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Infantil-->TUCA, O TUCANO AMISTOSO -- 20/11/2017 - 22:00 (MARCIA OLIVEIRA ) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TUCA, O TUCANO AMISTOSO

Autora: Marcia Oliveira

Até seu nome era simpático: Tuca. Parece apelido de criança danada, mas ele não era danado não.
Era inquieto, como todo o tucano toco.
O tucano toco é aquele preto, com um papo branco, olhos azuis escuros e o bico enorme, amarelo e alaranjado. Existem vários tipos de tucano. Há tucano de bico verde, tucano de bico preto, tucano com bico de duas cores e outros.
Tuca, como muitos tucanos, vivia na floresta amazônica.
A floresta é muito grande. Cabe todo o mundo, até mesmo as espécies que gostam de demarcar seu território. Isto é, alguns animais se apoderam de um pedaço da floresta e consideram aquele pedaço “seu”. Brigam e expulsam qualquer outro que quiser morar ali, naquele pedaço.
Os tucanos são assim, mas eles não têm como expulsar toda a bicharada. Portanto, em “suas” árvores, vivem insetos, lagartos, lagartixas e eles aproveitam para se alimentar desses bichinhos. Além, é claro, de frutas. Eles são loucos por frutas.
Apesar de não querer ninguém morando em sua área, Tuca era uma ave muito amistosa, quer dizer, gostava de fazer amizades. Dava-se bem com todas as criaturas. Sabem por que?
Porque era educado. Quando precisava de alguma coisa, pedia com jeito, usando o “por favor”. Quando atendiam seu pedido, agradecia com um “muito obrigado”.
Além disso, gostava de elogiar. Via o voo bonito do gavião e dizia:
− Como você voa bem, gavião!
Quando ouvia o canto do uirapuru, aquele pássaro bem pequenininho, que canta super bem, falava:
− Nossa uirapuru! Eu gostaria de cantar como você.
Mesmo quando via o voo desajeitado de algum tucaninho que estava aprendendo a voar, ele elogiava:
− Muito bem, é assim mesmo que se começa!
Mas, se por acaso ouvisse um canto desafinado, daqueles de doer a alma, ficava quieto. Não ia elogiar uma coisa de que não gostava, não é mesmo? Acontece que às vezes o cantor perguntava:
− O que você achou do meu canto, Tuca?
Ele nunca dizia:
− Achei horrível.
Pensava que havia um jeito melhor de falar. Um jeito que dissesse a verdade, mas que não deixasse a criatura muito chateada. Então respondia:
− Acho que você voa melhor do que canta. Você voa muito bem!
Vejam que sabido: ao mesmo tempo em que dizia que o “cantor” não sabia cantar, elogiava uma outra coisa que o “cantor” sabia fazer.
Porque na vida é assim mesmo. A gente não é bom em tudo. Às vezes a gente não sabe fazer bem uma coisa, mas com certeza, sabe fazer bem uma outra.
Eu, por exemplo, sei inventar estórias, mas não sei desenhar. Minha amiga desenha muito bem, mas não sabe inventar estórias, nem jogar bola. Quem joga bem é um primo meu, que não sabe desenhar nem contar estórias.
Tuca tinha dois amigos que moravam na outra margem do igarapé.
Toda a manhã, encontravam-se os três, em cima de uma palmeira bem alta, para jogar “adivinhação”. Esse jogo vocês conhecem, não conhecem?
Eles jogavam mais ou menos da mesma maneira como a gente joga. Faziam uma roda. Todos os três ficavam num pé só.
Nós não precisamos ficar num pé só porque jogamos com as mãos, mas eles não têm mãos. Então jogavam com o outro pé. Com esse outro pé, colocavam o número de dedos esticados na roda, ao final do “um, dois, três. Já”.
Eles tinham de adivinhar quantos dedos ao todo estavam esticados naquela rodada.
É claro que 12 era o máximo de dedos possível, porque o tucano tem quatro dedos em cada pé. Dois para a frente e dois para trás. Um dos pés estava ocupado, agarrrando-se às palmas da palmeira, então só um ficava livre para jogar. E três vezes quatro é doze, certo?
Mas às vezes, Tuca falava: 13. Ou então: 15. E com isso criava o maior tumulto.
Os outros ficavam bravos, dizendo que o máximo eram doze dedos e que não podiam ser mais. No entanto, Tuca teimava. Insistia no número errado.
Ele sabia que era impossível. Fazia isso só para ver a reação dos amigos. Por dentro achava graça. Depois de muita discussão, acabava concordando e dizia:
− Está bem. Dez, então.
E continuavam a brincadeira.
Encontraram, certa vez, em um lugar meio afastado, um tronco de árvore quebrado. O tronco quebrou lá em cima e sua superfície era bem plana.
Tiveram então, a idéia de esculpir, com o bico, as linhas do “jogo da velha”. Esse jogo eu não vou explicar. Acho que todos conhecem.
Aquele tronco era um lugar seguro, porque era alto. Eles tinham medo de ficar em tronco baixo. Poderiam ser apanhados por humanos.
Sabiam que se fossem pegos, acabariam presos em um zoológico, ou em um viveiro, na casa de alguém. Morriam de medo disso. E com razão! Já pensaram como deve ser ruim não poder mais voar no céu?
Quase toda a tarde, quando não chovia, os três amigos pegavam suas sementes e iam para o tronco, jogar o “jogo da velha”.
Tuca tinha uma coleção de sementes linda. Era organizado e cuidava muito bem de sua coleção. Tinha sementes de ingá, seringueira, cupuaçu, mogno e jatobá.
Às vezes emprestava as sementes para os amigos. Não todas. As de jatobá nunca emprestava, porque eram especiais e ele gostava muito delas. Quer dizer, Tuca não era muito egoísta. Era só um pouquinho, porque todo o mundo tem o direito de ser um pouquinho egoísta. Não demais.
Vou contar um caso interessante, que aconteceu uma vez.
O território de Tuca era famoso por ser rico em camaleões. Filhote de camaleão é um prato bastante apreciado por tucanos. Equivale a bolo de chocolate, ou brigadeiro, para nós, humanos.
É difícil encontrar um camaleão, porque esse lagarto consegue disfarçar-se com a cor do galho onde está . Se o galho é escuro, ele fica escuro. Se é claro, ele muda sua cor e fica claro.
Mas os tucanos têm boa visão e procurando com calma, de vez em quando encontram um.
O território de Tuca era, então, uma tentação para outros tucanos.
Um dia, um tucano de bico verde, mesmo sabendo que não devia, pois ele também tinha sua área, invadiu a área de Tuca. Queria caçar filhotes de camaleão. Guloso, né?
Mas enquanto estava procurando, começou uma chuva muito forte, com ventania, raios e trovoadas.
A chuva era tão pesada que não dava para o tucano voar. Suas asas não tinham força suficiente para vencer o peso das águas. Daí que ele não podia voltar para sua casa. Tinha de esperar a chuva passar, ou pelo menos, ficar mais fraca.
Enquanto esperava, um raio cortou os galhos de uma árvore. Eles caíram em cima dele, de tal forma que o tucano de bico verde ficou preso, sem conseguir sair. Os galhos formaram uma espécie de gaiola em torno dele.
− Que azar! Estou no território de Tuca. E agora, o que será que vai acontecer?
− pensou, preocupado.
Vocês sabem que durante a chuva os animais se recolhem. Tentam se proteger em baixo de folhas grandes ou em seus ninhos, principalmente se esses ninhos são feitos dentro de ocos, isto é, de buracos nos troncos das árvores, como é o caso dos tucanos.
Tuca tinha seu oco e enquanto chovia ficou lá dentro.
Passada a chuva, resolveu esticar as asas.
Aquele tempo frio e chuvoso deu-lhe uma vontade danada de comer um camaleãozinho. A gente também gosta de bolo de chocolate em dia frio, não é mesmo?
Então Tuca se dirigiu ao lugar onde sabia ser provável encontrar camaleões.
Chegando lá, o que viu?
Isso mesmo: o tucano de bico verde preso em sua armadilha.
Ai, meu Deus!
Tuca era amistoso, gostava de qualquer tucano, gostava de gavião, de papagaio, de arara, de sabiá, de urubu, enfim, de tudo quanto era pássaro, mas dentro dele a natureza também falava alto e ele não admitia invasão. Sabia o que o tucano de bico verde tinha ido fazer lá.
Tuca ficou muito bravo e disse para si mesmo:
− E agora, o que eu faço? Deixo-o preso até morrer? Ele bem que merece uma lição. Não tem nada de vir aqui pegar camaleões. Eu não vou a seu território pegar calangos!
Calangos, como vocês devem saber, são pequenos lagartos, verdes ou marrons. Para os tucanos têm um gosto de pipoca, mais ou menos. Por isso, gostam de calangos também e no território do tucano de bico verde tinha muitos.
Tuca estava nervoso. Precisava de um tempo para se acalmar e colocar as ideias em ordem. Então voou bem alto e empoleirou-se na pontinha de um galho de castanheira, longe de tudo.
Respirou fundo várias vezes, foi se acalmando e penso assim:
− Nunca fui caçar calangos, mas se um dia me desse na cabeça e eu resolvesse ir? E se começasse a chover? E se caísse um galho? E se eu ficasse preso? Seria justo eu morrer por causa de uma única coisa errada que tivesse feito na vida? Não, eu não iria achar justo. Se não é justo para mim, também não é justo para o tucano de bico verde.
Pronto, estava resolvida a questão. Já sabia o que fazer.
Voou de volta, até onde estava o tucano de bico verde. Pousou perto da gaiola e disse o seguinte:
− Você sabe que invadiu meu território e sabe que não devia ter feito isso. Eu não gostei. Nem um pouquinho. Vou libertar você, porque é a primeira vez que o vejo por aqui. Não volte mais. Se vier, vou chamar meus amigos e arrancaremos todas as suas penas. Você vai voltar para casa pelado. A floresta inteira vai rir de você.
Dizendo isso puxou, com a força de seu bicão, o galho que estava por cima. Conseguiu arrastá-lo, deixando o tucano de bico verde sair.
Este nem agradeceu, tão assustado estava.
Saiu voando como um maluco, direto para sua casa, com medo de Tuca mudar de ideia e chamar seus amigos naquela hora mesmo. Não voltou mais. Aprendeu a respeitar o espaço dos outros.
O tempo passou e, um dia, o tucano de bico verde teve uma ideia.
Caçou um calango e foi procurar Tuca. Queria dar-lhe o calango, mas não invadiu o território. Chegou na divisa e começou a chamar Tuca o mais alto que podia:
− Tuuu-caa!
Tuca ouviu e foi falar com ele. Aí o tucano de bico verde disse:
− Desculpe, Tuca. E obrigado por salvar minha vida. Trouxe este calango para você.
Tuca não era rancoroso. Pelo contrário, era amistoso, lembram-se? Gostava de fazer novas amizades. Então respondeu:
− Está desculpado e obrigado pelo calango. Você gostaria de caçar camaleões comigo? Vamos ver se encontramos algum?
É claro que o tucano de bico verde topou.
A partir desse dia ficaram amigos. Um respeitando o território do outro. O tucano de bico verde só entrava no território de Tuca quando este o convidava e Tuca só ia ao território do amigo quando o amigo o chamava.
Na verdade, estavam sempre se convidando para jogar “adivinhação”, “jogo da velha”, apostar “voada”, pular cipó, enfim, para brincar as brincadeiras de tucano.
E assim acaba esta estória. Mas antes de colocar o ponto final, gostaria de comentar uma coisa: acho que a amizade entre as pessoas é igual à amizade entre os tucanos. Ela só é possível se as criaturas se respeitarem. O que vocês acham?
Ah, ia me esquecendo: o tucano de bico verde também tinha nome. Depois que os dois fizeram amizade Tuca quis saber o nome do amigo.
Sabem como era?
Era Bonifácio. Tuca achou engraçado e ficou com vontade de rir, mas pensou que Bonifácio ficaria triste se alguém risse na cara dele.
E ficaria mesmo: ninguém gosta que riam de si. Só os palhaços. Então Tuca disfarcou e não riu na hora. Depois se acostumou, mas até hoje dá um sorrisinho quando chega na divisa do território do amigo e grita:
− Bo-ni-fááá-cioo!











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