Não se pode procurar o Brasil num mapa, ele está em todos os lugares, está em toda parte. “Onde quer que haja um brasileiro adulto, existe com ele o Brasil”, diz o sociólogo Roberto da Matta.
O Brasil precisa dos homens para se saber existente, mas será que o que fazemos o torna mesmo existente?
Conforme disse Drummond no poema “Hino Nacional”, importamos de tudo: educação, mulheres, música, mão-de-obra, para quê? Será que não somos capazes de “levar o Brasil nas costas?” Dessa maneira como poderemos nos intitular brasileiros? Será que não somos Norte-americanos ou Europeus?
Se analisarmos bem, não. Nós somos brasileiros sim. Temos nossa identidade, nossa cultura, mesmo que nossa verdadeira identidade seja uma “feijoada” de todas as outras identidades. O Brasil está “nas leis e nas nobres artes da política e da economia, das quais temos que falar sempre num idioma oficial e dobrando a língua; mas também na comida que comemos, na roupa que vestimos, na casa onde moramos e na mulher que amamos e adoramos”.
A identidade do Brasil está no povo, nas coisas que o povo é e faz. Está no calor humano, na amizade, no nosso carnaval (onde liberamos nosso desejos e fantasias), na nossa comida e na estética de nossas mulheres (cobiçadas em todo o mundo). O Brasil está no “jeitinho”, na mistura de raças, nas infinitas crenças e religiões, está no trabalhador que acorda cedo na segunda enquanto conta nos dedos os dias que faltam para a sexta.
São nessas associações que descobrimos o Brasil, que descobrimos o brasileiro. Sabemos que somos brasileiros porque “gostamos de feijoada e não de hambúrguer”, porque gostamos de futebol e não de beisebol, porque atravessamos um sinal fechado, estacionamos em local proibido e ainda assim pensamos estar corretos em nossa atitude. “A construção de uma identidade social, então, como a construção de uma sociedade, é feita de afirmativas e de negativas diante de certas questões”.
Para se saber quem é quem, é preciso saber do estilo de cada indivíduo, através de comparações e relações. É a sociedade que formula e nos dá certas características para sabermos o que somos, quem somos e porque somos.
Como disse Drummond: “Precisamos colonizar o Brasil!”. O Brasil existe sim, ele está em tudo e em todos, basta que nos apercebamos disso. E, quando “louvarmos” o Brasil, como ele realmente é, então sim nos sentiremos brasileiros. O que sempre fomos e há muito nos esquecemos. Talvez seja o caso de repensarmos nossa identidade.
Taitson A. L. dos Santos e Fugência diCarmina -(poeta e antropóloga, membro da OGUTUDEMO).
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