Lendo “Poemas de sala e Quarto” de Ronaldo Cunha Lima
Paulo Nunes Batista
De Ronaldo Cunha Lima
Poemas de Sala e Quarto
Leio, e, lendo, saio farto
Do banquete de obra-prima.
Pois, Ronaldo, um rei da Rima,
Reina no quarto e na sala.
A Voz da Poesia embala
O berço desse Menino
Que traz o sol nordestino
Na alma do verso e da fala.
Vê-se aqui Ronaldo Cunha
Compondo mini-poemas-
Belas, pequeninas gemas
Que cabem dentro de uma unha.
O poeta testemunha
Sua virtuosidade.
Pois, ele, que é imensidade
Encachoeirada em repente,
Contém a água da torrente
Em gotas da eternidade.
Ronaldo lima de um sopro
A textura do que escreve,
E o faz com a arte que deve
Ter o escultor com o escopo.
Da palavra ao corpo-a-corpo
Acaba por vencedor.
Da sala o luxo-esplendor,
Do quarto o cárneo ludismo
Saem com todo o preciosismo
Do Verso do Trovador.
A alma da fina ironia
Da verve paraibana
Lustra, ilumina, engelana
A ronaldina poesia.
Na sala preside o dia,
A noite no quarto mande,
Ronaldo a festa comanda
De magia e alumbramento
Nas Asas do Sentimento-
Força de Orixá de Umbanda.
Erro Ele, o Eloqüente,
Abre a boca o verso salta
Como Menino peralta
Em seu folguedo inocente.
Mas, se contem: De repente
Microdísticos pululam,
Os hai-cais caindo pulam
Da p’alma da mão poeta.
Ronaldo cunha do esteta
As jóias que se acumulam.
Ronaldo pegando um verso
O desinfeliz se lasca-
Vai do cerne para a casca,
Revira o bicho ao inverso,
Depois o repasse imerso
Num caldo bom de cultura.
A sua literatura
Não deixa nada de molho:
Enquanto o Cão pisca o olho,
Olha do verso a figura!
Se alguém a Ronaldo acoche
Pode crer que está perdido,
Que ele pronto, de sentido,
Da poesia acende a tocha.
Ronaldo fogo não nega-
O verso não lhe escorrega,
Mas sai contado e medido,
Pesado, leve, florido
Como mulher que se entrega.
Nos poemas dessa obra
De Sala e Quarto, Ronaldo
Deixa o positivo saldo
Que em beleza se desdobra.
Sagacidade de cobra
Cheia de botes poéticos.
Na sala- os preceitos éticos,
De etiquetas a presença.;
No quarto- a folga, e licença
Dos poemas assimétricos.
R- de Raio ligeiro.;
C- de Canto e Cantoria.;
L- de Luz de Poesia
Deixando o sabor e o cheiro.
É o poeta verdadeiro
Que pra quem gosta faz sala.
R.C.L. se instala
Da Poética no leito:
Passa a vida do seu jeito
Na cara. Mas sonha e cala.
Colar de pérolas, brilha
Esse atrativo volume-
Onde o quarto tem ciúme
Do relógio em sua trilha
Que as horas contando empilha
Roubando do quarto o clima...
Quarto embaixo, sala em cima.
Depois do prazer, o sono.
E a poesia com seu dono
Que é Ronaldo Cunha Lima.
Anápolis, 03-02-1997.
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