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Artigos-->LENI RIEFENSTAHL (uma entrevista) [1] -- 11/01/2002 - 13:04 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Em agosto, quando da estréia de seu novo filme, Leni Riefenstahl terá completado, na história do cinema, a mais longa carreira como diretora – e também a mais controversa. Em entrevista concedida ao presidente do Goethe-Institut, ela realiza um balanço.



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Entrevista conduzida por Hilmar Hoffman [DIE WELT online, 10/01/2002]

Trad.: zé pedro antunes

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Ao ler os textos de Hilmar Hoffmann sobre sua pessoa e seus filmes, Leni Riefenstahl só pode ter reconhecido um inimigo. Em: “Und die Fahne führt uns in die Ewigkeit" [E a bandeira nos conduz à eternidade], de 1986, um livro sobre a propaganda nazista no cinema, o então Delegado da Cultura em Frankfurt a descreve como “porta-bandeira do Führer no cinema fascista”. A parte formal de “Triumphs des Willens” [O Triunfo da Vontade] seria “indício suficiente de sua estética nacional-socialista, pois a coreografia óptica oferecida em formas geometricamente exercitadas reflete nada menos que a própria unidade do Estado nacional-socialista”, é o que se lê em: “111 Meisterwerke des Films” [111 obras-primas do cinema], artigo de 1989, para a Fischer-Taschenbuch. Nesse meio tempo, dissolveram-se no entanto respeitosamente as posições no fronte – e o atual presidente do Goethe-Institut e a cineasta, de 99 anos de idade, se encontraram para uma conversa amena.



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Hilmar Hoffmann: “Admirada, muito, e muito injuriada” – entre esses dois aspectos extremos, é assim que realiza o balanço de uma vida artística cheia de acontecimentos. Sua estética, ao mesmo tempo que fez escola e desencadeou conseqüências controversas, vem dividindo até hoje o mundo artístico em dois campos. No salão de danças de Mary Wigman, começou a dar os primeiros passos no mundo da arte. Por quanto tempo haveria de permanecer fiel à “mais efêmera de todas as artes” (Wigman), se um acidente não a obrigasse, já aos 21 anos de idade, a mudar de ramo?



Leni Riefenstahl: Minha resposta é simples. De corpo e alma, eu gostaria ter continuado bailarina. De tudo o que fiz na vida como artista, a dança foi o que mais me fez feliz e fascinou.



Hoffmann: Das profundezas dos seus sonhos dançarinos, logo em seu primeiro papel, no filme de Arnold Fanck “Der heilige Berg” [A montanha sagrada], de 1926, conseguiu chegar às culminâncias de uma carreira cinematográfica de rara continuidade. Logo sentiu-se atraída por alvos mais elevados: Queria moldar, você mesma, os conteúdos e sua estrutura estética. O que conseguiu de forma brilhante na estréia como diretora em “Das blaue Licht” [A luz azul], de 1932, julgamento que a visão de hoje ainda confirma. Pode-se supor, nessa obra, uma analogia a posteriori com a homenagem de Thomas Mann às alturas dos massivos alpinos, na qual exorciza “a experiência da eternidade como um sonho metafísico”, “[...] elementar no sentido da grandiosidade extra-humana”?



Riefenstahl: Devo dizer que não. Até hoje ainda não li esse texto.



Hoffmann: Antes mesmo de Adolf Hitler ter-se tornado chanceler do Reich, pode satisfazer o desejo de conhecê-lo pessoalmente. Durante um passeio ao Mar do Norte, vocês dois tiveram a oportunidade de se aprofundar numa conversa mais longa, cheia de conseqüências. O que nesse homem a fascinava tanto, mesmo antes de ele ter tomado o poder?



Riefenstahl: Vi Hitler pela primeira vez em 1932, no Palácio dos Esportes, em Berlim. Foi, aliás, a primeira manifestação política à qual estive presente. Fiquei perplexa ao constatar o extraordinário poder hipnótico exercido por Hitler sobre seus espectadores, como um hipnotizador, que a todos encantava e fascinava. Era espantoso, e a faísca saltou também para cima de mim. Era a irradiação estranhamente contagiante, que não emanava apenas dele próprio, mas também da ligação orador-público. Isso me mexeu fortemente comigo – com muita força mesmo, sem que eu pudesse refletir sobre questões de valor. Eu me perguntava que tipo de homem era aquele, capaz de produzir tal efeito, como realmente ele seria. Tinha despertado em mim a curiosidade de saber mais sobre ele, e aí me veio a idéia de conhecê-lo pessoalmente. Com grande ingenuidade, mandei uma carta à Casa Marron em Munique e solicitei uma entrevista. Para mim mesma, eu queria ter uma idéia do que seria simulação, do que seria teatro, do que seria realidade. Mas, em absoluto, eu não contava com a honra de uma resposta, que me chegou muito rapidamente.



Hoffmann: Por que a resposta veio mais rápido que o esperado?



Riefenstahl: Devo-o a um acaso. Quando Brücker, o assessor, lhe entregou a correspondência, Hitler ficou totalmente surpreso com a minha carta, porque dois dias antes, naquela aldeia do Mar do Norte, havia comentado, com o próprio assessor, sobre a coisa mais linda que já havia presenciado: a dança de Leni Riefenstahl no filme “Der heilige Berg” [A montanha sagrada].



Hoffmann: Consideraria obra do destino o fato de Hitler, naquela conversa à beira do Mar do Norte, tê-la admirado como uma mulher com consciência de si mesma, e dito que a coreografia “Tanz an das Meer” [Dança à beira-mar], em “Der heilige Berg”, era “a coisa mais linda” que já tinha visto?



Riefenstahl: Foi assim. “Das Blaue Licht” (A luz azul) só pode tê-lo impressionado, também por ter sido realizado por uma mulher. Foi o que ele me disse pessoalmente também.



Hoffmann: De qualquer modo, tal cumprimento culminou com a promessa de, uma vez chanceler do Reich, os filmes dele serem feitos por você?



Riefenstahl: Sim, para minha grande surpresa, foi o que ele me disse naquela conversa. A minha reação foi: “Não, meu Führer, isso eu não vou fazer, só consigo fazer as coisas que me vêem de dentro, pelas quais eu me sinto atraída. Não consigo fazer filmes sob encomenda”. Sendo uma reação de recusa, ele me disse que, quando estivesse mais madura e mais velha, eu haveria de entender melhor talvez as suas idéias.



[continua]
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