela garrafada do Paulo.

Acomodou-se melhor e imergiu de novo no mesmo sonho, agora conduzindo ele mesmo a jovem, numa valsa alucinante, enquanto o namorado se debatia atrás de barras de ferro, preso e vigiado pela polícia espanhola, à qual não faltavam nem o uniforme nem o quepe característicos. Quando se viu a sós com a moça, beijou-a na boca, obtendo o mesmo sabor e a mesma emoção dos beijos de Eulália. Assustou-se e acordou, recordando-se integralmente do sonho.

“Preciso avaliar os meus sentimentos em relação à irmã mais nova. Pelo visto, ela me atraiu muito mais. No entanto, com Janete sou capaz de manter conversação mais adulta.; com aquela, sempre existe um sentido de desafio e de cobrança, ainda que me admire e aplauda as execuções. Penso que, se a mais nova estivesse aqui comigo, aqueceria muito mais o meu coração.”

A descoberta inquietou o artista, que não sentia, realmente, a falta nem de uma nem da outra. Foi quando deu asas à memória, recapitulando todas as faces de sua vida sexual, intrigado por estar ficando satisfeito com simples poluções noturnas, tanto que sempre tomava precauções para não manchar a roupa, com vergonha dos pais. Verificou que a providência que tomara antes do vôo fora oportuníssima e que precisava ir higienizar-se no banheiro.

Quando voltou, estava mais sereno e equilibrado, pensando agora nos próximos concertos e quais compositores deveria eleger. Afinal, provavelmente, os empresários iriam enfatizar o pronto restabelecimento, incentivando a mídia a resolver o mistério dos ossos soldados e dos músculos e tendões restabelecidos em tão pouco tempo.

Tendo voltado ao tema com que iniciara as meditações, abriu a pasta, pegou várias partituras e se pôs a estudá-las, imergindo completamente nessa atividade até o fim da viagem.

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