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Contos-->Feliz Aniversário -- 19/06/2000 - 19:23 (Marilene Caon pieruccini) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
FELIZ ANIVERSÁRIO...



Há vinte e três anos o dia nove de maio era a véspera do Dia das Mães. (Nem sei porque lembrei disso agora... Provavelmente, porque, se fecho os olhos, ainda sinto o seu calor, a sua maciez, o seu cheiro... Cômica e ortodoxa associação: você odiava o odor de leite, dizia que lembrava queijo azedo...)
Meus braços guardam a forma de seu corpo, numa insana nina de amor, como insanos são meus sonhos, quando penso em você. Seus imensos olhos escuros, luzeiros profundos, marcaram para sempre minha alma. E, em noites frias como a de hoje, se o sereno disfarça os passos, que ecoam na madrugada, ouço o pio da coruja, acordando os meus temores. E eu cubro minha cabeça, assustada, com medo de escutar o silêncio de sua partida.
Nossa casa nunca mais foi a mesma, emudecida de sua melodia, calada de sua voz; como nunca mais foi o mesmo o meu coração, trespassado com as Sete Espadas de dor de Maria...
Quanta saudade eu sinto de você!
Milhares de realizações foram perdidas no desatino de sua ida; milhões de beijos foram congelados pela sina, que traçou a caminhada sem rumo, desesperada de sua vida; e uma única amargura vicejou, impiedosa: eu, apenas eu.
Cadê você?
Perdi o doce encanto de seu afeto. Estou calada no leito vazio de sua ausência. Gelada, escuto um chamado, que não vem; ouço uma porta que não abre; espero um beijo que não recebo.
Olho, através da vidraça, a noite enfumaçada, que teima em disfarçar o brilho das estrelas por entre nuvens de chumbo e me confundo, pois foi também em chumbo que se transformou o mistério de minha dor, assim tão de repente, como de repente desaba um temporal de verão.
Procurei-o, em vão, em todos os rostos que encontrei; em tantos que abracei e beijei. Escutei-o em todos os acordes que tocaram, mas nunca mais foi de novo você.
Mudei.
De meus olhos o pranto já não escorre, porém eles perderam o brilho, que parece ter ficado preso na mangueira da solidão. Já não sou mais, exatamente assim, aquele alguém, que “aqui”, além de todos os jardins, tinha você...
Perdi.
O jeito fácil de escrever rimas foi-se embora, montado no cavalo negro de seu abandono. Quem hoje olha para mim, não consegue ver a alma de poeta, que um dia foi a minha.
Parei.
Meus passos estão cansados, doídos. Esperam um sonho, que está esquecido, perdido no fundo das histórias das minhas lembranças de outrora, onde você, ao meu lado, sonhava com as tropilhas redomãs de incógnitos amanhãs.
Calei.
Minha voz envelheceu a repetição sentida dos nomes, que foram seus e que desapareceram na ilusão de até breves, transformados na crua verdade do nunca mais.
Para onde foi você?
Esqueci.
Minha voz se tornou incapaz de entoar o “parabéns a você”, e o tempo se encarregou de o compor, em meu coração, como um antigo lamento de solitárias nenias, que no inverno eterno de sua falta, debulha-se, como se debulham os milhos maduros do mês de junho.
Porque?
As janelas debruçam-se para a mesmice de todos os dias, os quais se sucedem na linha do tempo inexorável (ou seria eu, que me sucedo?...) Ao meu redor, a vida acontece. Às vezes, as chuvas de julho parecem nunca acabar, até que de repente, volta o sol, volta a alegria (só você é que não volta...), e eu me recolho nas minhas incertas certezas da alma, para poder, quem sabe, imaginar...
Você...
Os sonhos, os sons, os ideais, as esperanças e a fé, que em agosto plantaríamos para, enfim, florescerem na primavera de setembro e serem colhidos em outubro, ainda que ele fosse tinto de vermelho, como vermelho fica o céu nas tardes tristes de novembro... Descubro que sou ninguém, porque alguém não vem mais.
O abraço de dezembro derreteu no suor de janeiro e fevereiro.
Março doeu no peito, reabrindo a ferida de meu coração estraçalhado.
A melancolia do outono desfolhou o roseiral, como desfolho imaginárias margaridas na inocente brincadeira do “volta”, “não volta”, “volta”, “não volta”... (Engraçado como até elas se tornaram cúmplices dos fados, já que suas pétalas sempre se terminam no “não volta”...)
Também em abril você não veio, nem mesmo para me desejar feliz aniversário, daquele jeito tão seu, sempre esperando que a meia noite passasse, para ser o primeiro a me abraçar.
Então me convenci da dura realidade que significa o nunca mais!
Entendi.
Mesmo que retornem os meses, cumprindo o círculo da mandala da existência, é preciso aceitar, que a morte é o único tempo, do qual nunca se pode voltar, meu filho querido.










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