"Acha-se o meio-termo e, creio eu, com ele a perfeição. É um erro pensar que não existe simbiose na escrita."
Mamãe disse ontem à noite que eu ando perdendo a mão para escrever. Segundo ela, meus textos não são mais tão bons como antigamente. O último texto que dei à ela, O Ensaio do Injustiçado, era uma espécie de desabafo escrito à s pressas, no qual eu me sentia movido por algum tipo de pressão, advinda sabe-se lá de onde, que não me deixava desgrudar o traseiro da cadeira e tampouco os dedos do teclado. O resultado, como afirmou mamãe, foi o de que "esse é o pior texto que você já escreveu, Lindolpho.". Não pude evitar a intriga e a dúvida que, desde então, pairam sobre a minha mente.
Por que?
Escreve-se um desabafo ou uma confissão na forma de texto enxuto e incisivo, alijando-o de quaisquer adereços que denotem primor para com a estética do texto. O problema foi que eu acabei invertendo tudo: o texto ficou confuso, longo, mal-escrito, subjetivo, imbecil e, como se não bastasse, a temática e a argumentação não agradavam muito minha única julgadora - mamãe.
O veredicto não me agradou, mas nem por isso vou alterar meu estilo de escrever. É até estranho o descaramento com que eu digo isso, pois se o leitor pegar um texto meu escrito há seis meses ou um ano observará, com soberba nitidez, o meu, por assim dizer, "dinamismo linguístico".
Me incomoda muito. Penso em como seria a Literatura e a arte da escrita se todos os textos e obras fossem desprovidos da "esteticidade demasiada". O que seria de Stephen King e Paulo Coelho? Isso não importa. É melhor que eu me adapte aos padrões, caso contrário não serei mais laureado por mamãe ou por quem quer que seja.
Lembrei d´O Mito da Caverna de novo. É estranha a maneira pela qual descobrimos a verdade sobre as coisas. Mas não há tempo para que se discorra acerca da subjetividade filosófica. O texto iria ficar muito confuso e mamãe iria me reprimir de novo.
Acha-se o meio-termo e, creio eu, com ele a perfeição. É um erro pensar que não existe simbiose na escrita. Existe. E eu estou, nesse exato momento, com uma dificuldade abissal em encontrá-la e em descobrir uma maneira de se encerrar esse texto com inteligência e sensatez.
Lá se vai mais um dos valores que em mim estavam arraigados - o da coerência. Se ficou bom ou não, eu não sei. Espero que a idéia central e a argumentação estejam nítidas e concisas. E espero também, é claro, que mamãe goste.
Lindolpho Cademartori
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