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Erotico-->20. FRUSTRAÇÕES -- 13/11/2002 - 06:44 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

A primeira conferência a que compareceram redundou na maior decepção. Esperavam que o orador discorresse sobre os aspectos científicos da doutrina de Kardec. Ao invés disso, toparam com um santarrão que se declarou ex-seminarista, eivando de citações bíblicas o discurso, que realizou em tom melodramático, abonando com passagens de diversos textos psicografados. Bordou e pintou, sobre uma tela de sentimental enlevo, o panorama do dealbar do terceiro milênio como a época em que os maus irão ser transladados para planetas menos evoluídos, já que lhes estava sendo dada a última oportunidade de regeneração, em ambiente de tanta formosura e esplendor. Disse que os próximos habitantes irão cuidar da natureza, restabelecendo os elementos primitivos, chegando a afirmar que o jardim do Éden de Adão e Eva irá ser replantado, com os frutos das árvores da sabedoria e da vida agora à disposição das criaturas.

Sussurrou Prisco ao ouvido da companheira:

— Você tem coragem de se levantar e sair?

Janete nem respondeu. Levantou, puxando o violonista pela mão boa. No caminho, passando entre os espectadores, notaram que muitos os olhavam até com certo ar de mofa ou de desprezo. Quando estavam passando pela porta principal, uma senhora que fazia as vezes de guardiã do portal da salvação, segundo o pensamento de nossa desrespeitosa personagem ex-materialista, interrogou-os:

— Os senhores não vão esperar a sessão de passes?

Buscaram-se os dois com os olhos, ficando Prisco encarregado de responder:

— Só se formos os primeiros.

— Impossível, terão de esperar na fila que a gente sempre forma a partir das primeiras cadeiras. Se voltarem para seus lugares, sairão na frente de todos os que chegaram por último.

— Então, vamos deixar para a próxima vez. Muito obrigado.

A mulher afastou-se dando passagem, não mais olhando para os dois.

No carro, Prisco perguntou a Janete:

— Será que o povo está prestando atenção verdadeiramente no que lhes está sendo dito? Não lhe parece que o interesse de todos é receber o passe mediúnico?

— Com certeza, estas pessoas são muito simples e o conferencista sabe muito bem disso. Fala em tom missionário, misturando as crenças para ressaltar a filosofia de Kardec, sob a capa religiosa de alguns autores mais condescendentes com o sentimentalismo dos que trabalham durante todo o dia e ainda encontram tempo para uma obrigação noturna. Pelo efeito que atribuem aos passes, até que eu fico muito admirada que haja gente que esqueça as diversões e que se disponha a aborrecer-se ouvindo tais baboseiras.

— Quer dizer, minha queridíssima amiga, que você se identifica com essa gente?

— Claro! Eu também dei duro o dia inteiro. Se saí duas horas antes do batente, foi para me embonecar na cabeleireira. Se você não me convida para sair, eu ia acabar dormindo, como vi várias pessoas toscanejando à minha frente.

— Toscanejando?

— Sim. Não conhece o termo?

— Não.

— No dicionário, você encontrará uma explicação mais ou menos assim: “Cabecear com sono, abrindo e fechando os olhos repetidamente.; cochilar”.

— Sabe por que eles fazem esse sacrifício?

— Não sei, meu queridíssimo amigo.

— É porque eles querem ganhar o céu, como os católicos que vão à missa e os protestantes que comparecem aos cultos.

— Pois eu acho que eles vêm para aprender.

— Aprender o quê? Isso tudo que nós ouvimos...

Prisco observou que estavam chegando ao restaurante e dirigiu a moça:

— Você pode deixar no estacionamento da casa. Quando reservei a mesa, reservei também uma vaga.

Janete manobrou o carro com perícia, confirmou a reserva e recebeu um tíquete.

Antes de entrarem, porém, puxou Prisco pela manga e disse-lhe:

— Vamos encerrar o assunto aqui fora. Lá dentro, vamos falar sobre outros assuntos de nosso interesse. O que foi que nós ouvimos?

— Eu estava dizendo que as coisas sobre as quais o expositor falava não tinham nenhum sentido perante o procedimento efetivamente espírita propugnado pelos espíritos a Kardec. Eu acho que estavam perdendo tempo.

— Só vou discordar para expor meu pensamento. Não quero discutir. Você acha uma coisa e eu acho outra. Pois bem, aquelas pessoas estavam, no mínimo, treinando a paciência, o que nos faltou.

Foi a vez de Prisco puxar Janete pela mão:

— Vamos procurar a nossa mesa e os nossos outros temas de interesse.

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