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Erotico-->16. PROBLEMAS -- 09/11/2002 - 07:46 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Paulo Henrique chegou todo sorrisos. Ao dar, contudo, com Prisco, fechou a cara e o coração, pois a presença física e moral do violonista ultrapassava de muito a descrição que dele havia feito Bernardete.

De fato, o jovem esperava encontrar um senhor bem mais velho, decrépito, com as olheiras mais profundas do mundo. Ao invés disso, topou com um cavalheiro vigoroso e faceiro, cheio de requebros e donaires artísticos, de mentalidade lúcida e de expressão inteligentíssima.

E a alegria de Bernardete exuberava esplêndida, como se encarnasse a própria felicidade.

Em suma, Paulo Henrique desfez-se em ciúme, pondo-se a desconfiar de que a amizade entre a mocinha e o galanteador não se restringira aos rodeios mas chegara à efetivação carnal correspondente à sensualidade que se desprendia de cada qual. Chegou a imaginar o pior, mas avaliou que a mínima relação tátil era suficiente para caracterizar um ato de traição.

Não escondeu os sentimentos mas também não os pôs às claras, obrigando a que os outros procedessem a um exercício de interpretação. Bernardete concluiu desde logo que iria ser vilipendiada. Prisco suspeitou de que haveria cenas desagradáveis em que seriam obrigados a justificar o carinhoso relacionamento.

O dia transcorreu tumultuado porque Bernardete não abriu mão de acompanhar os ensaios da tarde, levando consigo o namorado, que bem havia desejado ficar descansando da viagem, o que agravou ainda mais o azedume da primeira impressão.

No teatro, à noite, a jovem demonstrou-se a mais entusiástica em aplaudir o desempenho do artista, alheia à má vontade com que o namorado reconhecia nele o vigor, a exuberância e o requinte da apresentação. Acrescentava-se mais uma carreira de ódios íntimos à muralha de repúdio e antipatia que se criara.

Após a festiva recepção dos convidados aos camarins, saiu a companhia a festejar o sucesso, buscando tradicional casa noturna em que se serviam música, dança e pratos típicos da região.; e vinhos de toda a Espanha.

Prisco quase não bebia nessas ocasiões, porque sabia que seria chamado a uma ou duas execuções. Bernardete não se acanhava perante o copo. Dessa forma, criou-se um clima favorável a que Paulo extravasasse os sentimentos recalcados durante todo o dia. Para abastecer-se de coragem, triplicava, quadruplicava para si as taças servidas à companheira, sorvendo quantidade de bebida que ele mesmo não se lembrava de jamais haver consumido.

Alimentados e envolvidos pelo clima de euforia de todos, Prisco e Bernardete ardiam de desejo de bailar ao som da orquestra, ele, para aliviar a sobrecarga emocional do concerto.; ela, para usufruir a juventude sadia e despreocupada.

A carantonha cada vez mais fechada de Paulo, contudo, preveniu Bernardete de que o mais prudente seria ficar ao lado dele. No entanto, a fogosidade natural de seus anseios juvenis levou-a a pedir ao namorado que dançasse com ela. À vista do negaceio dele, insistiu cheia de meiguice. Tanto bastou para que o rapaz se sentisse dono da situação, fincando pé em não aceitar o convite, mal explicando que não seria capaz de desempenhar a contento os passos daquela dança frenética.

Pacientemente, Bernardete esperou que se suavizasse o ritmo, insistindo com ele quando a banda abriu espaço para os casais mais velhos. Sem ter como negar-se, Paulo deixou-se arrastar para o salão, aproveitando a confusão dos movimentos do povo ao derredor, para abraçar a namorada, transbordando em carinhos e afagos, beijando-a no pescoço e nas faces.

Os casais eram muito mais comportados, fazendo Bernardete considerar que aquele não era o momento oportuno para aquele tipo de carícia.

— Pare com isso, Paulo. Você está me deixando envergonhada.

Em lugar de atender, Paulo avançou o sinal, tentando beijá-la na boca. Bernardete precisou empurrá-lo e, com tanta força o fez, que ele deu um encontrão na dama que volteava atrás dele.

Quando Paulo se aprumou, Bernardete já tinha ido embora, ficando o moço numa roda de desconhecidos curiosos para ver até onde as coisas iam.

— “Me desculpe, signora” — improvisou, misturando os idiomas. — “Excusez-moi, please. O tropeçato”.

Percebeu-se que estava bêbedo e que tropeçara realmente. A reação das pessoas foi de riso, mas o pobre não aceitou desportivamente a situação ridícula em que se metera. Voltou para a mesa, sentou-se quase desabando na cadeira, encheu o copo e bebeu de uma só tragada. A partir daquele momento, calou-se definitivamente, deixando até de responder à solicitação de Prisco para que lhe permitisse dançar com Bernardete.

Esta, não levando em consideração o namorado, aceitou demonstrar o quanto aprendera naqueles quinze dias, envolvendo-se com Prisco num “paso doble” em que os volteios e rodopios lhe levantavam a saias e lhe exibiam as bem torneadas pernas.

Tomado de rancor, Paulo precipitou-se contra o casal, munido de uma garrafa vazia, tentando acertar o solerte bailarino, que, puxando com a mão direita a parceira para livrá-la do golpe, amparou com a esquerda o arremesso do rapaz, levando a garrafada em cheio no punho.

Logo os homens separaram os litigantes, enquanto o pessoal da segurança da casa levava embora o jovem, dando assistência ao ilustre visitante ferido.

No hospital, a radiografia demonstrou que havia vários ossos quebrados, fratura que necessitava de cirurgia para recompor a condição ideal dos movimentos da mão. A equipe médica que atendeu a Prisco, à vista de tratar-se de um guitarrista famoso, esforçou-se para prever toda a extensão dos ferimentos, preocupando-se seriamente com a possibilidade de uma seqüela com algum tipo de paralisia.

Uma semana depois, ainda engessado e a poder de tranqüilizantes e analgésicos, chegava Prisco ao Brasil, na companhia de Alfredinho, que lamentava a má sorte do funesto acontecimento.

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