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Erotico-->19. DESDOBRAMENTOS DOS ESTUDOS -- 12/11/2002 - 07:08 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Com as dores atenuadas, Prisco podia dedicar-se às leituras, principiando pelas referências textuais assinaladas pelos amigos do centro. Percebeu que Allan Kardec esteve o tempo todo sob a guarda de espíritos da mais alta categoria, não somente pelos nomes que lhe foram passados, como pelo teor das respostas dadas aos exaustivos questionários.

“O Livro dos Espíritos” foi uma gratíssima surpresa no sentido de compreender que o Professor Rivail tinha em mais alta conta os aspectos científicos, cercando todas as informações que recebia de cuidadosas observações. Deixou-o satisfeito o fato de que o codificador acrescentava perguntas de última hora, muitas vezes por não ter ficado contente com as respostas, ou para evitar que algum descrente desse pela falta de certos detalhes.

De todas as conclusões, Prisco ia dando ciência a Janete, esta quase impedida de dar atenção aos livros, tanto o trabalho a absorvia. Aliás, desde que Prisco voltou da Espanha, ela não mais visitou os velórios, achando que iria aumentar a tristeza em que via mergulhado o amigo.

Por falar em Espanha, Bernardete ligou avisando que Paulo Henrique tinha sido apenas advertido, cabendo a quem originara o processo as custas deste, confirmando seu regresso para dentro de uma semana. Janete informou a Prisco, procurando sondá-lo a respeito de como iria receber o agressor.

— O moço, esclareceu ele, agiu sob efeito do álcool e da juventude. Vou desconsiderar outras razões, porque tenho a certeza de que contribuí para sua revolta contra a minha pessoa, muito embora inocentemente. Se ele me deixar, vou abraçá-lo para ver se deixamos tudo esquecido.

— Quanto à retirada do gesso, vai ficar mesmo para a semana que vem?

— As radiografias acusaram que os ossos estão soldados perfeitamente. Restam os tendões e os músculos. Estou com um pouco de receio.

— Vamos rezar para que os guias intercedam em seu favor.

— Cuidado porque eles podem entender que o melhor é eu ficar com a mão entrevada. A vontade de Deus é sempre imperscrutável.

— Quer dizer que você chegou à conclusão de que tudo o que acontece é pela vontade de Deus?

— Eu cheguei à conclusão de que não devo nunca usar seu nome em vão. Ao dizer que a vontade dele é imperscrutável (gostei do termo), estou reafirmando a necessidade de não utilizar o nome dele em vão, dizendo que quer isto ou não quer aquilo. Em seu conjunto de valores, os humanos, por mais alto seja o entendimento da inteligência suprema criadora de todas as coisas, não estão em condições de avaliar o que é certo e o que é errado, em função daquilo que você chama de “carma”. Quando muito, somos capazes de elaborar um código de princípios fundamentados no direito de cada um. Mas, se o espiritismo afirma que temos o direito de estabelecer o nosso próprio sofrimento, quer significar que aquele código tem de se adaptar aos rigores dos princípios, regras e normas superiores, aqueles que pautam o procedimento dos espíritos que evoluíram para mundos mais adiantados. E esses não estamos em condições de conhecer, a não ser pelas informações recebidas por via mediúnica. Ora, neste aspecto, os que trouxeram o que se decidiu chamar de “Terceira Revelação” não se cansam de dizer que não vão, nas mensagens de cunho doutrinário superior, além do entendimento dos homens. Já encontrei diversas advertências a Kardec no sentido de fazê-lo refletir a respeito de sua vontade de ir mais além do que os espíritos estavam dispostos a revelar.

— Você está aprendendo depressa demais para eu poder acompanhá-lo. Se bem entendi, está querendo dizer que acabou concordando com o Vadão quando disse que a gente não deve ter a pretensão de tudo conhecer.

— Pelas anotações que ele nos entregou, deixou claro que tal pensamento se continha nos textos de Kardec. Foi como eu encontrei as referências a que aludi.

— Isto quer dizer que nós não iremos mais pleitear as explicações que nos faltarem. Agora somos capazes de ir diretamente à fonte.

— Felizmente. O que mais me admira é que, até bem pouco tempo atrás, eu me ufanava de me declarar materialista. E eis que estou rapidamente assimilando a doutrina espírita. Quando li o primeiro livro, achei que Kardec não gostava de discutir com os incrédulos, aqueles que não acreditam na existência de Deus. Se ele me visse aceitando os cânones descritos em sua obra, ficaria muitíssimo admirado, passando a confiar mais em seu poder persuasório racional.

— Eis Mirtes presente em suas palavras: você está lendo mais nas entrelinhas do que nas linhas.

— É exatamente isso que vem acontecendo. Mas, como ainda tenho alguns dias antes de começar a fisioterapia e os exercícios com meus instrumentos, vou convidar você para me acompanhar a umas palestras que selecionei em diferentes centros e até na sede da federação. Gostaria de conhecer um pouco mais do movimento espírita, ou melhor, como é que a doutrina de Kardec tem sido aplicada no dia-a-dia das atividades humanas.

— Não me leve a mal, mas eu preferiria ir a lugares mais alegres, onde pudéssemos espairecer, ouvindo boa música espanhola. Talvez até eu o surpreenda na pista de dança.

— Tudo bem, desde que você me garanta que ninguém irá atacar-me com uma garrafa...

— Gostaria que isto se desse na sexta ou no sábado, porque posso acordar tarde no dia seguinte.

— Garrafada na sexta ou no sábado. Isto é ótimo!...

— Você me entendeu, engraçadinho...

— Sendo assim, que tal irmos ouvir uma exposição e, depois, a restaurante, cantina ou aonde você determinar?

— Acho que você está bem mais capacitado a indicar os melhores lugares, mesmo porque, acho eu, sempre é bom reservar a mesa.

— Apenas mais uma condição. Não estranhe se eu não beber nada que contenha álcool. Recomendação médica. O doutor me disse que o sistema imunológico fica prejudicado com a mistura das bebidas com os remédios que estou tomando.

— Se for para você ficar macambúzio, dispenso tudo. Acho que estamos muito bem conversando aqui em sua casa, saboreando a comidinha gostosa de sua mãe. Aliás, não pense que não reparei que seus pais sempre se subtraem, deixando-nos à vontade. Também estou notando que está um toureiro na arena, realizando uma verônica impecável, no lugar em que Eulália sorria ao seu lado, vestida de noiva. Muito simpático da parte deles, embora nada disto seja preciso.

— Você acha que algo está escrito a nosso respeito no livro do destino?

— Eu acho que, nesse livro, nós estamos escrevendo sem parar e que depende de cada um traçar as linhas de seu futuro.

Prisco estendeu o braço alcançando a mão da amiga, beijando-a respeitosamente. Era o primeiro contato físico emocional entre ambos.

Por cúmulo da coincidência, Dona Maria entrou naquele instante, rompendo o encantamento. Mas aquela semente também estava prestes a germinar.

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