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Erotico-->23. A SESSÃO ESPÍRITA -- 16/11/2002 - 12:10 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Quando Prisco chegou, encontrou os amigos ao derredor da mesa em que trabalhariam mediunicamente. Não conversavam. Uns escreviam e outros liam livros ou folhetos avulsos.

Valério indicou-lhe uma cadeira ao seu lado, cochichando-lhe ao ouvido:

— Não podemos perturbar a concentração dos médiuns. Mirtes me pediu para perguntar-lhe qual é o problema que você gostaria de ver resolvido.

— A bem da verdade, o que eu gostaria mesmo é de ouvir uma palavra da minha falecida esposa. Se não for possível, que um espírito que mantenha vínculos com ela fale em seu nome. Preciso dizer a você qual é o assunto que mais me interessa?

— Se está ciente do valor de uma resposta que possa tranqüilizá-lo, não me diga mais nada. Com certeza, os guias vão ler em sua mente como num livro aberto, porque estarão ligados ao seu espírito, como se você não estivesse encarnado. Quanto à sua fratura, desejaria uma vibração para ajudar na restauração da habilidade motora?

— Não, e eu explico o porquê: é que a natureza já está a serviço dos processos materiais ou físicos. Querer mais do que já tenho, é deixar de confiar integralmente na bondade divina. Estou dizendo isto o mais humildemente que posso, porque não se trata de orgulho. Veja que estou mais preocupado com a parte moral, doutrinária e filosófica, se assim posso dizer.

— Mas, se vier uma ajuda, você não irá recusá-la, não é?!...

— Qualquer cooperação da espiritualidade será bem-vinda e, de antemão, agradeço.

— Você já assistiu a algum trabalho mediúnico?

— Vi documentários na televisão, inclusive reportagens de antigas entrevistas com vários médiuns em transe. Fora isso, nunca estive presente a uma sessão deste tipo.

— O principal conselho que posso dar-lhe é que se mantenha o mais calmo possível, esforçando-se por elevar os pensamentos, segundo os temas que forem tratados, ousando supor que estará auxiliando o grupo por meio do fornecimento de energia espiritual de categoria superior. Se achar que suas vibrações ou fluidos possam estar prejudicando o andamento da sessão, não hesite em apelar para que seu protetor lhe inspire bons sentimentos, o que você alcançará através das preces a que estiver acostumado. Nunca tome a iniciativa de falar, mesmo que esteja sentindo a presença de um irmão da espiritualidade que deseje manifestar-se através de seus instrumentos fônicos. Entretanto, se o dirigente da sessão pedir-lhe para expressar o que estiver sentindo ou solicitar-lhe uma pergunta, fique à vontade, vigiando para que os termos sejam condignos, ainda que algum sofredor lhe passe expressões menos felizes.

— Isso é possível, sem nenhum treinamento?

— Você pode ter tido um treinamento íntimo, sem ter notado. De qualquer modo, prevenir é sempre melhor do que remediar.

Naquele momento, Vadão chegou, cumprimentando discretamente cada um dos integrantes da mesa. Dirigiu-se ao fundo da sala e logo se ouviu uma música orquestrada em que Prisco reconheceu Vivaldi.

Estranhamente, as pálpebras do artista começaram a pesar-lhe, como se estivesse sendo magnetizado pelos acordes. Sentiu que havia um aroma muito sutil de rosas no ambiente, sem, contudo, interessar-se por localizar-lhe o foco. Não percebeu quanto tempo havia passado desde aquele instante até o momento em que as lâmpadas cederam a vez a uma luzinha azul que tornava as pessoas meros fantasmas em meio à forte penumbra. Não chegou a notar que o aparelho de som fora desligado, mal percebendo que Vadão havia realizado uma leitura, feito uma oração e solicitado a ajuda dos seres da espiritualidade para o bom andamento dos trabalhos.

De repente, Prisco sentiu-se transportar para um local iluminado, como se estivesse sonhando. Não opôs resistência e se preparou para algum encontro espetacular com entidade de superior quilate moral. Mas as suas impressões ficaram por aí mesmo, como se estivesse passeando em meio a nuvens espessas, cujas gotículas de vapor filtrassem a luminosidade de um corpo celeste que tornasse todo o ambiente esbranquiçado. Sentiu que pairava em paz, dentro de um conjunto harmonioso de vibrações tranqüilizadoras. Nunca estivera tão bem. Chegou a imaginar que aquele seria o paraíso, caso não estivesse preso às lembranças de uma vida inteira.

Aos poucos foi tomando tento da realidade e logo percebeu que estava de volta à consciência da hora e do lugar. Era o momento em que Vadão concluía a prece de encerramento da reunião, agradecendo efusivamente o auxílio recebido dos mentores da casa e a presença de alguns seres especialmente evocados para a ocasião.

Quando as luzes voltaram a acender, todos se manifestaram com muita simpatia para com o atarantado artista, que não sabia a que atribuir as palavras de apoio e incentivo.

— Mas eu não fiz nada!

Foi Vadão quem esclareceu:

— Você que pensa! Mais admirável ainda o seu dom mediúnico, porquanto você não se recorda de nada. Ser médium inconsciente ou mecânico de maneira tão absoluta é raríssimo. Quase sempre há a necessidade de se obstar as comunicações menos sérias, mais jocosas e até agressivas. No seu caso, as quatro entidades que se manifestaram demonstraram personalidades muito diferentes umas das outras, mas a nenhuma você permitiu que extrapolasse os limites do bom senso, apesar de todo o sofrimento que demonstravam. Se você fez isso sem saber o que estava fazendo, com certeza é prova de que foi monitorado por protetores do maior gabarito.

— Vocês vão precisar contar tudo para mim. Eu estou absolutamente por fora.

— Infelizmente, não ligamos o gravador. É a primeira vez que temos uma reunião de tamanho significado. Na próxima, não nos esqueceremos de deixar o microfone ao seu lado.

— Afinal de contas, se não era para me lembrar de nada é porque as informações não me diziam respeito.

— Ao contrário, disse-lhe Azevedo, o mais entusiasmado de todos. Você obteve as mais brilhantes...

Manuel fez questão de atalhar, acompanhando as palavras com um gesto que determinava que o outro se acalmasse:

— Por favor, amigos, se quisermos que o nosso Prisco não se envaideça, vamos conter o ímpeto dos elogios. Eu acho que ele mereceu um instante de glória. Mas quem nos garante que esse trabalhador vai sustentar seu elevado pique mediúnico? Todos aqui sabemos que uma sessão apenas não quer dizer muita coisa. Valério, resuma para ele as coisas que Eulália nos passou.

Prisco estava encantado:

— Eulália?

Valério confirmou:

— Foi como o espírito que falou em primeiro lugar se identificou.

— Vocês sabem quem é Eulália?

— Pelo que ela nos disse, prosseguiu Valério, é a sua falecida esposa.

— Ela mesma.

— Ela nos disse que está muitíssimo bem, estudando bastante e sendo assistida por um grupo de mentores, numa instituição ou colônia.

— Que provas ela deu de ser a minha esposa?

— Eu não sei se é uma prova, mas afiançou que você saberia reconhecê-la através da frase “a verdade de cada um pode ser a verdade de todos”.

— Essa frase eu dizia em caráter de brincadeira. Mas que vantagem há nisso, já que eu bem poderia repetir o que já se acha na minha cabeça?

— Eulália não se manifestou por seu intermédio. Foi Manuel quem a incorporou.

— Santo Deus! Então, era ela mesma! Que mais ela disse?

Vadão assumiu a vez das explicações:

— Talvez não seja de todo conveniente reproduzir-lhe todo o longo discurso, porque há uma passagem que poderá desgostá-lo.

— Quero saber tudo.

— Não se esqueça de que os espíritos sabiam que você não estava inteirando-se de seus dizeres. Quem sabe não era para você ficar...

— Se não fosse, eles não diriam nada.

— Talvez tenham dito para que o grupo, e não você, se compenetrasse de que, se o trabalho apareceu, é porque o trabalhador estava preparado.

— Ela desejou prevenir-me de algo importante?

— Quer mesmo saber?

— Assumo a responsabilidade.

— Pois ela disse que você a tem arrastado para todo lugar aonde vai.; que seus sentimentos em relação a ela são de espírito obsessor.; que você já tem idade, senso crítico e conhecimentos para deixá-la em paz.; que você precisa tocar sua vida para a frente.; que existem seres compromissados com você a quem você prometeu agasalho. Eu acho que são palavras muito fortes, sobre as quais você deve meditar bastante.

— Por que me deixaram de fora de tão rica comunicação?

Manuel tentou uma interpretação, começando por perguntar:

— Como é que você se sentiu durante esta hora e meia de reunião?

— Foi tanto tempo? Para mim não me pareceram mais que dez ou, no máximo, vinte minutos. Mas eu estava muito tranqüilo, como se nada pudesse perturbar-me.

— Foi o que imaginei. Se você estivesse ligado ao que estava sucedendo, provavelmente iria agitar-se, como está impressionado agora. Sua perturbação iria criar um forte obstáculo vibratório à manifestação de sua esposa. Quem sabe Manuel nem conseguisse dar permissão a que ela falasse através dele. Era bem possível que você fizesse gorar a sessão.

— Por outro lado, aparteou Valério, era preciso deixá-lo inconsciente para demonstrar que você é um tremendo médium sonâmbulo, com perdão do encômio.

Em seguida, relataram-lhe, mais ou menos, o que ele mesmo havia dito, nada que condissesse com qualquer problema de sua própria vida, o que ele fez questão de frisar. Ao cabo dos relatos, Prisco estava interessado num outro ponto:

— Esses quatro seres que representei podem ser identificados?

Vadão respondeu:

— Para mim, são entidades que foram chamadas justamente por não estarem relacionadas com nenhum de nós. Como disse Manuel, as vibrações de caráter emocional poderiam prejudicar o andamento dos trabalhos. Como não foi citado o nome de ninguém conhecido, encarnado ou não, a tarefa que desempenharam teve dois objetivos principais: primeiro, desenvolver-lhe as primícias de sua mediunidade.; segundo, treiná-los e aos do grupo de sustentação para a magnetização de outras pessoas candidatas à intermediação entre os planos. Foi um trabalho didático.

Manuel estava realmente preocupado com o bulício mental em que ficaria o novel intermediador, tanto que insistiu:

— Quando você chegar em casa — este é um aviso de quem tem muitos anos de prática —, a primeira coisa que tem de fazer é procurar ler algum trecho de “O Livro dos Médiuns”, especialmente alguns que falam a respeito do orgulho e da vaidade.

Prisco pensou em brincar, dizendo que seu maior orgulho era não ter vaidade, mas bem a tempo sofreou o impulso, atentando para a seriedade das feições do interlocutor. Então, prometeu:

— Vou ler e também vou orar uma prece que se encontra em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, aquela que pede a resistência a uma tentação.

Mirtes, que se mantivera calada o tempo todo, rapidamente abriu o livro e leu:

— “Deus todo-poderoso, não me deixe sucumbir à tentação em que forçosamente falharei. Espíritos benévolos que me protegem, afastem de mim este mau pensamento e forneçam-me a força para resistir à sugestão do mal. Caso eu sucumba, terei feito por merecer a expiação da minha falta nesta vida e na outra, porque agora eu estou livre para escolher.”

João achou que estava na hora de participar e, tendo aberto o livro em outra página, deu a Mirtes para ler:

— Prece para os médiuns, segundo parágrafo: “Se eu estiver tentado a abusar do que quer que seja, ou a ficar envaidecido da faculdade que lhe aprouve conceder-me, eu lhe rogo para retirá-la de mim, de preferência a permitir que ela seja desviada de seu alvo providencial, que é o bem de todos e meu próprio adiantamento moral.”

Todos aplaudiram a lembrança e o mais foram conversas particulares preparando a partida.

Mirtes ficou com vontade de explorar os sentimentos do amigo, mas, recordando-se de que deveria levantar bem cedo, adiou a satisfação desse desejo para um momento mais oportuno.

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